Polícia indicia Cileide Moussallem por ameaça de morte a Paula Litaiff


Por: Marcela Leiros e Ana Pastana

15 de maio de 2025
Polícia indicia Cileide Moussallem por ameaça de morte a Paula Litaiff
Cileide Moussallem foi indiciada por injúria, difamação e ameaça (Composição: Lucas Oliveira/Cenarium)

MANAUS (AM) – A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) indiciou a blogueira Cileide Moussallem, proprietária do blog CM7, pelos crimes de injúria, difamação e ameaça contra a jornalista Paula Litaiff, diretora-geral da REVISTA CENARIUM. Os fatos ocorreram em novembro de 2024 e envolvem, inclusive, ameaças direcionadas às filhas da profissional.

A materialidade dos delitos foi concluída pelo delegado Henrique Brasil Couto Batista, titular da Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes Cibernéticos (Dercc), no âmbito do Inquérito Policial 1683/2025 – DERCC/PC-AM. A autoridade policial cita que, após a investigação, com depoimentos de testemunhas e outras provas, foi constatada a autoria e existência dos crimes citados.

Diante do exposto, restando assim provada, os indícios de autoria e existindo provas de materialidade do delito, consoante aos depoimentos, reconhecimento, confissão e demais provas materiais, indiciamos a nacional Cileide Moussallem Rodrigues pela prática do delito de Injúria tipificado no Art. 140 caput do CPB, Difamação tipificado no Art. 139 do CPB, ameaça tipificado no Art. 147 do CAPUT do CPB, tendo como vítima Maria Paula Litaiff Gonçalves“, consta no documento.

Trecho do relatório do inquérito policial (Reprodução)

O relatório do inquérito policial detalha que os fatos narrados ocorreram em 11 de novembro do ano passado, por meio do grupo de WhatsApp “Jornalistas AM“, que tinha, na época, 270 membros. Moussallem e Litaiff estavam entre os participantes. Os ataques tiveram início no grupo, após a publicação de uma reportagem sobre Cileide Moussallem na REVISTA CENARIUM, de propriedade da jornalista Paula Litaiff.

“Através de mensagens escritas, Cileide afirmou que, se algo acontecesse com o marido ou filhos dela, a declarante ‘pagaria caro’; e ainda mencionou que pagariam suas filhas; que ela mencionou. De forma clara e direta à declarante e suas filhas e, que seriam alvos de consequências; que as ameaças seguiram com expressões como: ‘Essa imundície vai pagar caro’, ‘Ela vai ter o que merece’, ‘o que me acontecerem até no inferno’, demonstrando uma clara intenção de causar medo e coagir a declarante“, também consta no documento.

Trecho do relatório do inquérito policial (Reprodução)

Ainda consta no relatório a citação ao áudio vazado dias depois, no dia 13 de novembro, no qual Cileide fala em contratar “pistoleiros” em São Paulo para matar Litaiff. “[…] Foi publicado um áudio no Portal Imediato, (https://imediatoonline.com/), local, a informação que própria Cileide Moussallem Rodrigues estaria em São Paulo/SP à procura de pessoas para pedir ‘recomendações’ de ‘pistoleiros’ que estivessem dispostos a assassinar Litaiff. Declarou que iria encontrar a declarante, independentemente de ser presa por isso“, foi relatado em outro trecho.

Trecho do relatório do inquérito policial (Reprodução)

O inquérito foi remetido à Justiça no dia 20 de janeiro de 2025 e agora aguarda os desdobramentos judiciais.

Entenda o caso

Em 11 de novembro do ano passado, a diretora-geral da CENARIUM, jornalista Paula Litaiff, e as filhas, uma criança de 9 e outra de 10 anos de idade, receberam ameaças de morte feitas pela blogueira e dona do portal CM7, Cileide Moussallem, em um grupo de WhatsApp com 270 integrantes, dentre eles jornalistas. As ameaças contra Litaiff e as filhas foram proferidas pela blogueira por meio de mensagens de texto.

