Pós-Covid-19: especialistas recomendam cuidados no retorno dos atletas ao esporte

Estudo conjunto de entidades médicas reforçam a necessidade de seguir a diretriz com exames e protocolo para cada modalidade (Brenno Carvalho/Agência O Globo)

Com informações do O Globo

Os estudos das reações orgânicas pós-Covid-19 começam a clarear os cuidados que atletas, amadores ou profissionais, integrantes ou não de clubes, precisam ter necessariamente para superar as fragilidades no organismo, mesmo após a recuperação. No esforço cotidiano de superar seus próprios recordes e cumprir metas definidas por seus treinadores, competidores de todas as categorias receberam na última quarta-feira recomendações explícitas da comunidade médica para jamais minimizar os riscos de uma doença que atua quando presente e, em casos demorados, deixa rastros muitas vezes invisíveis.

É o que atesta um trabalho publicado em conjunto na última semana por diversas entidades, entre elas a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte e o Grupo de Estudos de Cardiologia do Esporte. Eles reforçaram a necessidade de seguir a diretriz criada para a volta das atividades esportivas, que incluem exames e protocolos para cada tipo de atleta.

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Protocolos e exames sugeridos no pós-Covid Foto: Editoria de arte

Riscos ao coração

O cardiologista Fabrício Braga, diretor-médico do Laboratório de Performance Humana, da Casa de Saúde São José, no Rio, assim com as entidades que assinaram o manifesto, se debruça nas repercussões muitas vezes invisíveis que a doença traz aos atletas. Os casos mais importantes são a miocardite e formas de arritmia cardíaca.

Para os atletas, observou-se de fato redução da capacidade respiratória. Uma das razões é a diminuição das mitocôndrias, comple

A exaustão também tem se revelado comum entre os pacientes depois da Covid-19, atesta o médico.

“Fizemos aqui testes com 423 pessoas, que tiveram a Covid-19. Todos apresentaram cansaço — conta Braga, que também investigou a massa muscular durante o período de isolamento:

“O que pudemos observar nos estudos pós-Covid, com uma amostra de 2.700 pacientes, com ou sem a doença, foi que quando o isolamento era mais estrito, 44% tiveram a massa magra reduzida em média 700 gramas. Isso na população investigada, que pegou ou não Covid-19. Para o atleta que teve a doença grave, claro, há repercussões”, diz.

Para os atletas, observou-se de fato redução da capacidade respiratória. Uma das razões é a diminuição das mitocôndrias, complexo enzimático que produz energia. Como acontece com a doença, as repercussões e achados médicos não são os mesmos em cada paciente.

“Mas a capacidade respiratória fica nitidamente reduzida”, afirma Fabrício.

Driblando a exaustão

Ex-campeão brasileiro de squash, vencedor de campeonatos internacionais de ciclismo em sua categoria, Márcio Ribenboim, de 58 anos, acordou em 24 de outubro com sintomas leves da Covid-19. Ele, a mulher, duas filhas, o filho e duas funcionárias contraíram o Sars-CoV-2 ao mesmo tempo. A situação dele foi a mais grave — a saturação chegou a 92 e alugou um bpap para ajudar a controlar a respiração. Se exauria com tudo.

Por duas semanas foi assim: Márcio conviveu com uma doença que não se tornou gravíssima, mas lhe tirava o ânimo. O fôlego, tão importante pra suas atividades físicas e esportivas, não vinha como antes.

Foi para o Laboratório de Performance Humana que Mário correu quando descobriu a herança da Covid-19. Duas semanas antes de ter a doença, fizera exames que indicaram que estava saudável. Em 17 de novembro, em novo teste, a inflamação estava presente.

A recomendação inicial foi ficar de três a seis meses em repouso.

“Conversei com os médicos, o meu corpo sentia falta das substâncias que o esporte produz. O grande desafio era sentar e levantar”, conta Mário.

Na última sexta-feira, quase um semestre depois de ter contraído o novo coronavírus junto com a família, Márcio fez seu treino em São Conrado, com um monitor que permite aos médicos avaliar sua performance cardíaca, que já virou rotina nos dias de treino outdoor. Agora, além da bicicleta, capacete e sapatilha, Mário sabe que terá a companhia desses novos itens para se cuidar:

“Já fui campeão internacional de provas para a minha idade, claro. E estou voltando”.

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