Por troca de favores e cargos, PF investiga empresas públicas e privadas em Manaus
22 de junho de 2023

Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – A Polícia Federal (PF), em ação conjunta com o Ministério Público Estadual (MPAM) e a Receita Federal (RF), realizaram a “Operação Dente de Marfim” nesta quinta-feira, 22, tendo como alvo 34 pessoas físicas e jurídicas investigadas por sonegação fiscal, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e corrupção. As investigações envolvem empresas privadas e a Secretaria Municipal de Limpeza Pública em Manaus.
As investigações partiram de um relatório financeiro apresentado pela Receita Federal, que identificou irregularidades nas emissões de notas fiscais relacionadas a uma empresa de conservação, construção e pavimentação contratada sem licitação pelo executivo municipal na gestão entre os anos de 2016 e 2020. Essa contratação continuou na gestão de 2021 a 2022, sendo encerrada posteriormente.
Leia mais: PF bloqueia R$ 30 milhões e cumpre mandados em condomínio de luxo em Manaus

Segundo as investigações, um escritório de advocacia também fazia parte da organização, ajudando na fraude de notas fiscais com valores acima do mercado. Além disso, a Polícia Federal identificou que a relação entre os envolvidos também tinha um aspecto estrutural, envolvendo nomeações para cargos e troca de favores. Isso inclui o pagamento de vantagens indevidas ao gestor da Secretaria de Limpeza Pública de Manaus.
“Várias outras empresas emitiam notas fraudulentas em favor da empresa investigada, assim como o escritório de advocacia, que supostamente prestava serviço de consultoria jurídica. A investigação conseguiu identificar e uma das empresas chegou a emitir notas fiscais equivalente a 50 mil metros quadrados de vidro, para se ter uma ideia. Esse quantitativo corresponde ao maior edifício do País, que fica em Balneário Camboriú. Então, é algo que simplesmente não corresponde a realidade“, ressaltou o chefe da Delegacia de Repreensão à Corrupção e Crimes Financeiros da Polícia Federal, João Marcello Uchoa.
Leia mais: Cinco pessoas são presas em operação contra empresas de limpeza pública em Manaus

O objetivo da operação, nesse primeiro momento, é reunir mais provas que indiquem o destino desses recursos, além de identificar outros agentes públicos que possam estar envolvidos. Até o momento, foram emitidos 15 mandados de busca e apreensão, e um valor de R$ 30 milhões foi bloqueado dos investigados.
“A gente acredita que houve alguma desavença entre os empresários e a gestão municipal, o que resultou na saída dela da execução desse serviço. De todo modo, ela chegou a ser beneficiada com um novo contrato de menor valor em outra secretaria e continuou executando esse serviço dentro dessa relação com a Prefeitura de Manaus“, pontuou o delegado João Marcello.

De acordo com Marcello, operações anteriores e denúncias contra a empresa investigada ajudaram a identificar as relações entre os alvos da investigação atual. “Conseguimos confirmar alguns relacionamentos, por exemplo, a investigação conseguiu um documento que confirma que uma das notas fiscais era direcionada a um coordenador de campanha de um partido político da gestão passada“, diz. “Como a investigação gira em torno do contrato, e ele já foi encerrado, a falta de contemporaneidade para executar esse tipo de medida não foi objeto da investigação, por isso, não houve prisões“, justifica.
Em nota, a Prefeitura de Manaus informou que apoia irrestritamente as investigações conduzidas pela Polícia Federal no âmbito da Secretaria Municipal de Limpeza Pública. “Prezando pela total transparência, a Prefeitura prestará todas as informações necessárias para a apuração“, escreve.