Por que a Amazônia teve queda histórica nas queimadas em 2025?


Por: Marcela Leiros

25 de setembro de 2025
Por que a Amazônia teve queda histórica nas queimadas em 2025?
Queimada florestal em Lábrea, no Sul do Amazonas (2.out.21 - Ana Jaguatirica/Cenarium)

MANAUS (AM) – Os focos de queimadas na Amazônia brasileira reduziram 84,5% entre 2024 e 2025, segundo dados verificados pela CENARIUM na plataforma BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A reportagem analisou o período de 24 de julho a 24 de setembro, nos dois anos. A redução, considerada histórica, teve influência da seca mais branda na região, segundo avaliou o doutorando em Clima e Ambiente e integrante do Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Renato Trevisan Signori.

Civis tentam contem fogo em Lábrea, no Sul do Amazonas (2.out.21-Ana Jaguatirica/Cenarium)

Nestes dois meses verificados em 2025, a região contabilizou 12.754 focos de queimadas, número drasticamente menor que o observado no mesmo intervalo de 2024, quando foram registradas 82.327 focos. Para o especialista ouvido pela reportagem, a queda está ligada a uma combinação de fatores, sendo a estiagem na região o principal deles.

Em 2023 e 2024, — a gente pode dizer que foi uma seca que durou dois anos — a de 2024 foi a maior seca já registrada, pelo menos desde 1901. Aconteceu que mesmo o desmatamento caindo, mesmo com as políticas públicas em nível federal, estadual e municipal sendo adotadas, o ambiente estava muito propício à queimada. Você tem menos humidade, menos chuva, o ambiente fica mais seco e aí é mais fácil que pegue fogo“, observou Signori.

O doutorando em Clima e Ambiente Renato Trevisan Signori (Ricardo Oliveira/Cenarium)

No ano passado, os rios atingiram os menores níveis da série histórica, conforme medições feitas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). O órgão apontou que, no período entre 1º de setembro de 2023 e o final de outubro de 2024, o monitoramento na Bacia do Rio Amazonas, por exemplo, constatou 85 mínimas histórica.

Já em 2025, o cenário mudou. “A gente está vivendo um ano normal em termos climatológicos, com relação à chuva, até um pouquinho mais, acima da média, e isso está impactando (…) Então, quando você tem a política pública sendo feita, de combate, desmatamento, e o clima ajudando, você tem uma redução de foco de queimadas“, completou Renato Trevisan Signori.

 Fumaça de queimadas no Porto de Manaus, no Amazonas (4.nov.23 – Ricardo Oliveira/Cenarium)
Onde começa o fogo?

Na região predominam três tipos principais de incêndios. O primeiro é diretamente associado ao desmatamento: após a derrubada da vegetação, o fogo é usado para limpar a área e substituir a cobertura do solo. O segundo é o fogo de manejo, empregado em áreas já abertas para pastagem ou agricultura. O terceiro ocorre quando as chamas escapam dessas áreas e invadem a floresta em pé.

De acordo com o Mapbiomas, em 2024, a Amazônia foi o bioma mais afetado do País. Os 17,9 milhões de hectares queimados ao longo do ano passado corresponderam a mais da metade (58%) de toda a área queimada no Brasil no período, e é a maior área queimada dos últimos seis anos no bioma. A formação florestal foi a classe de vegetação nativa que mais queimou na Amazônia: cerca de 6,8 milhões de hectares, superando a área queimada da classe de pastagem, que foi de 5,8 milhões de hectares. 

Queimada e área verde no interior do Amazonas (Ana Jaguatirica/Cenarium)

Um dado preocupante é que a classe de formação florestal foi a mais atingida, superando pela primeira vez as áreas de pastagens, que tradicionalmente eram as mais afetadas. Essa mudança no padrão de queimadas é alarmante, pois as áreas de floresta atingidas pelo fogo tornam-se mais suscetíveis a novos incêndios. Vale destacar que o fogo na Amazônia não é um fenômeno natural e não faz parte de sua dinâmica ecológica, sendo um elemento introduzido por ações humanas“, comentou Felipe Martenexen, da equipe do MapBiomas Fogo, na época.

Segundo a organização, mais de 30,8 milhões de hectares foram queimados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2024, uma área maior que todo o território da Itália. O Mabiomas apontou que o número está associado aos efeitos acumulados de um longo período seco que afetou grande parte do País, associado ao fenômeno “El Niño” entre 2023 e 2024, classificado como de intensidade moderada a forte. Com a baixa umidade, a vegetação fica mais suscetível ao fogo.

Desmatamento e queimada na Floresta Amazônica (21.out.18 – Ricardo Oliveira/Cenarium)

O doutor em Clima e Ambiente Renato Trevisan Signori avaliou que, para este ano, a tendência é que continue um ano com “pouquíssima queimada“. “O prognóstico fica muito bom para 2025“, concluiu ele.

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.