Principal sonho entre a população negra é empreender, revela pesquisa inédita ‘Potência Preta’

O estudo 'Potência Preta', encomendado pela Feira Preta em parceria com o Instituto Locomotiva, mostra que negros e negras são a força motriz da economia (Reprodução/Mário Quadros)

Com informações do Portal Alma Preta

MANAUS — Em 2021, a população negra pode ter consumido cerca de R$ 2 trilhões. Se fosse um país, o consumo dos negros seria o 20º consumo do mundo, à frente da Austrália e Argentina. Os dados inéditos foram revelados pela pesquisa ‘Potência Preta’, encomendada pela Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, em parceria com o Instituto Locomotiva. O estudo também mostrou que empreender e ter o imóvel próprio foram os principais sonhos das pessoas. 

A pesquisa, realizada com mais de 2 mil pessoas em todo território nacional, sendo metade delas negras, expõe que a maioria da população negra (83%) declara ter interesse por viagens e turismo, a mesma proporção de pessoas não negras. Essa porcentagem (83%) também é a estimativa entre os negros que gostam de gastronomia. 

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Já no mercado de saúde, 94% das pessoas negras se atraem por bem-estar — equivalente à porcentagem de não-negros — e 81% por academia e esportes — apenas 1% a menos que outras pessoas. Saúde e bem-estar é o principal tema de interesse entre a população negra, seguido por emprego, carreira e educação.

“Esse é um estudo que aborda hábitos e interesses da sociedade como um todo, tendo em vista que somos a maioria da população. O principal objetivo aqui é mostrar que os interesses e os sonhos da população negra devem ser cada vez mais levados em conta pelo mercado, na educação, emprego, consumo e tecnologia”, disse Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta.

Os valores e compromissos das marcas influenciam o poder de compra de 73% das pessoas negras. Desses, 46% consideram este um fator muito importante, e apenas 9% não vê importância. As mulheres se destacam no mercado consumidor (91%), enquanto os homens representam 81%. 

Empreendedorismo

Diante de um mercado de trabalho marcado pela desigualdade de oportunidades, o empreendedorismo negro é uma potência que move boa parte da população brasileira, aponta a pesquisa. Hoje, o Brasil tem mais de 28 milhões de trabalhadores por conta própria ou empregadores. Destes, 51% são negros. 

Apesar de serem maioria, apenas 21% dos empreendedores negros têm CNPJ. Entre não negros, são 41% com CNPJ. Apesar dessa discrepância, empreendedores negros são responsáveis por movimentar mais de R$ 288 bilhões por ano. Entre empreendedoras negras, esse valor é superior a R$ 73 bilhões. 

“Somos a força motriz da economia, seja empreendendo ou movimentando trilhões com a compra de produtos e serviços”, destaca Adriana Barbosa.

Der acordo com o estudo, empreender aparece, hoje, como principal sonho entre a população negra. Essa mesma vontade aparece em segunda colocação entre brasileiros não negros. Após ter o seu próprio negócio, brasileiros negros querem ter um imóvel próprio, formar-se na faculdade, viajar, constituir uma família e comprar um veículo. 

O estudo também mostrou que disponibilidade de dinheiro é o que mais falta para população negra conseguir atingir seus sonhos. “Vale destacar que a luta antirracista tem proporcionado um aumento da autoestima do povo negro, e esse fator é fundamental para dar confiança aos que pretendem empreender”, comenta Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

Demais dados

A pesquisa ‘Potência Preta’ também destaca o abismo no acesso à digitalização no Brasil, o que impacta as questões de ensino e escolaridade, principalmente no contexto pandêmico. Não negros (83%), estudantes do ensino privado (98%) e pessoas com escolaridade de nível superior (96%) são mais digitalizadas que pessoas negras (75%), estudantes do ensino público (78%) e de nível fundamental (73%). 

A escolarização, além do acesso à cultura, arte, música, lazer e produções audiovisuais,  demonstra o potencial de alcançar rendas melhores e oportunidades de trabalho. Em geral, apenas 13% das pessoas negras têm acesso ao Ensino Superior, contra 27% de não negros. 

“A pesquisa nos mostra que, mesmo com toda dificuldade e desigualdade, a população negra tem orgulho de onde veio e está disposta a estudar, empreender e batalhar para conquistar seus sonhos e ocupar lugares que historicamente lhes foram privados”, rassalta Renato Meirelles.

O estudo inédito foi realizado entre os dias 23 e 20 de setembro de 2021 por meio de uma pesquisa quantitativa online com análise integrada de dados públicos. Ao todo, 2.029 pessoas a partir dos 18 anos foram entrevistadas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

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