Prêmio Capes 2024: saiba quem é a amazonense indicada ao ‘Oscar’ da ciência brasileira

Blenda Cunha Moura é amazonense e professora no Acre (Arquivo pessoal)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium*

MANAUS (AM) – A amazonense e professora de História no Instituto Federal do Acre (Ifac), na cidade de Cruzeiro do Sul, Blenda Cunha Moura foi indicada ao Prêmio Capes 2024, considerado o “Oscar” da ciência brasileira. A docente concorre com a tese “Livre pela minha natureza“, que conta histórias de mulheres indígenas apagadas da história da Amazônia Colonial.

A tese disputa na categoria “Colégio de Humanidades – Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes“. No trabalho, Blenda Cunha Moura conta histórias de mulheres indígenas apagadas dos registros do tempo na Amazônia Colonial, com traições, vinganças, feitiçarias, amores e a vida cotidiana de quem resistia por liberdade.

Capa da tese de Blenda Cunha Moura (UFPR)

Blenda é nascida no Amazonas, mas cresceu em Curitiba, no Paraná. Ela foi para Cruzeiro do Sul após passar no concurso para professora de História no Ifac. Além de professora, ela também é doutoranda em História pela Universidade Federal do do Paraná (UFPR) e mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Também tem licenciatura no mesmo curso na federal do Paraná.

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Atualmente, é membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do Ifaz, núcleo que fundou e coordenou de 2015 a 2018.

A tese

Em entrevista ao ContiNet Notícias, Blenda Cunha Moura compartilhou que o tema para a tese de doutorado nasceu há 10 anos, ainda na formulação da ideia do mestrado. Na época, no entanto, seu orientador mudou a ideia do projeto. Esta ideia só foi resgatada recentemente.

Até que um belo dia [10 anos depois], eu peguei meu projeto original de mestrado [que era de mulheres indígenas], dei uma recauchutada, submeti na UFPR e fui fazer o doutorado. Acho que o fio que liga a primeira à última página é a busca por liberdade”, disse a pesquisadora ao ContiNet Notícias.

Moura afirma que a ideia da tese surgiu a partir de uma descoberta que ela fez sobre uma revolta do século 18. “Próximo a Barcelos [região de Manaus], tinha um líder indígena que queria casar com uma concubina – sua amante – e um padre proibiu. Nisso, ele articulou com outras quatro lideranças e saíram atrás de matar o padre, que acabou fugindo. Isso começou uma revolta, quando se juntaram mais 15 lideranças indígenas que decidiram ir até a capital acabar com o domínio de portugueses. Porém, alguém denunciou o trajeto que eles iriam fazer e os portugueses fizeram uma emboscada e decapitaram todos”, conta.

A pesquisadora Blenda Cunha Moura (Reprodução)

Essa é a história da Revolta de Lamalonga. Mas, pesquisando no Pará, a descoberta deu uma reviravolta: a professora descobriu, ao ler documentos históricos, que quem tinha denunciado a revolta foi Dona Anna Maria de Ataíde, a esposa do líder que queria casar com a amante, para se vingar. E, logo após o assassinato, ela virou líder da comunidade no lugar de seu ex-marido. Para Blenda, isso mostrou uma “onda contrária à uma ‘ciência muito masculina’“.

Sobre a indicação ao prêmio, Blenda acredita que vem em um momento de reconhecimento de mulheres indígenas na política, como Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, Francisca Arara, secretária estadual dos Povos Indígenas e Joenia Wapichana, presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Blenda Cunha Moura e estudantes do Ifac conquistaram medalha de prata na etapa nacional da Olimpíada Nacional em História do Brasil, em 2023 (Reprodução)
Prêmio

O Prêmio Capes 2024 escolhidos os melhores trabalhos de doutorado defendidos no Brasil, em 2023, em cada uma das 50 áreas de áreas de avaliação estabelecidas pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e que fazem parte do Sistema Nacional de Pós-Graduação. As premiações englobam dinheiro, bolsas de estudos, certificados e menções honrosas.  

Dentre as 50 teses premiadas, três receberão o Grande Prêmio CAPES de Tese relacionado a cada colégio de avaliação: Ciências da Vida, Humanidades e Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. Serão concedidos prêmios especiais em parceria com a Fundação Carlos Chagas e com o Instituto Serrapilheira. 

Saiba mais neste link: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/inscricoes-para-premio-capes-de-tese-sao-prorrogadas.

(*) Com informações do ContiNet Notícias e do Escavador
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