‘Preservar e ampliar’, defende diretor de jornalismo da TV Cultura no Dia da Liberdade de Imprensa

Leão Serva em visita ao Museu da Amazônia (Reprodução)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – “É preciso preservar as conquistas e ampliá-las, atualizá-las para os novos tempos e as novas tecnologias”, defendeu o diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, nesta terça-feira, 3, no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Há quase 30 anos, o dia marca a constante busca pela liberdade dos profissionais de imprensa que prezam pelo direito de investigar, publicar e informar a sociedade de forma livre, imparcial, independente e responsável.

“Creio que o jornalismo é uma peça fundamental da democracia contemporânea e a liberdade de expressão é fundamental para a vida em sociedade. É preciso preservar as conquistas e ampliá-las, atualizá-las para os novos tempos e as novas tecnologias. É a imprensa que vigia os tiranos e tiranetes. E nós precisamos que ela esteja ativa e vigilante para garantir que eles não se sintam à vontade”, declarou em entrevista à CENARIUM.

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Leão Serva é diretor de jornalismo da TV Cultura e atua há cerca de 30 anos na cobertura de questões indígenas e amazônica. Já foi editor e diretor de diversos veículos de comunicação (Folha, Estadão, Lance!, Placar, Diário de S.Paulo e iG), correspondente internacional da Folha, e cobriu guerras na Bosnia, Angola, Somália, Kuait, entre outros. Ao voltar ao Brasil, se dedicou ao jornalismo de guerra, fez mestrado e doutorado e, mais recentemente, um estágio pós-doutorado (incompleto).

Ataques

De acordo com o documento produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os casos de “censuras” ultrapassaram os de “descredibilização” da imprensa. As censuras representaram 32,56% do total de casos, enquanto a descredibilização da imprensa representou 30,46% (foram 131 ocorrências no total).

Para Serva, os profissionais de comunicação tornaram-se alvos de grupos radicais e que nos últimos anos a liberdade de imprensa foi bastante atacada pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), e seus simpatizantes, e que as agressões não são apenas particularidade do Brasil.

“Não só acredito, como há diversos levantamentos e registros de agressões a jornalistas, para reduzir sua liberdade de expressão. Os jornalistas se tornaram alvos de grupos radicais. Vê-se isso durante os episódios de invasão do Congresso americano e durante a campanha eleitoral de 2018 no Brasil; também desde a posse do novo governo, o presidente e seus seguidores fazem ataques à imprensa cotidianamente, ações judiciais contra jornalistas e veículos prosperam ao arrepio da Constituição. Enfim, as agressões são inúmeras. E, paradoxalmente, não são escondidas; ao contrário, são tão explícitas que acabamos nos acostumando, normalizando o inaceitável”, afirmou.

A constatação de Serva confirma um relatório da Fenaj que conclui que o presidente Jair Bolsonaro continua sendo o principal agressor a jornalistas. “A continuidade das violações à liberdade de imprensa, no Brasil, está claramente associada à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República”, cita o relatório.

“O presidente Jair Bolsonaro, desde que assumiu a Presidência da República, em 1° de janeiro de 2019, tornou-se o principal autor de ataques a veículos de comunicação e jornalistas. Em 2021, repetindo a mesma posição ocupada nos dois anos anteriores, ele foi o responsável direto por 147 ocorrências (34,19% do total), a maioria delas, tentativas de descredibilização da imprensa (129), mas também por 18 casos de agressões diretas aos jornalistas”, aponta o texto.

Eleições

No ano em que mais de 100 milhões de brasileiros vão às urnas escolher seus representantes para as casas legislativas, como governador e presidente da República, o jornalista Leão Serva defendeu que a imprensa deve se manter objetiva e equidistante, em relação aos candidatos democráticos, já que a imprensa exerce um papel fundamental durante a cobertura eleitoral.

“No ano eleitoral, tudo se intensifica, os eventos, as paixões, as reações. Também a imprensa volta seu escrutínio para os candidatos (quando fora do período eleitoral ela prioriza os mandatários). Assim, é um período em que o exercício da profissão fica mais intenso. Creio que os ditames éticos e técnicos não se alteram, mas ficam muito mais expostos. A imprensa deve se manter objetiva e equidistante, em relação aos candidatos democráticos, deve publicar tudo que deve ser publicado, como sempre”, afirmou Leão.

E continua, “ao mesmo tempo, na sociedade, hoje, não só no Brasil, mas em muitos lugares do planeta, há um questionamento agressivo da imprensa, geralmente de quem se sente afetado pelo criticismo da profissão. E nos períodos eleitorais, essa agressividade pode, em algum momento, se realizar em ações judiciais, em pressões de toda ordem e mesmo agressões morais ou físicas”, finalizou o diretor de jornalismo.

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