Potencial empreendedor de mulheres negras ajuda construir uma sociedade mais justa, diz relatório


26 de julho de 2021
Potencial empreendedor de mulheres negras ajuda construir uma sociedade mais justa, diz relatório
A violência de gênero e raça também é uma barreira na política (Reprodução/Pexels Picha)
Com informações do Portal Geledés

Antes de fundar o afrobuffet Kitanda das Minas, a chef e empreendedora Priscila Novaes trabalhava como operadora de telemarketing. Influenciada pela família, ela começou a preparar salgados e bolos para festas, quando passou também a vender café da manhã na estação Guaianases, da Linha 11 – Coral da CPTM.

Na mesma época, ela ingressou em um curso técnico em gastronomia, entrou em contato com movimentos sociais e passou a atuar com a Coletiva Mulheres de Orí. Essa experiência a ajudou a transformar o modo como trabalhava, muito graças ao contato mais aprofundado com sua ancestralidade.

“Quando me conectei com as mulheres negras que vieram antes de nós, essas primeiras empreendedoras da nação – quitandeiras, baianas de acarajé e mulheres de tabuleiro -, que passaram sua sabedoria de produzir e comercializar alimentos, percebi que é algo que merece ser contado, lembrado e valorizado. Mesmo com toda essa potência, ainda ocupamos a base dessa pirâmide que sustenta a sociedade.”

A história de Priscila está longe de ser exceção. De acordo com o Relatório Especial de Empreendedorismo Feminino no Brasil, do Sebrae, 51% das mulheres negras empreendem por necessidade – para efeito de comparação, 35% das mulheres brancas estão nessa mesma realidade. Ainda, a disparidade dos indicadores de formalização é gritante: 21% das empreendedoras negras estão com esse status, ao passo que a taxa de profissionais brancas é o dobro.

No caso da fundadora do Kitanda das Minas, ela conseguiu contar com apoio para impulsionar o seu negócio: em 2016, ela foi uma das selecionadas do edital Fundo Zona Leste Sustentável, da Fundação Tide Setubal, que ofereceu formação voltada para o empreendedorismo – isso a permitiu desenvolver um plano de negócio e obter um capital semente para o crescimento do negócio.

Enfrentar desigualdades para empreender

Desigualdades socioespaciais, raciais e de gênero estão diretamente relacionadas, logo, é inviável falar em empreendedorismo sem levá-las em consideração.

De acordo com Sauanne Bispo, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação, “empreendedorismo requer conhecimento, empenho e muita determinação, características que o morador de território periférico adotou  desde sempre. Resiliência está no DNA desta persona, assim como o viés da discriminação está naquela pessoa que tem a possibilidade de dar acesso ao mercado e crédito a esse empreendedor, e que opta em negar isso”.

Alguns programas da Fundação Tide Setubal que valorizam características inerentes ao empreendedorismo e as associam a medidas para enfrentar desigualdades diversas são:

  1. Matchfunding Enfrente, realizado pela Fundação em parceria com a Benfeitoria;
  2. Edital Elas Periféricas, que está em sua terceira edição e potencializará, em parceria com o Tik Tok, mais de 60 iniciativas lideradas por mulheres negras em todo o Brasil;
  3. Empreendedoras Periféricas, executado em parceria com o Instituto Grupo Pão de Açúcar, que visa promover habilidades socioemocionais e de gestão, além de apoio financeiro individual.

O que essas ações têm em comum? Todas elas têm como foco o fortalecimento institucional de organizações e coletivos liderados por sujeitos periféricos – e, nos casos do Elas Periféricas e do Empreendedoras Periféricas, o recorte de raça e gênero é preponderante. “A Fundação Tide Setubal compreende a importância de olhar para essa intersecção, que é majoritariamente impactada com as desigualdades socioeconômicas no Brasil”, ressalta Sauanne Bispo.

O coletivo Mulheres de Orí é reflexo dessa lógica. O grupo idealizou, junto à chef Priscila Novaes, o projeto Afro Chef, selecionado na segunda edição do Elas Periféricas, realizada em 2019 – a ação era baseada no tripé composto por técnica culinária e formações em raça e gênero e em âmbito empreendedor.

Para Priscila, um dos resultados proporcionados pelo projeto Afro Chef foi o networking com demais mulheres e ações ter se tornado mais fácil.

“Quando a gente se conecta com pessoas semelhantes, entendemos que os obstáculos e desafios são parecidos e trazem um fôlego na nossa caminhada diária. A execução desse projeto foi uma troca. Nós aprendemos muito também e algumas dessas mulheres são fornecedoras da Kitanda das Minas hoje, e isso também é um resultado importante”, finaliza.

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