Professora paraense Zélia Amador reflete sobre avanços e desafios no combate ao racismo
Por: Fabyo Cruz
20 de novembro de 2024
BELÉM (PA) – O dia 20 de novembro deste ano, pela primeira vez, é feriado nacional em alusão ao Dia da Consciência Negra. À CENARIUM, a professora e ativista paraense Zélia Amador de Deus fez uma reflexão sobre os avanços e desafios na luta contra o racismo no Brasil. Membro fundadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Zélia tem uma longa trajetória dedicada à defesa dos direitos humanos e das políticas de inclusão para negros e indígenas no Ensino Superior.
Durante a entrevista, a professora ressaltou a importância de reconhecer o papel histórico do movimento negro no Brasil. “Há alguns anos nem se falava sobre racismo no Brasil. Quem trouxe essa discussão foi o movimento negro ao longo da história”, afirmou. Segundo Zélia, a sociedade brasileira precisa reconhecer que o racismo existe e exige políticas públicas para combatê-lo e eliminá-lo.
A ativista ressaltou também o compromisso internacional do Brasil na luta contra o racismo e lembrou que o País é signatário da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, aprovada pelo Congresso Nacional em 1968. “O Brasil tem um compromisso com a sociedade e com a comunidade internacional para combater o racismo”, destacou a professora, reforçando a necessidade de políticas públicas que assegurem a dignidade das pessoas negras, que são “prejudicadas cotidianamente pelo racismo e pela discriminação racial”.

Perspectivas futuras
A ativista também reconheceu que houve avanços, como a adoção de políticas de cotas raciais nas universidades, resultado da luta contínua do Movimento Negro. Zélia observou que o trabalho dos movimentos sociais tem sido fundamental para pressionar o poder público a ouvir as demandas de grupos historicamente marginalizados.
No entanto, ela alertou que a luta contra o racismo não deve ser passiva. “Quando você vive num País que tem racismo, você não tem que ficar esperando que as coisas sejam resolvidas. Você tem que ir à luta, denunciar, cobrar e chamar a atenção da sociedade”, disse.

Para Zélia Amador, o combate ao racismo é uma responsabilidade coletiva e urgente. “Uma sociedade racista é desumana e nunca será verdadeiramente democrática”, concluiu, enfatizando a importância do engajamento de todos para que o Brasil possa, de fato, ser uma nação mais justa e igualitária.
Zélia Amador
Com formação acadêmica diversificada, Zélia Amador concluiu a licenciatura plena em Língua Portuguesa pela UFPA, em 1974. Ela cursou mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2001; e Doutorado em Ciências Sociais pela UFPA, em 2008.
Além da atuação dela no meio acadêmico, Zélia é uma figura central nos movimentos sociais voltados à igualdade racial e de gênero. O trabalho da ativista destaca o valor das culturas afro-brasileiras e reforça a importância de ações afirmativas, especialmente para a inclusão de pessoas negras e indígenas nas universidades. Após anunciar a aposentadoria da UFPA, ela foi homenageada pela comunidade acadêmica em 3 de outubro deste ano.