Políticas socioambientais para mulheres da floresta frente à crise climática


Por: Iraildes Caldas

19 de novembro de 2025

O trabalho na Amazônia é travejado por relações mais amplas que norteiam a vida de mulheres e homens neste continente das águas. O trabalho aparece imbricado com uma vivência que campeia de forma interativa com o meio ambiente, enfrentando todos os riscos das questões climáticas e ambientais. A sociedade precisa compreender a questão ambiental da Amazônia como uma questão social, dentro da dinâmica da ciência e dentro do movimento ambiental como força política. Não basta compreendermos a Amazônia só em sua importância para a estabilidade termodinâmica, química e climática do planeta. Torna-se urgente pôr em curso a ideia-força do desenvolvimento sustentável, transformando este conceito em ações de políticas públicas e em condutas éticas de cuidado para com o meio ambiente por parte dos humanos.

A política pública, conforme Torres (2012), é, em última análise, a produção da própria vida social. Pensar política pública é pensar em arena política, é pensar em mudança e transformação social. Significa pensar o papel das pesquisadoras e pesquisadores no desenvolvimento social dos povos, e o lugar dos movimentos sociais dentro do conhecimento. Aquilo que Bourdieu (2011) chama de objetivação participante. As pesquisadoras e pesquisadores precisam também falar de políticas públicas com engajamento, fazendo o papel indutor na interlocução política para que o Estado ouça os movimentos sociais em suas demandas. Do contrário, continuaremos reproduzindo as estruturas de poder que estão postas secularmente em nossa região.

Os discursos produzidos sobre desenvolvimento são discursos de poder. O rural é o espaço de dominação das forças tradicionais, grotões do coronelismo. O agronegócio avança por toda a parte no território brasileiro, expulsando famílias de agricultores e povos tradicionais de suas terras. É preciso haver um ordenamento da vida social na área rural, na Amazônia profunda. A política pública é o espaço da negociação desse reordenamento. As políticas públicas voltadas às mulheres, sujeitos mais atingidos pela crise climática e ambiental, devem vir ao encontro do desenvolvimento social destas mulheres, devem contribuir com a produção de suas vidas dentro da floresta.

A Unesco (2009) chama a atenção para a necessidade de incluir as mulheres rurais nas políticas públicas. Desde a Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, em 1995, a ONU sinaliza com a prerrogativa de incluir o corte de gênero nas políticas públicas dos países signatários. Uma das descobertas de Pequim é que as mulheres podem representar o equilíbrio nas perspectivas da sustentabilidade.

Política para o enfrentamento da pobreza energética deve ser prioritária para as mulheres da floresta, que se veem excluídas desse processo de desenvolvimento. Outras políticas, como moeda local (banco do povo), para evitar deslocamentos delas de comunidades aos centros urbanos a fim de receber o Bolsa Família; Seguro Defeso para Mulheres; Linha de Crédito para Mulheres, o que as possibilitará construir casas de farinha e criar algum negócio no âmbito da economia feminista.

Enfim, as mulheres precisam de política de encanamento de água para fazer chegar o líquido até suas casas, evitando carregar lata d’água na cabeça nas grandes estiagens, acarretando problemas para a sua saúde. Elas necessitam de política de proteção e de enfrentamento da violência doméstica, na Amazônia profunda, garantindo também dignidade menstrual e política de creche às mães da área rural.

Essas são as políticas mais urgentes que o Estado brasileiro precisa atender, como um clamor das mulheres, um grito forte pela vida. As mulheres precisam ter o direito à vida, elas estão vivendo no fio da navalha do perigo junto com a floresta. As mulheres querem a floresta viva e, para contribuir com este bioma, elas necessitam de políticas públicas.

(*)Professora titular da Universidade Federal do Amazonas e doutora em Antropologia Social.

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