Polícia prende homem suspeito de atentado contra cacique no Pará


17 de maio de 2023
Polícia prende homem suspeito de atentado contra cacique no Pará
Policiais civis do Pará em escolta do suspeito de atirar em cacique no interior do Estado (Divulgação/PC-PA)
Michel Jorge – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – A Polícia Civil do Pará (PC-PA) prendeu em flagrante o suspeito da tentativa de homicídio contra o cacique Lúcio Tembé, na noite de terça-feira, 16, em Tomé-Açu (a 113 quilômetros de Belém). A polícia afirma que o acusado, Juscelino Ramos Dias, conhecido por “Passarinho”, estava levando substâncias ilícitas para dentro do território, o que teria levado ao desentendimento com o cacique.

O delegado geral da PC, Walter Rezende, concedeu entrevista para detalhar sobre a captura do suspeito. “Com o intenso trabalho das equipes, foi possível reunir elementos informativos comprobatórios da autoria do crime e, inclusive, a possível motivação, que seria a venda de substâncias ilícitas em terras indígenas, o que não era aceito por Lúcio Tembé”, disse.

Paratê Tembé, filho do cacique Lúcio Tembé, reunido com indígenas da terra indígena no Pará (Atila Augusto/Divulgação)

Por meio das redes sociais, o filho do líder indígena Paratê Tembé se pronunciou sobre a prisão. “Agradeço todo o esforço dos órgãos de segurança pública do nosso Estado, ao governador Helder Barbalho, e a todos os envolvidos, ao Ministério Público Federal, à Secretaria dos Direitos Humanos e todos que se empenharam na cobrança para que se fizesse a prisão imediata de qualquer suspeito do atentado contra a vida de meu pai”, disse.

O caso

O atentado contra o cacique Lúcio Tembé ocorreu na madrugada de domingo, 14, na comemoração do Dia das Mães, na região do Vale do Acará, nordeste paraense. O líder indígena se dirigia pela estrada que dá acesso a sua aldeia, o território indígena Turé-Mariquita. A situação acontece em meio aos conflitos envolvendo a produtora de óleo de palma Brasil BioFuels (BBF) e a luta dos povos tradicionais contra a invasão da empresa no território.

O cacique foi levado às pressas para a unidade de saúde mais próxima, onde precisou aguardar por 10 horas, para então ser transferido a um leito no hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, em Ananindeua. Os tiros foram feitos contra o rosto do líder indígena e o atingiram de raspão, ferindo a vítima na região do pescoço. Embora a sua situação seja grave, Lúcio Tembé segue estável, sob cuidados médicos, e aguarda procedimentos cirúrgicos.

Policiais civis escoltando o suspeito de atirar no cacique Tembé (Divulgação/PC-PA)

Providências

Na tarde de segunda-feira, 15, o Ministério Público Federal (MPF) convocou reunião em caráter de emergência, na sede, em Belém, para tratar do atentado contra a liderança. Durante a reunião, diversas lideranças de comunidades tradicionais da região criticaram a omissão do Estado em garantir a segurança destas populações.

“Quem puxou o gatilho foi o dedo do Estado”, disse o coordenador-geral da Associação dos Moradores e Agricultores Remanescentes Quilombolas do Alto Acará (Amarqualta), Paulo Nunes, em uma declaração em referência à tentativa de homicídio por Lúcio Tembé.

Em desacordo com a afirmação, o secretário adjunto de operações da Secretaria de Segurança Pública (Segup), Luciano de Oliveira, defende que as forças policiais são imparciais nas suas ações. “Para que os conflitos acabem, é preciso que o Poder Judiciário e os órgãos fundiários resolvam a questão do direito à terra”, reforçou Oliveira.

O cacique Lúcio Tembé em palestra sobre a causa indígena (Reprodução/Redes Sociais)

Entre as resoluções da reunião, ficou determinada a criação de um comitê de crise, que reunirá órgãos de segurança, em parceria com representantes da sociedade civil, para intervir na violação dos direitos dessas comunidades e combater os crimes cometidos pelo conflito agrário, independente das demarcações oficiais do território.

Histórico

Nesta quarta-feira, 17, completa um mês do pedido de prisão feito pelo Ministério Público do Pará (MP-PA) contra o dono da maior produtora de óleo de palma da América Latina – Brasil BioFuels (BBF). Segundo a denúncia do MP-PA, a empresa seria a responsável pelos ataques e tortura de membros das comunidades tradicionais que lutam contra o avanço da produção de dendê.

O MPF no Pará reafirma o compromisso da instituição com as vítimas. “É mais um triste episódio de grave violação de direitos humanos na Amazônia. Todo processo de implantação de grandes projetos precisa ser revisto e levar em consideração os direitos das comunidades tradicionais que são vilipendiados diariamente. Sobre a tentativa de homicídio contra o cacique Tembé, ainda é cedo para apontar culpados, mas o MPF acompanhará de perto as investigações”, declarou.

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