Prefeito de Manaus chama político que fala mal da gestão de ‘vagabundo’ e cita Cazuza


Por: Fred Santana

27 de outubro de 2025
Prefeito de Manaus chama político que fala mal da gestão de ‘vagabundo’ e cita Cazuza
Da esquerda para a direita: Zé Ricardo, Rodrigo Guedes, David Almeida (prefeito), Coronel Rosses e Capitão Carpêe (Fotos: Reprodução/CMM e Semcom | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), chamou políticos que criticam a administração municipal de “vagabundos” durante a entrega da revitalização da Praça dos Remédios, no Centro da capital, na sexta-feira, 24. No mesmo evento, ele citou o cantor e compositor Cazuza (1958-1990) para afirmar que vê “o futuro repetir o passado”.

A fala ocorreu enquanto Almeida comentava ações de inclusão social e de distribuição de água na cidade. “Aí vem qualquer político vagabundo, que não tem nenhum trabalho, essa hora ainda nem acordou, duas horas da tarde, faz um vídeo e vem falar mal da prefeitura. Os caras que me atacam, eu respondo com trabalho, com entregas”, declarou.

O pronunciamento, feito diante de apoiadores, entre eles o senador Eduardo Braga (MDB-AM) e secretários municipais, gerou reação imediata de adversários, que criticaram a postura do gestor e levantaram questionamentos sobre sua trajetória e patrimônio.

A manifestação foi interpretada como um ataque direto à oposição na Câmara Municipal de Manaus (CMM), que desde o início de 2025 vem apontando falta de transparência e altos gastos na atual administração.

Oposição reage e cobra explicações

Em seu perfil nas redes sociais, o vereador Coronel Rosses (PL) foi o primeiro a responder às declarações do prefeito, afirmando que David Almeida extrapolou os limites do respeito institucional. “Davi, eu tenho 30 anos de serviços prestados na Polícia Militar. Passei em concurso público e trabalhei décadas defendendo pessoas de vagabundos que queriam roubá-las”, respondeu o vereador.

Rosses continuou com críticas diretas ao prefeito, questionando sua origem e patrimônio. “Aliás, é a mesma coisa que faço hoje na Câmara Municipal. Eu posso provar cada centavo da minha renda. Mas e você, de que trabalhou? Auxiliar de motorista de político de esquerda? Como justifica seu patrimônio?”, atacou o ex-PM.

Rosses lembrou ainda dos recentes questionamentos judiciais de grandes eventos da prefeitura. “Vagabundo é gestor público que não cumpre a lei, que gasta o dinheiro do povo com festança e não dá transparência. Vagabundo é político que viaja com fornecedores da prefeitura e não explica quem pagou a conta”, disse. O parlamentar concluiu afirmando que o prefeito teme ser cobrado judicialmente.

Outro opositor, Rodrigo Guedes (PP), também rebateu as falas de David Almeida ao dizer que o prefeito não tem histórico de independência política. “Ele não aceita cobrança, não aceita crítica. Isso mostra que não é um estadista, é um político pequeno. Vai ser esquecido, porque não deixa nenhum legado para Manaus. As obras que faz são pontuais. A cidade tem 12 bilhões de reais de orçamento, então se não fizer nada, sobra alguma coisa para o mínimo. É isso que ele faz”, disse o vereador à CENARIUM.

O vereador José Ricardo (PT) destacou que o prefeito demonstra aversão à fiscalização e à transparência. Segundo ele, as ofensas são uma tentativa de desviar o foco das cobranças legítimas da oposição. “Eu não sei de quem o prefeito está falando, chamando de vagabundo. O que eu sei é que há vereadores que acordam cedo, fiscalizam, cobram providências, denunciam no Tribunal de Contas e no Ministério Público. Essa é a nossa função”, explicou.

O plenário da Câmara Municipal de Manaus (Reprodução/CMM)

O parlamentar de esquerda criticou também o comportamento do prefeito em relação ao Legislativo.“O prefeito parece não gostar de ser cobrado. Ele impede secretários de comparecerem à Câmara, orienta sua base a rejeitar convocações e evita dar satisfação sobre o uso do dinheiro público. Não há transparência nos gastos com festas, nem nos empréstimos milionários. A cidade está tomada pelo lixo, sem projetos para saneamento ou mobilidade. É uma incompetência total”, criticou o petista.

O vereador Capitão Carpê Andrade (Republicanos) também afirmou que o prefeito demonstrou “destempero, descontrole e desespero” ao atacar os vereadores de oposição. Segundo ele, David Almeida “não aceita ser fiscalizado” e tenta desqualificar quem cumpre o papel de cobrança.

“Ele odeia a possibilidade de existirem pessoas que ousem bater de frente com sua gestão, que fiscalizem e denunciem. Para ele, essas pessoas são vagabundos, enquanto os que bajulam e batem palmas para suas barbaridades são os que servem à cidade”, afirmou o parlamentar do Republicanos.

Carpê também criticou o comportamento autoritário do prefeito e fez um alerta sobre suas pretensões políticas. “Ele já age de forma autoritária sendo prefeito. Imagine se tivesse a chave do Estado nas mãos. Davi, você não tem um rei na barriga. Ninguém te obrigou a ser prefeito, então aguente a pressão, porque boa parte da população e da classe política já abriu os olhos”, disse.

Polêmicas recentes da gestão David Almeida

As declarações do prefeito ocorrem em um momento em que sua administração enfrenta uma série de questionamentos públicos e denúncias de irregularidades. Entre as polêmicas, destaca-se a revelação da CENARIUM de que a sogra do prefeito, mãe da primeira-dama Lidiane Oliveira Fontenelle, atuou como administradora da empresa Murb Manutenção e Serviços Urbanos Ltda., responsável por contratos que somam mais de R$ 323 milhões com a Prefeitura de Manaus entre 2022 e 2025.

A reportagem apontou que o Ministério Público de Contas do Amazonas (MPC-AM) determinou uma inspeção extraordinária nos contratos firmados pela empresa, diante da possibilidade de conflito de interesses e favorecimento indevido.

Outra matéria da mesma publicação destacou as críticas ao festival Sou Manaus Passo a Paço 2025, marcado por cachês milionários, falta de transparência e descaracterização cultural. Segundo a reportagem, o evento teria priorizado grandes artistas nacionais em detrimento da produção artística local, sem divulgação clara dos valores pagos e dos contratos firmados pela prefeitura.

Leia mais: Sogra de David Almeida administrou empresa que recebeu R$ 323 milhões da Prefeitura de Manaus
Editado por Adrisa De Góes

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.