Produção de motocicletas no país caiu 98,6% em abril; ‘maio deve ser pior’, dizem entidades

(Divulgação)

Nícolas Marreco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A indústria brasileira de motocicletas caiu em quase 100% em abril se comparado com o mês anterior e com o mesmo período do ano passado. Os dados são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares (Abraciclo). O Polo Industrial de Manaus (PIM), expoente na produção nacional, já anunciou queda de 69% na linha de produção de duas rodas.

Para maio, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, projetou que o cenário “com certeza” deverá ser pior. “A Moto Honda representa muito em relação às demais fábricas. Sozinha, creio que deve ser 80% da produção de motocicletas. Quando para uma montadora, toda a cadeia de suprimentos da indústria de componentes também para”, explicou.

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A japonesa Moto Honda prorrogou a volta das atividades para o próximo dia 25 de maio, devido ao aumento da curva de contaminação e mortes por Covid-19. Anteriormente, a montadora previa volta há dois dias. Quase 130 fornecedores diretos, mais de 1.200 pontos de venda e centenas de prestadores de serviços compõe a cadeia de produção da empresa.

Com o cenário político-econômico incerto, Azevedo detalhou que mesmo com a volta gradual da indústria, se o comércio estadual e nacional não demandarem, não haverá retorno. “As empresas estão revendo a produção para o resto do ano. Não somos contrários à saúde, mas sem recursos não tem como manter, até porque ela está muito defasada e capenga”, completou.

Dados do setor

Abril registrou produção de apenas 1.479 unidades, ante março, com 102.865 unidades. A queda foi de 98,6%. Comparado com o mesmo mês de 2019, quando o setor registrou 91.226 unidades, a queda foi de 98,4%. O mês também foi o pior para o volume de vendas desde 2003, segundo a Abraciclo. No atacado, a média diária de venda foi de 1.345 motos em 21 dias úteis.

O presidente do Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, frisou que o isolamento social exigindo o esvaziamento do comércio foi a causa maior para o setor estagnar. “Vários estados e municípios exigem o fechamento do comércio; as concessionárias estão fechadas. Além de estarem estocadas, as fábricas nem conseguem entregar os produtos. Não tem muito o que se esperar”, detalhou.

O deputado estadual e economista, Serafim Corrêa (PSB), observou que o recuo do setor de duas rodas se deu principalmente pela Moto Honda e Yamaha estarem suspensas. “As duas principais fabricantes suspenderam suas atividades, daí ter havido esse recuo. Nas próximas semanas, após todas as cautelas, elas deverão retornar as atividades caminhando progressivamente para o retorno à normalidade”, comentou.

Para tentar compensar o eventual desemprego e a recessão, o vice-presidente da Fieam ainda fez um apelo às instituições financeiras e ao poder público de disporem condições especiais para a manutenção das fábricas. Além de tributos e outros encargos, custos como energia elétrica foi pleiteada pela entidade para buscar um equilíbrio no fluxo de caixa das empresas.

“O governo tem feito a parte de liberar certa linha de crédito, mas as instituições financeiras nem sempre encaram como estado de calamidade e exigem o mesmo como no período normal. Isso retarda mais a produção. Todas as empresas paradas têm demandas contratadas com a energia elétrica. Estamos pedindo que o Tesouro Nacional assuma certas garantias. Estamos fazendo tudo para preservar os empregos, mas não sabemos até onde poderá ser sustentado”, completou.

Empregos no pós-pandemia

Com a Medida Provisória 936/2020, o governo driblou demissões em massa com a redução da jornada de trabalho. Hoje, o programa de benefício ao trabalhador tem o teto de R$ 1.813,03. Para o cenário pós-pandemia, a economista Denise Kassama fez críticas a atores do sistema por não pensarem em uma substituição do modelo Zona Franca na economia amazonense.

Pensa-se, segundo ela, em apenas redução da dependência direta e indireta ao invés de explorar matrizes alternativas ao ponto de superarem, inclusive, o PIM. Por outro lado, devido ao mercado interno ser o maior consumidor do parque estadual, ela enxerga que o Amazonas pode pilotar a retomada da produção nacional.

“É natural que os hábitos de consumo se remodelem face à natureza da pandemia. Os itens de primeira necessidade superam no consumo de bens. Projeta-se que a ilha de desemprego cresça no mundo, consequentemente havendo aumento do trabalho informal. Temos uma dependência cruel do PIM. Não existe crise econômica forte o bastante para reduzir isso. Mas com o polo forte atrelado à política de incentivos, nada mais justo que estimular a produçõ e abastecer o País. O momento atual é ainda de cautela, enquanto não tivermos ligação de término da pandemia”, argumentou.

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