Poluição do ar no Amazonas reduz expectativa de vida em 1,2 ano, alerta coordenador do EducAir


14 de julho de 2024
Rodrigo Souza is the coordinator of the EducAir project (Luiz André Nascimento/CENARIUM)
Rodrigo Souza is the coordinator of the EducAir project (Luiz André Nascimento/CENARIUM)

Carol Veras – Da Cenarium

MANAUS (AM) – A qualidade do ar está diminuindo a expectativa de vida da população amazonense. À CENARIUM, o pesquisador em meteorologia e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Rodrigo Souza, coordenador do projeto EducAir, relata que na região com a maior concentração de florestas do Brasil a expectativa de vida é 1,2 ano menor por conta da alta concentração de micropartículas poluentes encontradas no ar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a concentração média anual de material particulado fino no ar não ultrapasse 5 µg/m³ (microgramas por metro cúbico). No Amazonas, a concentração equivale, atualmente, a 16 microgramas, três vezes mais que o recomendado.

Professor Rodrigo Souza explica funcionamento da estação de monitoramento (Luiz André Nascimento/CENARIUM)

“A gente está falando de partículas que entram nas suas vias aéreas superiores, atingem os seus pulmões e podem ocasionar em condições mais sérias de saúde”, alerta o professor à CENARIUM.

Em 2023, durante o período intenso de queimadas — de agosto a novembro — Manaus foi considerada a capital com a pior qualidade do ar devido ao grande número de queimadas que atingiram o Amazonas no período. Os dados são do Relatório Mundial da Qualidade do Ar.

Este ano, o Labclim, centro de pesquisa e prognóstico climático da UEA, prevê um período de seca tão intenso quanto o do ano passado. Por isso, Souza discorre: “O oxigênio é tão importante quanto a água, você consegue decidir não tomar um banho de rio, mas não consegue parar de respirar. O ar é inegociável“, declara.

As pesquisas são parte do projeto EducAir, organizado por Rodrigo Souza. A princípio, a iniciativa nasceu como um projeto de extensão financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), mas logo se tornou fonte de monitoramento da qualidade do ar e queimadas na Amazônia por causa dos equipamentos e dados adquiridos por meio das informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Professor Rodrigo Souza em entrevista à CENARIUM (Luiz André Nascimento/CENARIUM)

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Com o aumento dos desastres naturais, especialmente as queimadas na Amazônia Brasileira, a criação de um programa de educação ambiental em qualidade do ar e vigilância ambiental fez-se necessária. O EducAir tem como objetivo visitar escolas da rede pública da capital para fornecer dados climáticos e conscientizar crianças e adolescentes sobre a importância da preservação da qualidade do ar.

A proposta também inclui o monitoramento da qualidade do ar no Amazonas por meio de dispositivos distribuídos em diversas áreas da capital e do interior. O projeto possui uma parceria direta com o Ministério Público do Amazonas (MP-AM), onde parte das multas ambientais são convertidas em mecanismos de supervisão. Os dados podem ser acessados na plataforma Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva).

Aplicado Selva foi desenvolvido pelo EducAir (Luiz André Nascimento/CENARIUM)

O software foi desenvolvido pela necessidade de tornar público os dados monitorados pelo EducAir. Utilizado como base para a imprensa durante os períodos de queimadas em 2023, o projeto conta com monitoramento físico, por meio das estações, mas também pelo monitoramento virtual da qualidade do ar, com dados de satélites de modelagem numérica.

Os indicadores de qualidade variam entre “boa“, a partir entre 0 e 25 microgramas de partículas poluentes por metro cúbico; “moderada” (25); “ruim” (50); “muito ruim” (75); e “péssimo” (125). Em 2023, os indicadores alternaram entre péssimo e muito ruim, valores muito acima dos recomendados pela OMS.

Representação dos indicadores no período de seca na região amazônica (Reprodução/Selva)

O programa conta com um sistema de notificações. Basta baixar o aplicativo oficial do Selva, disponível para dispositivos Android e iOS, fazer o cadastro e o usuário será notificado quanto à qualidade do ar na região. “Existem três níveis de notificações para qualidade do ar: ruim, muito ruim e péssima, onde pedimos para denunciarem as queimadas”, relata o coordenador do EducAir.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) e a Defesa Civil do Amazonas, também em conjunto com a iniciativa, adquiriram os sensores para acompanhar a qualidade do ar durante o período de estiagem previsto para a segunda metade do ano. “A Sema reivindicou 90 estações para distribuir na Região Metropolitana de Manaus“, comenta o professor. As estações adquiridas pelo MP-AM serão direcionadas à região Sul do Estado.

Preocupação

Em 2024, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) visa atualizar os valores estabelecidos recomendados de média anual de material particulado fino no ar, anteriormente determinados pelo Instituto Nacional de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e aprovados pelo próprio conselho, em 1990.

A nova proposta é que os níveis “normais” sejam 60 microgramas por metro cúbico por dia. Contudo, esse é o valor que corresponde ao indicador “ruim” no aplicativo Selva e vai contra as indicações da própria OMS, que recomenda 15 microgramas diários. “Nesse caso, vamos dar preferência para o modelo estabelecido pela OMS”, conclui Souza.

Estação de monitoramento da qualidade do ar (Luiz André Nascimento/CENARIUM)
Leia também: ‘Labclim’: pesquisador da UEA alerta para intensidade da seca no Amazonas neste ano
Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona

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