PF prende delegado por venda ilegal de cassiterita e madeira no Amazonas


Por: Letícia Misna*

21 de novembro de 2024
PF prende delegado por venda ilegal de cassiterita e madeira no Amazonas
Delegado de Polícia Civil Mário Melo (Composição:Weslley Santos/CENARIUM)

MANAUS – A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira, 21, a Operação Triunvirato, com o objetivo de desarticular um esquema criminoso envolvendo a venda ilegal de bens apreendidos, como madeira e cassiterita, além de pagamento de propina e lavagem de dinheiro no município de Humaitá, localizado a 590 quilômetros de Manaus.

A investigação revelou um esquema de corrupção que contava com a participação de um delegado da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), um secretário municipal de Infraestrutura e um advogado. Os envolvidos se utilizavam de suas posições de confiança para desviar e comercializar bens apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e que eram encaminhados à Delegacia Especializada de Polícia (DEP) de Humaitá. Segundo apurou a CENARIUM, trata-se do delegado de Polícia Civil Mário Melo.

De acordo com nota da PF, naquela unidade policial, os proprietários dos carregamentos apreendidos, por meio do advogado alvo da operação, realizavam pagamento de propina para reaver os bens, parte do qual era destinado ao delegado investigado.

Momento da busca e apreensão (Reprodução/Polícia Federal)

Para garantir êxito no esquema, além de ludibriar o Ministério Público e o Poder Judiciário, os envolvidos simulavam a destinação das apreensões à Secretaria Municipal de Obras em Humaitá, com o apoio do secretário da pasta.

O trabalho investigativo apontou, ainda, a venda ilegal de, aproximadamente, três toneladas de cassiterita, minério responsável para produção de estanho, os quais também estavam sob custódia da PC-AM.

A PF afirmou que, entre os métodos fraudulentos, destacava-se a utilização de empresas de fachada para ocultar a origem dos valores ilícitos. O esquema gerou prejuízos significativos ao patrimônio público e ao meio ambiente.

Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva expedido em desfavor do delegado Mário Melo, além da determinação de sequestro de bens, que totalizam aproximadamente R$ 10 milhões, valores estes obtidos por meio do esquema. As ações ocorreram simultaneamente em Manaus-AM, Itacoatiara-AM e Humaitá-AM, visando a coleta de provas e a desarticulação completa do grupo.

Os envolvidos responderão pelos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com penas que poderão chegar a 34 anos de reclusão.

Resposta

Em nota, a PC-AM ressaltou que “não tolera qualquer tipo de irregularidade ou desvio de conduta por parte de seus servidores” e que está “colaborando ativamente com as investigações conduzidas pela PF, a fim de garantir a elucidação total dos fatos”.

“Em relação à prisão de um delegado, a Instituição reforça seu compromisso com a transparência e assegura que as investigações seguirão todos os trâmites legais para apurar os fatos e as responsabilidades”, disse a PC, informando ainda que o caso será encaminhado à Corregedoria-Geral do Sistema de Segurança Pública, que instaurará um procedimento administrativo para investigar todos os aspectos envolvidos na ocorrência.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AM), por sua vez, relatou que acompanhou o cumprimento do mandado judicial, “prestando toda a assistência institucional e fiscalizando a legalidade do ato”, mas destacou que “não houve expedição de mandado de prisão contra nenhum advogado”, contrariando a informação divulgada pela PF.

A reportagem da CENARIUM também tentou contato com a Prefeitura de Humaitá, mas, até o fim desta edição, não obteve retorno.

Ficha criminal

Essa não é a primeira vez que Mário Sérgio Leite de Melo é preso. Em 2013, quando exercia o cargo de delegado do município de Maués (a 276 quilômetros de Manaus), foi investigado sob acusação de diversos crimes, junto a outros policiais, como tortura, homicídio tentado, lesão corporal de natureza gravíssima, abuso de autoridade, peculato, prevaricação, usurpação da função pública, omissão de socorro e formação de quadrilha.

Mário e os demais envolvidos chegaram a ser considerados foragidos na época, mas dias depois do decreto de prisão preventiva, entregaram-se às autoridades. Em 2021 o processo foi “extinto 2021 por ausência das condições da ação”.

Vida política

Em 2018, o delegado, que é natural de Presidente Dutra, na Bahia, tentou a entrar na política, candidatando-se a deputado estadual do Amazonas pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas não conseguiu ser eleito. Em 2022 concorreu ao mesmo cargo, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e também não garantiu a vitória.

Já nas últimas duas eleições municipais, em 2020 e 2024, tentou eleger-se como prefeito de Urucurituba (a 208 quilômetros de Manaus), pelo PTB e PSB, respectivamente, perdendo em ambas.

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(*) Com informações da Polícia Federal

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