Projeto ‘Alquimia II’ entrega celulares recolhidos em presídios para alunos da rede pública


30 de janeiro de 2021
Projeto ‘Alquimia II’ entrega celulares recolhidos em presídios para alunos da rede pública
A ideia começou a ser colocada em prática durante junho de 2020. (Divulgação/MPRS)

Com informações da Folha de S. Paulo

PORTO ALEGRE – No Rio Grande do Sul, os smartphones apreendidos em presídios e operações policiais deixaram de ser descartados para ajudar estudantes de escolas públicas a acompanharem as aulas virtuais durante a pandemia do novo coronavírus.

“Começaram a circular pelas redes sociais os pedidos das próprias escolas da região por doação de aparelhos para os alunos sem acesso. Na hora me surgiu a ideia. O delegado concordou, a juíza que coordena as ações do presídio aceitou e financiou os primeiros consertos”, afirma o promotor Fernando Andrade Alves, da comarca de Osório, a 94 quilômetros de Porto Alegre.

A ideia começou a ser colocada em prática durante junho de 2020, e o desejo é que o modelo seja adotado pelas promotorias de outros estados brasileiros, beneficiando mais estudantes.

Mais de 200 celulares já foram entregues pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) a estudantes de escolas estaduais que enfrentavam dificuldades para estudar com o fim das aulas presenciais.

Além de Osório, outras cidades como São Borja, Lajeado, Bento Gonçalves e Santa Cruz do Sul foram contempladas.

“Buscamos sermos agentes de transformação social enquanto promotores de justiça. Esse objetivo se traduziu na expressão de alegria dos alunos contemplados”, diz a promotora Cristiane Della Méa Corrales, que atua na área de educação na região de Osório.

Partiu dela os contatos com as primeiras escolas beneficiadas. Com o auxílio das direções dos colégios, foi possível identificar os alunos sem acesso à internet por falta de smartphones.

Desde o mês de agosto, o governo gaúcho oferece internet sem fio gratuita aos matriculados na rede estadual. Antes disso, o Judiciário custeou chips para os primeiros alunos que receberam os smartphones.

“Selecionamos os mais carentes e que tinham irmãos matriculados, garantindo que mais de uma criança tivesse acesso. Fizemos questão de que pelo menos um de cada turma conseguisse o aparelho”, explica Viviane Kohlrausch Castilhos, diretora da escola Estadual Nossa Senhora Aparecida, em Tramandaí, no litoral.

É nessa escola que estudam os gêmeos Rycharlisson e Ryquelme Araújo da Silva, 16. “Foi bem estranho eles ficarem só em casa, mas tentavam fazer as atividades que buscavam na escola. Melhorou muito desde que ganharam o celular. Se não assistem à aula ao vivo, assistem ao que fica gravado e entregam as atividades pelo aplicativo”, conta a mãe dos gêmeos, Graziele Araújo, 42.

Outra aluna contemplada é Gabriela da Rosa Nury, 14, cuja matéria preferida é a de língua inglesa. “Inglês é o que mais gosto de estudar, é o que mais sei”, conta. Com a pandemia e sem acesso à internet, a aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Albatroz, de Osório, precisava pegar ônibus para ir até a escola retirar o material impresso para as aulas.

Agora ela se dedica aos estudos com ajuda do aparelho. “É bem melhor com o smartphone. Eu nunca conseguia acompanhar 100%, acabava deixando algumas coisas de lado. Agora posso acessar o Google Sala de Aula e fazer todas as atividades e assistir às aulas em vídeo que ficam gravadas”, conta Nury.

Os celulares do projeto Alquimia II, como foi batizada a iniciativa do MP-RS, não saíram direto das prisões para os alunos. Muitos precisavam ser arrumados e reconfigurados, e outros tantos precisavam de peças e até de carregador para tomada.

Esse era um dos principais gargalos do projeto, segundo o subprocurador-geral de Justiça de Gestão Estratégica, Sérgio Hiane Harris. A dificuldade foi resolvida com uma parceria com a PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), que permite que os celulares sejam arrumados mais rapidamente, ampliando o número de alunos com seus próprios aparelhos.

“A pandemia acelerou a necessidade e dependência da tecnologia. Muitas pessoas ficam alheias por falta de recursos. O projeto veio para ficar e colaborar com esse desenvolvimento”, explica Harris.

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