Prefeito de cidade no PA é investigado por racismo religioso
Por: Ana Pastana
20 de junho de 2025
MANAUS (AM) – A Polícia Civil do Pará (PC-PA) confirmou, nessa quinta-feira, 19, que investiga o prefeito de Paraupebas (PA), Aurélio Goiano (Avante), após declarações que foram consideradas discriminatórias contra religiões de matriz africana. O caso foi registrado em 11 de junho deste ano durante uma sessão solene na Câmara Municipal do município paraense que fica distante 719 quilômetros de Belém.
Na ocasião, o prefeito afirmou que a coordenação de assuntos religiosos da prefeitura está de portas abertas à população da cidade e que o pastor, identificado apenas como Rerardo, iria recebe-los com a declaração: “Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno“.
“Se as religiões de matrizes africanas precisarem da prefeitura, a coordenação de assuntos religiosos está de portas abertas e o pastor irá recebe-los e ainda vai dizer: ‘Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno’. É ou não é assim, pastor Rerardo? – O pastor: ‘desse jeito’ – E tchau e obrigado“, disse.
Em seguida, Aurélio afirmou que o pastor é “matador de demônio” e que os “evangélicos e católicos” eram bem-vindos na coordenação. “Dizer para vocês que a coordenação de assuntos religiosos é algo do meu coração e vocês ai de outras religiões, o pastor Rerardo, esse matador de demônio está lá para te receber, e aos evangélicos e católicos, sejam muito bem-vindos“, declarou.
A PC-PA afirmou que a investigação foi aberta para apurar o caso, mas não deu mais detalhes sobre o inquérito policial. A apuração foi instaurada após a Federação Espírita Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Estado do Pará (Feucabep) denunciar a fala do prefeito ao Ministério da Igualdade Racial, à polícia e à Promotoria de Justiça de Parauapebas.
Em nota, a Feucabep repudiou veementemente as declarações de Aurélio e afirmou que o chefe do executivo municipal cometeu crimes racismo religioso previsto em lei contra as religiões de matriz africana.
Veja a nota na íntegra:
“A Federação Espírita umbandista dos cultos afros brasileiros do estado do Pará/ FEUCABEP, repudiamos veementemente as declarações proferidas por Aurélio Goiano atual Prefeito da cidade de Paraupebas e o diretor de assuntos religiosos Pastor Geraldo, que cometeram crimes de racismo religioso previsto em lei, contra as religiões de matriz africana, as palavras proferidas durante o discurso no plenário da Câmara do município em questão, são inaceitáveis e refletem visão discriminatória e preconceituosa, assim, tais declarações não apenas ofendem praticantes dessas religiões, mais também, contribuem para perpetuação de um ambiente de intolerância e discriminação.
É fundamental que os líderes políticos demonstrem respeito e compreensão pelas diversas manifestações culturais e religiosas presente em nossa sociedade. Exigimos que ambos os políticos citados se retratem publicamente por suas declarações e reconheçam o impacto negativo que possam ter causado. Além disso, esperamos que a Câmara Municipal tome medidas apropriadas para abordar essa questão e promover um ambiente de respeito, responsabilidade e responsabilização dos envolvidos. Conclamamos as comunidades de terreiro e aos sacerdotes e sacerdotizas a se manifestarem contra a discriminação religiosa e a defenderem nosso direito á liberdade de crença e expressão de nossa fé“.
Câmara se manifestou
No último domingo, 15, quatro dias depois da fala do prefeito durante sessão solene na Casa Legislativa, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Parauapebas emitiu uma nota sobre o ocorrido.
De acordo com a nota oficial, a sessão que deveria ser destina “à celebração da fé, ao respeito à diversidade religiosa e à reafirmação das garantias constitucionais de liberdade de crença e culto, foi inesperadamente marcada por falas que geraram profunda indignação em lideranças religiosas, organizações civis e diversos segmentos da sociedade“.
A nota assinada pelo presidente da Casa, Anderson Moratorio (PRD), pelo presidente da comissão de Direitos Humanos, Francisco das Chagas Moura (PT), e outros dois parlamentares membros do colegiado, apontou que a manifestação do prefeito, além de inaceitável, é absolutamente incompatível com os deveres constitucionais atribuídos a qualquer agente público.
Veja a nota na íntegra:

Prefeito silencia
Apesar da Câmara Municipal pedir o posicionamento oficial de Aurélio com ampla divulgação dirigida às comunidades atingidas pela fala preconceituosa, o prefeito Aurélio Goiano não havia se manifestado sobre o caso até esta sexta-feira, 20.
A CENARIUM entrou em contato com o político para obter posicionamento sobre as declarações e a investigação, mas até o fechamento deste material não houve retorno.