Prefeitura de Manaus usa força para fechar depósito de vendedores ambulantes no Centro


Por: Marcela Leiros

07 de agosto de 2025
Prefeitura de Manaus usa força para fechar depósito de vendedores ambulantes no Centro
Guardas municipais seguram mulher que tentava recuperar carrinho de venda (Alinne Bindá/Cenarium)

MANAUS (AM) – Guardas municipais e agentes da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc), da Prefeitura de Manaus, usaram a força para fechar, por volta das 9h desta quinta-feira, 7, um depósito usado por vendedores ambulantes para guardar carrinhos de trabalho, na Rua Bernardo Ramos, Centro da capital amazonense. A ação resultou na apreensão das mercadorias dos trabalhadores autônomos e provocou confusão no local.

Leia também: Especialistas veem ‘higienização social’ em ação da Prefeitura de Manaus no Centro
Guarda municipal fala com vendedora ambulante no Centro de Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Em vídeos registrados pela CENARIUM, comerciantes tentam recuperar os produtos armazenados no depósito, usados na venda de alimentos como churrasco, salgados e água, mas são impedidos por agentes da guarda municipal. Em uma das gravações, uma mulher, desesperada ao ver sua fonte de renda ameaçada, é contida pelas roupas por pelo menos três guardas municipais.

Veja o vídeo:

Durante a ação da prefeitura, vendedores ambulantes afetados pelo fechamento do depósito e pela apreensão dos carrinhos realizaram manifestação em via pública. Além da Guarda Municipal, policiais da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) foram acionados para conter o ato.

Guardas municipais de Manaus em manifestação de ambulantes no Centro (Alinne Bindá/CENARIUM)

O foco da ação, segundo servidores da prefeitura no local, é desarticular carrinhos de comida clandestinos que não estão regularizados para a venda. A gestão municipal deu início, nesta semana, ao “Mutirão no Centro”, ação de reordenamento urbano que a prefeitura chama de “revitalização” da área central da cidade.

Confusão em frente a depósito de vendedores ambulantes no Centro de Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Na segunda-feira, 4, servidores da Semacc tomaram à força produtos de uma vendedora de abacaxis que atuava no Porto de Manaus. Outros vendedores ambulantes relataram ações truculentas dos servidores municipais que impedem que vendedores ambulantes se estabeleçam na região.

Em vídeo obtido com exclusividade pela reportagem, é possível ver servidores da secretaria recolhendo mercadorias de uma vendedora. A comerciante tenta impedir a ação, enquanto os produtos são jogados no chão por um dos fiscais. “Não vai levar”, diz a mulher, ao tentar proteger o carrinho com abacaxis.

Truculência

A ação da Guarda Municipal de Manaus nesta quinta-feira, 4, no Centro de Manaus, é alvo de críticas. O caso relembrou a agressão de um guarda municipal a um homem, que estava algemado, em abril deste ano.

O vídeo que ganhou repercussão nas redes sociais mostrava um agente da Guarda Municipal de Manaus (GMM) agredindo um homem com cassetete, suspeito de roubo, em um prédio abandonado localizado na Rua Gabriel Salgado, no Centro, Zona Sul da cidade.

Nas imagens aparecem sete guardas municipais, dos quais um conduzia as agressões, enquanto outro filmava e os demais assistiam sem intervir. “Tu só vai apanhar”, diz o agente à vítima ao desferir os golpes, ao que o homem responde “não fui eu”, repetidas vezes, enquanto grita de dor, com os braços amarrados.

Vai apanhar até umas horas”, diz outro agente. Após a sessão de violência, o guarda responsável pela agressão afirma: “Descansa aí. Vai tomar outro pau”, e completa: “Mais uma rodada”.

As imagens foram gravadas no dia 12 de abril. No dia 26 do mesmo mês, o agente da Guarda Civil Municipal de Manaus Francisco das Chagas Eugênio de Araújo foi preso pela agressão ao homem. Ele se apresentou no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP) após um mandado ter sido expedido em seu nome.

Higienização social

Especialistas ouvidos pela CENARIUM, na terça-feira, apontam que a Prefeitura de Manaus tem promovido, sob gestão do prefeito David Almeida (Avante), “limpeza social” ou “higienização social” no Centro da capital, ao realizar uma série de ações chamadas pela gestão municipal de “revitalização“.

O antropólogo e doutor em Sociologia do Desenvolvimento e Transformação Social Lino João de Oliveira Neves avaliou que as ações recentes da Prefeitura de Manaus, voltadas ao reordenamento da área com o impedimento de que ambulantes atuem no local, fazem parte de um processo histórico recorrente em grandes cidades conhecido como “higienização social“. Para ele, a ação busca esconder a desigualdade urbana ao invés de enfrentá-la.

Eu vejo nessa ação da prefeitura mais uma vez uma medida que, em termos de história de urbanização, tem sido chamado de higienização. Mostrar a higienização da cidade em contraposição à ocupação precária. Isso aconteceu em várias cidades do Brasil“, declarou o especialista.

Desesperados, vendedores ambulantes têm equipamentos apreendidos no Centro de Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Assim como Lino João, o sociólogo Luiz Antônio também avaliou que Manaus tem problemas mais complexos de ordenamento urbano do que a presença de vendedores ambulantes. O especialista ainda lembrou que a higienização da cidade pode ser considerada uma tática fascista.

Essa estratégia da prefeitura tem um conteúdo de natureza higienista, de natureza bastante perigosa, se aproxima muito das táticas fascistas de higienização, de limpeza, entre aspas, da população das cidades, tirando dali os moradores de situação de rua. Isso é preciso muita atenção, o Ministério Público tem que estar atento a isso, os vereadores têm que estar atentos a isso“, acrescentou Luiz Antônio.

Vendedora ambulante durante ação da Prefeitura no Centro de Manaus (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona

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