Presidente do STF afirma que forças militares foram politizadas por uma má liderança
04 de março de 2024
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso (Antonio Augusto/Secom/TSE)
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO (SP) – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira, 4, em São Paulo, que as forças militares foram politizadas por uma má liderança e fizeram “um papelão” em comissão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes das eleições de 2022.
A declaração foi dada durante evento promovido pela Faculdade de Direito da PUC-SP e pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, no Teatro Tuca, na Zona Oeste de São Paulo. O evento tinha como mote a democracia inclusiva.
Barroso fez diversas críticas à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sem citá-la diretamente, como a não demarcação de terras indígenas, a paralisação do Fundo Amazônia e o negacionismo durante a pandemia. “Nada do que estou falando é uma opinião, tudo que estou falando são fatos objetivos”.
Ele definiu a politização das Forças Armadas como “uma das coisas mais dramáticas para a democracia”.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso (Pedro Ladeira/Folhapress)
“Foram manipulados e arremessados na política, por más lideranças, fizeram um papelão no TSE. Convidados para ajudar na segurança e para dar transparência, foram induzidos por uma má liderança a ficarem levantando suspeitas falsas”, disse o ministro em referência ao que definiu como deslealdade.
Barroso era presidente do TSE quando decidiu convidar os militares a participar da comissão de transparência eleitoral e da lista de entidades fiscalizadoras do pleito.
As Forças Armadas sempre auxiliaram o TSE na logística das eleições, mas pela primeira vez passaram a integrar oficialmente uma comissão dessa natureza.
O objetivo inicial de Barroso era reduzir as críticas que Bolsonaro fazia às urnas eletrônicas, mas o efeito foi o contrário: o então mandatário aumentou os ataques ao sistema eleitoral e usou os questionamentos para desacreditar a Justiça Eleitoral.
A atuação das Forças na comissão levou integrantes de tribunais superiores, inclusive, do STF, a considerarem um erro o convite para que militares participassem do colegiado.
Em tópico da palestra sobre ameaças à democracia, Barroso citou o risco de golpe no Brasil.
“As investigações vão revelando que tivemos mais próximo do que pensávamos do impensável. Nós achávamos que já havíamos percorrido todos os ciclos do atraso institucional para termos que nos preocuparmos com ameaça de golpe de Estado”, disse.
Entre os pontos citados por ele estão uso da inteligência para perseguir adversários, incentivo a acampamentos golpistas, desfile de tanques na Praça dos Três Poderes e ataques à imprensa.
“[Isso acabou] culminando no 8 de janeiro [de 2023], que não foi um processo espontâneo, foi uma articulação”, disse. O ministro afirmou, porém, que as instituições venceram.
Após a palestra, Barroso falou sobre as críticas aos militares.
“Ressaltei o papel exemplar que as Forças Armadas desempenharam nos 35 anos da democracia brasileira, cumprindo funções constitucionais e fora da política. E um dos pontos, que eu acho que nós já estamos superando, foi o que todos consideraram indevida politização das Forças Armadas e que depende menos da instituição e mais da liderança”, disse.
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