Presidente Lula recusa convite para participar da ‘Marcha para Jesus’


06 de junho de 2023
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Da Revista Cenarium*

MANAUS – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou uma carta para o apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da Marcha para Jesus, agradecendo o “honroso convite” para participar do evento. Avisou que “infelizmente” não poderá ir neste ano, mas que será representado pela deputada Benedita da Silva (PT), quadro evangélico pioneiro no PT, e Jorge Messias, o advogado-geral da União.

“Sempre admirei e respeitei a Marcha para Jesus, que considero uma das mais extraordinárias expressões de fé do nosso povo”, diz o texto assinado por Lula e enviado ao apóstolo, segundo o próprio, pelo gabinete presidencial.

O gesto foi bem recebido por Hernandes, um ex-aliado do petista que, em 2018 e 2022, alinhou-se a Jair Bolsonaro (PL) nas disputas eleitorais. “Achei muito importante da parte dele esse reconhecimento da Marcha, no sentido de ser um evento cristão de importância mundial”, afirmou à Folha.

Presidente Lula, ao lado do vice, Geraldo Alckmin, e da primeira-dama, Janja, durante solenidade em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto – Pedro Ladeira – 5.jun.23/Folhapress

Lula nunca foi a uma edição, assim como nenhum outro presidente até Bolsonaro, que marcou presença já no primeiro ano de seu mandato. O petista, contudo, sancionou a lei que criou, em 2009, o Dia Nacional da Marcha para Jesus.

Sua campanha ressaltou essa atitude no ano passado, quando ele estava sendo atacado por vários pastores de expressão nacional, que o acusavam de não se importar com o segmento. Hernandes chegou a dizer à reportagem, um ano atrás, que considerava impossível fazer as pazes com Lula.

Mas disse também na ocasião que, se o ex-presidente voltasse ao poder, seria “praticamente obrigatório” construir novas pontes para o diálogo. “Se você realmente tem o resultado nas urnas, e tem um processo democrático, então nós vamos ser presididos por A ou B, não tem como se insurgir, um ‘não aceito A ou B’. Aquele que for eleito é o presidente dos brasileiros.”

O presidente diz na carta endereçada a Hernandes, fundador da igreja Renascer em Cristo, que “vivemos num momento em que a tela dos nossos celulares nos bombardeiam, o tempo todo, com mentiras e mensagens de ódio”.

Alvo de fake news que se espraiaram por igrejas evangélicas, como a de que fecharia templos se vencesse a eleição, Lula lamenta que “antigas amizades” sejam “quebradas por discordância política”.

A Marcha, contudo, “é o contrário disso”, afirma. “É o louvor à paz e ao amor de Cristo. É a força alegre da fé vencendo o ódio e a discórdia que só afastam as pessoas.”

Lula foi chamado no fim de maio para a caminhada feita há três décadas por evangélicos pelas ruas de São Paulo, um marco do calendário evangélico brasileiro que reúne várias igrejas e sempre convida os chefes do Executivo municipal, estadual e federal. O evento, neste ano, será na quinta (8), no feriado de Corpus Christi.

“Todo ano, milhões de pais, mães, crianças e adolescentes se reúnem para louvar aquele que tantos ensinamentos trouxe à humanidade”, afirma a carta. Na sequência, o petista se diz orgulhoso de ter assinado a lei para tirar do papel o Dia Nacional da Marcha.

A missiva é toda permeada por conteúdo cristão. “Mais do que nunca, precisamos estar unidos em torno dos valores propagados por Cristo”, como “levar o pão a quem tem fome”, afirma.

A relação de Lula com a liderança evangélica mais graúda, que serve de bússola para pastores de igrejas menores, é de vaivéns. Foi malquisto por anos, até ganhar o respaldo de vários líderes em 2002, quando venceu a corrida presidencial pela primeira vez. O endosso foi murchando e, em 2018, a maioria já era abertamente avessa ao petista, então alvejado pela Lava Jato e preso em Curitiba.

Após a vitória sobre Bolsonaro em 2022, essa cúpula religiosa, até então coesa em torno do bolsonarismo, adotou discurso cauteloso. Muitos pastores evocaram o preceito bíblico de sempre orar pela autoridade constituída. Outros não saíram do modo ataque, como Silas Malafaia.

A maioria submergiu. Nos bastidores, comemora o que vê como sinais positivos da Presidência, como uma possível PEC que ampliaria a isenção tributária para igrejas.

Mas o esforço de Lula para aprovar o PL das Fake News, inglório aos olhos da bancada evangélica, e as chamadas pautas identitárias ainda são um obstáculo para selar essa aproximação. Um exemplo é o uso do pronome neutro (“todes”) em eventos oficiais, que irritou uma penca de líderes evangélicos no começo do novo governo.

(*) Com informações da Folhapress

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