Primeira mulher indígena eleita deputada federal completa 1 mil dias de mandato no Brasil

Joênia Wapichana (Rede) foi eleita deputada federal pelo Estado de Roraima (Divulgação)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A primeira mulher indígena eleita deputada federal em 190 anos de parlamento no Brasil, Joênia Wapichana (Rede), completa nesta quinta-feira, 28, o total de 1 mil dias de mandato. A indígena foi eleita em 2018 com 8.491 votos, em Roraima, e hoje ocupa uma das oito cadeiras do Estado na Câmara dos Deputados. Para celebrar a conquista, a parlamentar realizou nesta tarde a live “1.000 Dias de Mandato Indígena”, com transmissão nas redes sociais.

O evento online ocorreu das 16h às 18h, horário de Brasília, e contou com a participação de lideranças indígenas, representantes de organizações indígenas, indigenistas, movimentos sociais e de políticos, além do apoio da Rede Sustentabilidade, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Mídia Índia, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Conselho Indígena de Roraima (CIR) e outras entidades.

Deputada Joênia Wapichana promoveu uma live nesta quinta-feira, 28, para celebrar 1 mil dias de mandato (Reprodução)

“É um dia muito importante para a nossa vida, para a minha particularmente. Ser a única representante indígena nunca me deixou com o sentimento de que eu estaria sozinha, mas com o povo indígena, seja com o meu povo de Roraima ou o de Brasília. Agradeço profundamente a todos que fazem parte desse mandato indígena, que hoje completa mil dias”, destacou a deputada Joênia Wapichana.

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A parlamentar salientou que o propósito da candidatura dela é dar voz aos povos tradicionais no Congresso Nacional, em defesa dos interesses e direitos indígenas. “É um mandato que veio furar essa ‘bolha’ que não nos deixava entrar numa representação que é tão importante para todos do Brasil, uma representação política. Eu sempre pensei que o verdadeiro sentido da política é construir propostas para melhorar a condição de vida das pessoas. É nesse sentido que trabalhamos em prol dos direitos coletivos indígenas”, reforçou a parlamentar.

A ex-ministra do Meio Ambiente e candidata nas três últimas disputas presidenciais, a ambientalista Marina Silva (Rede), também discursou na transmissão e elogiou o trabalho da deputada, além de visualizar Joência Wapichana como a primeira senadora indígena na história do País, caso a parlamentar de Roraima se candidate ao cargo no Senado e seja eleita.

A ex-ministra e ex-presidenciável Marina Silva participou da live comemorativa. (Reprodução)

“Estou muito feliz por esses mil dias de mandato, você fez um trabalho incrível. Esses mil dias falam muito para esses 500 anos e por esses 500 anos. O seu trabalho no Congresso Nacional, como eu costumo dizer, é um selo de qualidade em defesa da democracia, em defesa dos povos indígenas, da Justiça Social, do Desenvolvimento sustentável. A resistência e a capacidade de articulação que você tem demonstrado é uma grande contribuição para melhorar a qualidade da política e das instituições públicas brasileiras. Cada vez que você ocupa aquela tribuna, somos todos nós que estamos ali representados”, declarou Marina Silva.

Joência Wapichana

Natural da comunidade indígena Truaru da Cabeceira, região do Murupu, município de Boa Vista, Joênia Wapichana, de 47 anos, pertence ao povo indígena Wapichana, o segundo maior povo do Estado de Roraima. Ela também é primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Em 2008, também foi a primeira advogada indígena da história a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). O discurso ocorreu na homologação que definiu os limites contínuos da Reserva Raposa Serra do Sol.

Joênia Wapichana foi eleita deputada estadual por Roraima e é referência mundial em Direitos Humanos pela ONU (Reprodução/ONU)

Além de advogada e deputada federal, Joência Wapichana é mestre pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Com uma atuação pautada na defesa dos direitos dos povos indígenas, do meio ambiente e sustentabilidade, a roraimense conquistou espaços internacionais. Entre 2001 a 2006, Joênia participou das discussões sobre a Declaração dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de onde recebeu, em 2018, o Prêmio de Direitos Humanos, um dos mais importantes do mundo.

Leia também: Representantes de indígenas e parlamentares entregam dossiê sobre pandemia à CPI da Covid

No Congresso Nacional, a deputada federal tem sido protagonista ao levantar pautas que tratam sobre os direitos indígenas de todo o País, abordando temas como importância de consulta prévia a povos indígenas e comunidades tradicionais, o enfrentamento da Covid-19, além de ir contra projetos de leis e propostas de emenda à constituição do governo Bolsonaro, como a PEC da Reforma Administrativa, apelidada de “PEC da Rachadinha”, e a Tese do Marco Temporal.

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