Povo Kuikuro fez esquema especial contra Covid-19, recebe vacina e fecha ciclo sem mortes pela doença
17 de fevereiro de 2021

Com informações do G1
CUIABÁ – Antes da pandemia chegar, os Kuikuro, povo indígena de Mato Grosso, fecharam parcerias, contrataram profissionais da saúde e se informaram sobre a Covid-19. Nesta semana, sem nenhuma morte pela doença desde o começo da pandemia, toda a comunidade se vacinou. Como foi possível manter uma aldeia inteira sem perder ninguém para o coronavírus?
Há seis meses, os Kuikuro já haviam implantado um hospital dentro do território, estavam fazendo isolamento social, e levaram para trabalhar dentro da aldeia enfermeiros e a médica Giulia Parise Balbao.
“A história é bonita porque é coletiva”, descreve Giulia. Ela foi contratada após pedir demissão do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, pela Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu. Quase todos os mais de 200 índios acabaram infectados, mas nenhum morreu devido à doença, incluindo os anciãos.
Enfim vacinados
A história é um esforço entre comunidade, lideranças, pesquisadores e profissionais da saúde.
“A gente conseguiu fazer isolamento domiciliar. Fizemos o contrato da doutora Giulia, compramos medicamentos, improvisamos o hospital. Foi uma grande experiência que tivemos”
Yanama Kuikuro, presidente da Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu.
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A comunidade aceitou se vacinar, e todos receberam a primeira dose nesta última semana, depois de meses em operação contra a doença. A confiança, segundo a médica, vem de um trabalho que deu certo e trouxe resultados melhores do que os de outras aldeias no Xingu.
Além disso, as lideranças foram se vacinar logo no início e mostraram que não havia risco para os outros indígenas. O cacique Afukaká Kuikuro e o líder Yanamá foram os primeiros do distrito sanitário indígena a receber a primeira dose – e já foram imunizados com a segunda.
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Faz parte também do esforço uma parceria com cientistas do coletivo Amazon Hopes. O grupo tem antropólogos, arqueólogos e outros pesquisadores que atuam diretamente com a associação. Desde o início, além de fazer parte da criação da estratégia, o grupo buscou esclarecer as informações sobre a doença.
“Desde o começo foi uma campanha de informação e contra a desinformação”
Bruno Moraes, arqueólogo que faz parte do coletivo.
“Toda essa campanha que a gente fez, eles [indígenas] viram que deu resultado. Eles viam que outras aldeias perdiam gente para a Covid, como primos e tios, e isso deu uma força para confiar nos profissionais de saúde dentro da comunidade. Relação de confiança completa”, explicou.
De acordo com Giulia, Yanamá e Bruno, a aldeia não quis usar o chamado “kit Covid” disponibilizado pelo governo, com medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.