Por vídeo, Bolsonaro e Fernández fazem primeira reunião bilateral entre Brasil e Argentina

O presidente argentino, Alberto Fernández (de costas), em reunião com o presidente Jair Bolsonaro, que está acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha (Foto: Casa Rosada)

Com informações do G1

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro teve nesta segunda-feira, 30, a primeira reunião com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. A conversa foi por videoconferência.

Foi a primeira agenda bilateral entre os dois chefes de estado. Ambos já participaram de encontros com outros presidentes, como as reuniões de cúpula do Mercosul.

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A reunião desta segunda-feira, porém, ainda não havia sido incluída na agenda oficial de Bolsonaro até a última atualização desta reportagem. O G1 questionou o Planalto sobre o motivo de o compromisso não estar na agenda, mas não havia recebido resposta até a última atualização desta reportagem.

A conversa por vídeo ocorreu quase um ano após o início do governo de Fernández. O argentino tomou posse em 10 de dezembro de 2019. Bolsonaro não quis ir à posse. Na ocasião, o vice-presidente Hamilton Mourão representou o Brasil na cerimônia – foi a primeira vez desde 2003 que um presidente brasileiro não esteve na posse de seu par argentino.

A reunião ocorreu no Dia da Amizade entre os dois países, celebrado em 30 de novembro. Em 2020, comemora-se o 35º aniversário da reunião entre os presidentes José Sarney (Brasil) e Raúl Alfonsín (Argentina), realizada em 1985 em Foz do Iguaçu e que lançou as bases para a criação do Mercosul.

Bolsonaro fez a videoconferência no Palácio da Alvorada, em Brasília, acompanhado do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha. José Sarney (1985-1989) também participou da videoconferência, mas, pelas imagens divulgadas, não estava no mesmo local de Bolsonaro.

Fernández, por sua vez, estava na residência oficial de Olivos, ao lado do embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, e do chanceler Felipe Solá.

Após a videoconferência, o governo argentino divulgou uma nota, na qual relatou que Fernández disse para deixar as “diferenças do passado e encarar o futuro com ferramentas que funcionem bem” de forma a potencializar “pontos de acordo”.

Fernandéz celebrou o encontro por, segundo ele, dar ao Mercosul o “impulso” que o bloco sul-americano (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) necessita e disse que Brasil e Argentina podem fazer isso juntos.

A nota também informou que houve uma cerimônia de celebração do Dia da Amizade entre os países. Segundo Fernández, foi há 35 anos que se começou a pensar na integração da América do Sul.

O governo argentino afirmou que os dois países avançam na cooperação em áreas como segurança e Forças Armadas e que há oportunidade para prover Argentina e Brasil com gás. Fernández, segundo a nota, ainda disse que o tema ambiental preocupa.

“Temos que trabalhar juntos o tema ambiental, que é um assunto que nos preocupa muito. Devemos fazer um acordo de preservação”, disse o argentino.

Conforme a nota, Bolsonaro destacou a importância do Mercosul, a necessidade de dar ao bloco mecanismos mais ágeis, a intenção de avançar na cooperação na área de turismo e na parceria entre as Forças Armadas de Brasil e Argentina para fortalecer o combate ao tráfico de drogas e demais crimes transnacionais.

Atritos

Bolsonaro e Fernández têm uma relação marcada por críticas, em especial do brasileiro, que se define como um político de direita, enquanto o peronista é um político de esquerda. O presidente argentino tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, aliada dos governos petistas no Brasil.

O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, articulou nos últimos meses a conversa entre Bolsonaro e Fernández. Ex-governador de Buenos Aires e vice-presidente de Néstor Kirchner, Scioli declarou, em agosto, que Fernández desejava deixar “desencontros” com Bolsonaro para trás.

Em 2019, Bolsonaro defendeu reiteradas vezes a reeleição do então presidente Mauricio Macri, de tendência liberal, que perdeu no primeiro turno para Fernandéz.

Bolsonaro chegou a dizer que, se Fernández fosse eleito, a Argentina se tornaria uma “nova Venezuela”, com êxodo de argentinos para o Rio Grande do Sul, assim como venezuelanos fugiram para Roraima.

Ainda na campanha, Fernandéz respondeu: “Em termos políticos, eu não tenho nada a ver com Bolsonaro. Comemoro enormemente que fale mal de mim. É um racista, um misógino, um violento”.

Mais tarde, Fernández disse que errou ao entrar no debate com Bolsonaro e que deveria trabalhar para preservar o vínculo entre os países vizinhos.

Bolsonaro, contudo, manteve as críticas após a posse do argentino, que governa um país que passa por uma longa crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus. Os dois presidentes divergem na estratégia. O argentino adotou quarentenas rígidas, enquanto Bolsonaro é crítico do isolamento social e do uso de máscara.

O argentino adotou quarentenas rígidas, enquanto Bolsonaro é crítico do isolamento social e do uso de máscara.

Por outro lado, eles convergem no sentido de não obrigar a população a tomar a futura vacina da Covid-19. Fernández afirmou na semana passada que a vacina será gratuita, mas não será obrigatória. Bolsonaro já disse ser contra a obrigatoriedade da vacina.

Em agosto, por exemplo, Bolsonaro criticou a gestão de Fernández e disse que isso é o que o povo argentino “merece”. O presidente brasileiro se referiu à Argentina para rebater críticas dos próprios apoiadores. Segundo ele, o mesmo aconteceu com Macri.

“O que aconteceu? Voltou a ‘esquerdalha’ da Cristina Kirchner. Tome conhecimento o que está acontecendo na Argentina. E detalhe: vi na imprensa hoje que o presidente vai legalizar o aborto na Argentina. Tá aí, povo argentino, lamento, é o que vocês merecem”, disse Bolsonaro na oportunidade.

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