Pré-candidaturas trans começam a ser lançadas pelo País; ‘a representatividade que queremos é a que busque a emancipação de todes’

Até o momento, seis nomes que representam a população Trans já estão em pré-campanha (Isabelle Chaves/Cenarium)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A participação da população LGBTQIA+ tem sido cada vez mais presente nas eleições brasileiras. O pleito municipal de 2020, por exemplo, foi um dos que mais apresentou pré-candidatos declarados pertencentes à comunidade. Segundo dados da Aliança Nacional LGBTI, foram mais de 430 nomes cogitados para as últimas disputas eleitorais no País. Neste ano, alguns nomes já começam a ecoar, principalmente, referente à comunidade T, em busca de uma vaga no Congresso Nacional.

Segundo informações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), até o momento, seis nomes que representam a população trans, já estão em pré-campanha. São elas Erika Hilton (PSOL- SP), Érica Malunguinho (PSOL-SP), Robeyoncé Lima (PSOL-PE), Duda Salabert (PDT-MG), Indianare Siqueira (PT-RJ) e Ariadna Arantes (Sem partido).

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No Amazonas, até o momento, ainda não há um nome de destaque para disputar as eleições 2022, porém, nomes como os de Bruna La Close, Jacqueline Maldonado e Tatiana Freitas já passaram por disputas, em pleitos anteriores, na tentativa de levar representatividade e trabalhar as políticas públicas voltadas a essa parcela da população.

Na leitura da presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (Assotram), Joyce Alves, embora a participação de pessoas LGBTQIA+ seja cada vez mais frequente, nas disputas eleitorais, ainda não é disponibilizado aos candidatos o apoio necessário.

“Dentre algumas candidaturas dessas, eu vejo que algumas pessoas ainda são tratadas como candidatas laranjas, o partido lança e não apoia, só deixando acontecer por questões de cotas que eles têm que cumprir. Espero que isso mude”, comenta a presidente da Assotram.

No Amazonas, até o momento, ainda não houve um nome de destaque para disputar as eleições de 2022 (Reprodução/Internet)

Dados e Referência

Nascida no Piauí, em 24 de abril de 1949, Kátia Nogueira Tapety, aos 73 anos, é uma figura política de referência nacional. Em 1992, Kátia foi a primeira mulher transexual eleita para um cargo político, sendo a vereadora mais bem votada da época, repetindo o feito nas eleições de 1996 e 2000.

Após 30 anos do feito de Kátia Nogueira, o cenário político foi passando por transformações, monitoradas, inclusive, pela Antra que, desde 2014, acompanha pesquisa de perfil, publicação e veiculação, com compromisso, pela representatividade nas eleições.

Segundo a associação, mais de 294 travestis, mulheres transexuais e homens trans e demais pessoas trans concorreram nas eleições de 2020, das quais 30 foram eleitas, representando um aumento de 275% de pessoas trans eleitas em relação a 2016 (mesmo pleito), quando houve 89 candidaturas e apenas 8 pessoas eleitas.

Transformação substancial

Assim como a presidente da Assotram, Joyce Alves, ainda pontua a necessidade de apoio e melhorias quando a pauta é o movimento LGBT na política, para a advogada e integrante da bancada coletiva das Manas, em Manaus, Alessandrine Silva, é preciso que haja uma transformação substancial na política do País.

“Já passou da hora de termos mais mulheres, mais pessoas negras, mais pessoas LGBTQIA+ para tratar das pautas e construir uma sociedade mais igualitária. Essa mudança precisa ser urgente”, considera Alessandrine.

Ela relembra que, em média, 10% da população brasileira é LGBTQIA+, sendo fundamental que essa comunidade esteja representada nas eleições, com apoio e incentivo dos partidos políticos, e que, sejam eleitas, principalmente, para as cadeiras legislativas, promovendo a diversidade.

“Esse grupo é vítima de assassinato por homo, trans e bifobia, a cada 23 horas, no Brasil, e a expectativa de vida de homens e mulheres trans é de 35 anos. E apesar de todos esses dados dolorosos, as discussões, que ocorrem na CMM e Aleam, sobre isso, são aterrorizantes. Diariamente, as casas que deveriam ser plurais são palcos de discriminação e exclusão de pessoas como eu (bissexual) do debate sobre as cidades”, finaliza.

“Emancipação de todes”

Para Álex Sousa, pessoa trans não binária e dirigente do PSOL Amazonas, falar de representação LGBTQIA+ na política é o mínimo a se fazer. “Ter corpos LGBTQIA+ nesses espaços é muito importante para que outros corpos possam se enxergar na política. A política institucional não é fácil, e não vamos conseguir exigir as mudanças necessárias enquanto a grande maioria que ocupa esses espaços sejam corpos brancos, heterossexuais, cisgêneros e conservadores”, declarou Álex Sousa à REVISTA CENARIUM.

Na leitura da dirigente, nenhuma pessoa LGBTQIA+ é definida somente por sua identidade de gênero ou orientação sexual, pessoas LGBTQIA+ possuem raça e classe. “Não faz sentido elegermos uma pessoa LGBTQIA+ apenas por representatividade e esta pessoa ser favorável a pautas que se voltem contra os direitos das mulheres, de negros, negras e negres, de indígenas, PCDs, neurodivergentes, estudantes e trabalhadores. A representatividade que queremos é a representatividade que busque a emancipação de todes”, finaliza.

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