Preço de alimentos, combustíveis e dólar: conflito entre Rússia e Ucrânia poderá impactar economia no Brasil

Bomba de abastecimento de combustíveis (Bunyarit/ Getty Images)
Marcela Leiros — Da Revista Cenarium

MANAUS — Apesar de acontecer a mais de 10 mil quilômetros de distância, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia poderá impactar economicamente o Brasil e até mesmo a Zona Franca de Manaus (ZFM), aponta a economista Denisse Kassama. Após o presidente russo Vladimir Putin anunciar o ataque ao país vizinho, o barril do petróleo ultrapassou a marca de US$ 100 pela primeira vez desde 2014. A Rússia também é uma importante fornecedora de adubos e fertilizantes para o Brasil e, em 2021, as exportações aos brasileiros mais que dobraram.

“A Rússia é uma das maiores produtoras de petróleo do mundo e uma das principais abastecedoras da Europa. Qualquer comprometimento no fornecimento afeta os preços internacionais, pois reduz a oferta em um ambiente de crescente demanda. Quando sobe o preço dos combustíveis no Brasil, praticamente sobe tudo, pois nosso custo logístico é muito caro. O aumento dos custos logísticos e aumento do dólar ainda poderá impactar na Zona Franca de Manaus”, pontua a economista.

Kassama lembra ainda que o Brasil, mesmo sendo potencialmente autossuficiente na produção de petróleo, não possui estrutura e tecnologia para refino, e acaba exportando o petróleo bruto e importando petróleo refinado. Isso deixa o País “sujeito aos preços internacionais”. “Além disso, essa guerra pode provocar outras instabilidades no mercado, como possivelmente a alta do dólar e aumento do preço de alimentos, uma vez que a Rússia é uma grande produtora”, adiciona ela.

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O Brasil e a Rússia integram o Brics, grupo formado por cinco grandes países emergentes, que tem a participação ainda da Índia, China e África do Sul. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em 2021, o Brasil vendeu um total de US$ 1,7 bilhão em produtos para a Rússia, o equivalente a 0,6% das exportações totais.

Na pauta dos itens mais vendidos para os russos estão alimentos como soja, frango, carnes, café, açúcar e até amendoim. No sentido oposto, os fertilizantes dominam a lista de produtos exportados pela Rússia ao Brasil — cerca de 60% (US$ 3,5 bilhões) dos US$ 5,6 bilhões que o Brasil importou dos russos em 2021 foi em adubos e fertilizantes, conforme os dados oficiais.

Bolsonaro na Rússia

O presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu na semana passada , em Moscou, com Vladimir Putin. O encontro desafiou militares brasileiros, uma ala do Itamaraty e a pressão do governo dos Estados Unidos ao manter a viagem ao Kremlin.

Após a Rússia iniciar o ataque militar à Ucrânia nesta quinta-feira, 24, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que o Brasil acompanha com “grave preocupação” a deflagração de operações militares pelos russos contra o território ucraniano. A nota foi emitida depois de muita pressão de líderes mundiais para que o Governo de Jair Bolsonaro se posicionasse sobre o tema, mas o próprio presidente ainda não se posicionou sobre o assunto em nenhuma rede social.

Leia também: Após pressão de líderes mundiais, Itamaraty emite nota com posição do governo brasileiro sobre crise na Ucrânia

No comunicado enviado à imprensa, o Itamaraty afirma que “o Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”.

Por fim, o governo brasileiro reiterou ser membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e que o Brasil permanece engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias.

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