Práticas sustentáveis impulsionam agricultura indígena em Roraima
Por: Ian Vitor Freitas*
07 de dezembro de 2024
Mulheres agricultoras da comunidade Camará (Reprodução/CIR)
BOA VISTA (RR) – Localizada há mais de 200 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima, a Região Baixo Cotingo é uma das etnorregiões da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, na comunidade indígena Camará, que conta com atividade de plantio desenvolvida por lideranças indígenas, mulheres, jovens e crianças. A agricultura familiar desenvolvida na comunidade mantém viva a autonomia e as práticas sustentáveis dos povos indígenas.
Em uma área com mais de um hectare e meio, a comunidade mostra para a sociedade uma história de relevância política, social e cultural dos povos de Roraima. Com uma mão de obra feita, em sua maioria, por mulheres, a região produz de forma sustentável mandiocas, milho e abóbora, além de outros vegetais, usados nas mesas dos moradores de Camará.
Milho cultivado na plantação da comunidade Camará (Reprodução/CIR)
De acordo com o Ecycle, atualmente os cultivos indígenas são chamados de “cultivos órfãos”, pois não apresentam papel significativo dentro da economia agrícola mundial. No entanto, por serem adaptados exclusivamente aos seus ambientes locais, a produção desses alimentos é mais resistente a condições climáticas adversas, o que pode ajuda em novas técnicas agrícolas.
Esta prática é valorizada no Baixo Cotingo, que no início de 2024, perdeu grande parte das sementes tradicionais em razão das queimadas e secas que atingiram o local. Segundo a coordenadora regional das mulheres, Nelia Lima, as doações da Comunidade Índígena Canauanin e Região das Serras ajudou na recuperação da roça.
“Perdemos nossas sementes tradicionais com a secas e queimadas, foi muito difícil naquele tempo, mas recebemos ajuda da comunidade Canauanin, que nos doaram manivas e hoje temos nossa roça recuperada. Na primeira colheita tiramos onze sacas de milho, já fizemos farinha, tiramos tucupi, goma e outros produtos derivados da mandioca, e somos gratos a todos pela ajuda”, relembrou.
O segundo Tuxaua da comunidade, Jonelson Macuxi, destaca que a iniciativa da doação das manivas foi importante para a comunidade continuar a produção sustentável da agricultura.
Jerimum plantado por comunitário (Reprodução/CIR)
“Os trabalhos iniciaram no dia 3 de abril. Com a participação da comunidade tem dado certo, conseguimos plantar essa roça e o objetivo é multiplicar as sementes e também ajudar outras comunidades. Eu agradeço a dona Neilandia, a tuxaua da comunidade Canauanim pela doação”, disse.
Produção da roça feita por mulheres indígenas
Para manter a produtividade na comunidade e garantir alimentos para os moradores, as atividades, comandadas por Nelia ocorrem duas vezes na semana, onde realizam a limpeza e retirada das manivas. Todo o processo é feito com uma grande participação das mulheres da comunidade, mas a base está na coletividade, com apoio dos homens, jovens e anciões.
As dificuldades enfrentadas por essas comunidades são inúmeras, principalmente com as práticas mais modernas de fazer agricultura. Apesar disso, as comunidades continuam lutando para garantir a segurança alimentar do grupo.
Nem mesmo os desafios da região, principalmente pela falta de água, prejudicaram os benefícios e os resultados do cultivo. Parte das manivas já estão quase prontas para colheita, as mandiocas grandes são o resultado do uso de adubo orgânico preparado com esterco bovino.
Os planos são aumentar a produção com feijão, abóbora, macaxeira, pimenta. Para isso, um novo local já está sendo preparado para receber as sementes, numa área que fica na serra próximo à comunidade.
A jovem Otaviana Lima, companhou o processo desde o início, afirma que a contribuição dos jovens na agricultura local é fundamental.
“Ajudei pela primeira vez, e vi que é muito importante a participação dos jovens. Aprender com os mais velhos, como se faz e cuida de uma roça, pois é daqui que tiramos o sustento da nossa família e comunidade. Eu peço que essa roça não se acabe e eu vou me esforçar para cuidar dela”, destacou.
Sem máquinas pesadas e agrotóxicos, a comunidade Camará preserva as heranças dos povos indígenas, com um trabalho feito de forma manual. A próxima colheita está próxima e logo as mesas estarão cheias de produtos saudáveis, que serão consumidos e comercializados pelos moradores da comunidade.
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