(…) Ela vai pagar caro (…) Ela tem filhas. Ela sabe onde está se metendo. Quem paga são os filhos. A vida tem volta (…) Pode escrever. Vai ter o que merece. Ela tem filhas. Paula Litaiff, meus filhos te acharam até o inferno. Agora vou ter que te achar nem que seja no inferno (sic)“, disse Cileide em um grupo de conversa do WhatsApp, identificado como “Jornalistas AM“.

No dia 13 de novembro, o Portal Imediato, com sede em Manaus (AM), teve acesso a um áudio de Cileide no qual a blogueira afirmava que iria “matar” Paula Litaiff. “Sangue. Eu vou matar ela nem que eu vá presa”, diz o áudio, atribuído à blogueira.

A motivação das ameaças de Cileide contra Paula e as filhas foi uma reportagem investigativa da CENARIUM, veiculada em 8 de novembro de 2024, que cita o esposo da blogueira, Janary Wanderlei Gomes Rodrigues, alvo do Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e do Ministério Público Federal (MPF), por irregularidades em contratos públicos da empresa Provisa, administrada por Janary.

A rede hospitalar Hapvida, que compra opções de planos de saúde da empresa Provisa, teve problemas em um contrato no valor de R$ 87 milhões com a Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc/AM). O contrato foi rescindido após denúncias de má gestão, ineficiência no atendimento aos servidores e riscos financeiros da operadora.

Leia também: Após ameaças, jornalista Paula Litaiff recebe apoio de entidades nacionais de imprensa
Abraji acionou SSP-AM

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), com sede em São Paulo (SP), chegou a acionar a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e o MP-AM para que os órgãos responsáveis apurassem o caso.

“A Abraji já apelou à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas e ao Ministério Público para que apurem a denúncia com rigor e celeridade. Por se tratar de um episódio de violência relativo a uma publicação de reportagem, as ameaças se tornam também um atentado contra a liberdade de imprensa, acabando por atingir toda a comunidade jornalística”, afirma um trecho da nota da associação.

Nota da Abraji (Reprodução)

Em outro trecho da nota publicada pela Abraji, na época, a associação cita o áudio divulgado por Cileide. “A autoria das ameaças é atribuída a Cileide Moussallem, dona do Site CM7, cuja empresa do marido foi objeto de reportagem da Cenarium. Em suas redes sociais, Moussallem negou ter ameaçado Paula Litaiff e afirmou estar em São Paulo acompanhando o marido em uma cirurgia de coluna. No entanto, ainda na quarta-feira, o site Imediato, de Manaus, divulgou um áudio afirmando se tratar de Moussallem ameaçando a vida de Litaiff“, acrescenta.

Apoio

Outras entidades nacionais também prestaram apoio à jornalista, como é o caso da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por meio de redes sociais e por nota publicada pelo Sindicato dos Profissionais Jornalistas do Amazonas (Sinjor-AM), e a Associação de Jornalismo Digital (Ajor).

Com sede em Brasília, a Fenaj, por meio do Sinjor-AM, reforçou a necessidade da instauração imediata de inquérito policial pela Delegacia Geral de Polícia Civil, coordenada pela SSP-AM, para apuração com celeridade das denúncias e a manifestação da Justiça. A nota também pediu que fosse garantido o direito à ampla defesa da denunciada, como preceitua o Estado Democrático de Direito.

A Ajor, com sede em São Paulo (SP), também repudiou as ameaças contra a jornalista amazonense e reiterou a importância da investigação rigorosa. De acordo com a entidade, é inaceitável que uma jornalista e a família sejam atacadas por exercer jornalismo de interesse público.

Paula utilizou as redes sociais, na época, para agradecer o apoio e as manifestações de solidariedade de colegas profissionais e da sociedade civil e confiou, desde o início, na seriedade e competência do Poder Judiciário para investigar o caso. “Registrei a denúncia e confio plenamente que a polícia e o Judiciário do Amazonas adotarão as medidas cabíveis, conforme a lei”, disse.

Leia também: Abraji aciona SSP-AM e MP-AM para apurar ameaças contra jornalista Paula Litaiff

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