Primeira modelo com microcefalia do mundo critica ministro da Educação e pede que inclusão vire rotina

Ana Victória Lago, de 22 anos, é a primeira modelo com microcefalia do mundo (Reprodução/Facebook)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – Após o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmar que a inclusão de alunos com deficiência “atrapalha” o aprendizado de outras crianças sem a mesma condição, a primeira modelo com microcefalia do mundo, Ana Victória Lago, de 22 anos, lamentou nessa terça-feira, 18, a declaração e pediu que a inclusão vire uma rotina e uma realidade brasileira.

Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, a modelo exibe uma mensagem ao ministro e afirma que a Educação deveria ser igual para todos e que não está preparada para receber Pessoas com Deficiência. “Disso nós não temos culpa. Só queremos que a inclusão vire rotina para que as pessoas que pensam como o senhor, não ache que vamos atrapalhar”, escreveu a modelo.

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A fala de Ribeiro foi concedida durante uma entrevista, na segunda-feira, 9, ao programa “Novo Sem Censura”, da TV Brasil, gerando repercussão nas redes sociais e crítica por usar o termo “inclusivismo” para se referir ao ato de incluir crianças com e sem deficiências em um mesmo ambiente de ensino. Para o ministro, no “inclusivismo” crianças com deficiência “atrapalhavam, entre aspas” o aprendizado de outros alunos.

“O que atrapalha é a deficiência de profissionais qualificados, em todos os âmbitos deste País e não só na educação. Talvez assim o senhor não teria um conceito tão ‘atrapalhado’ sobre a inclusão, denominando de ‘inclusivismo’! Capacitar os profissionais e nivelar os conteúdos pedagógicos seria o começo da solução do problema que o senhor acha que somos!”, rebateu Ana Victória.

A jovem é a primogênita de Viviane Lima e Júnior Lima, e irmã de Júlia Lago e Maria Luiza, que também foi diagnosticada com microcefalia. Aos 22 anos, ela é considerada a primeira modelo com microcefalia do mundo e esbanja simpatia nas redes sociais, com a rotina compartilhada pela mãe Viviane Lima, ativista da causa de Pessoas com Deficiência (PcDs).

Vídeo de Ana Victória sobre fala do ministro

Revoltante

Para a mãe de Ana Victória, Viviane Lima, a postura do ministro Milton Ribeiro é revoltante e absurda, e a palavra inclusivismo fere toda a luta e os direitos das Pessoas com Deficiência. Ela lembra das dificuldades que vivenciou para colocar a modelo dentro de sala de aula e o sentimento que teve quando levou a filha para a escola, convivendo com as outras crianças de igual para igual.

Ana Victória (da esq. à direita), Viviane Lima, Maria Luiza, Júlia Lima e Júnior Lima (Reprodução)

“Parece um soco no meu estômago essa palavra inclusivismo. Colocar tudo aqui que a gente já lutou até hoje, todas as dificuldades que a gente já passou, tudo que a gente já viveu na vida com os nossos filhos: o preconceito, a exclusão, os mal tratos, a falta de política pública, tudo aquilo que a gente vem lutando e tentando mudar nessa sociedade; e você vê um ministro da Educação chamar a nossa luta de inclusivismo”, comentou Viviane.

A ativista afirma que o sonho de toda a mãe é levar o filho à escola e ter a assistência prevista em lei. Para ela, os professores têm dificuldade em sala de aula com as pessoas com deficiência porque não se cumpre o que está na lei e se tivesse um mediador, uma pessoa especializada na causa, isso seria diferente. “Esse inclusivismo que está na sua cabeça, que o senhor fala é o preconceito que o senhor tem com pessoas com deficiência, de que elas não podem conviver e estar juntas com as outras pessoas”, declarou Viviane Lima.

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