Projeto quer contar história global do futebol feminino além dos registros oficiais

Ideia é resgatar momento em que a modalidade começou ser praticada em cada país (Instituto Tavares de Lyra, Rio Grande do Norte)

Com informações Folha de São Paulo

SÃO PAULO — O matemático alemão e colecionador de camisas de seleções Sascha Dërkop, 35, sempre desconfiou da versão oficial de que o futebol feminino em seu país havia começado em 1970. Esta é, pelo menos, a história registrada pela federação nacional.

Quase ao mesmo tempo, o escritor e professor nigeriano Chuka Onwumechili pesquisava sobre as origens do esporte em sua terra natal.

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Na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington, onde trabalha, encontrou publicações africanas que datam desde o final do século 19. Achou nelas registros de partidas entre mulheres em 1937.

Algo bem diferente do que apontava a Federação Nigeriana, que reconhecia o futebol feminino como um movimento de apenas 30 anos.

“O futebol [feminino] era muito maior no passado do que os registros existentes, e isso acontece ao redor do mundo. Basta você olhar artigos publicados, Wikipedia… A história oficial não nos parecia realista, e começamos a falar com várias pessoas para contar como foi realmente”, explica Dërkop.

Apesar dos relatos patrocinados pelas autoridades alemãs, descobriu-se que mulheres corriam atrás da bola na região na década de 1920.

Com um grupo de colaboradores, nasceu o projeto Forgotten Heroines (Heroínas Esquecidas, em inglês), site que pretende reunir e publicar os primórdios do futebol feminino em diferentes países e ir além da versão oficial.

“Queremos que a história desse esporte seja contada de maneira igual para homens e mulheres. Mas desejamos que seja feito da maneira certa, com fontes e pesquisa, não com origens não comprovadas”, completa o matemático alemão.

No site, Onwumechili relatou o início do futebol feminino na Nigéria. Também há artigos prontos para ser publicados de Jamaica, Islândia, Escócia, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Venezuela, Butão, Guam e Albânia.

Projetos

A busca por novos colaboradores continua, o que nem sempre é fácil. Não há remuneração oferecida, e a pesquisa precisa ser longa e comprovada com fontes impressas ou testemunhos. Dá trabalho, mas a crença é que o futebol muito antes dos registros oficiais já unia pessoas de diferentes gêneros.

“Em busca na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, achei uma carta publicada no West African Pilot, um periódico nigeriano, em 1937. Era uma pergunta sobre jogos de futebol disputados por mulheres, e estava claro que o autor havia testemunhado essas partidas já havia algum tempo, mas não estava claro qual era o nível desse futebol”, escreve Onwumechili.

Foi o bastante para ele iniciar pesquisa que descobriu que mulheres têm jogado no país africano há mais de um século.

“Havia relatos de que mulheres jovens disputavam partidas contra homens mais velhos e fora de forma, era uma maneira de arrecadar dinheiro para algumas causas. No final dos anos 1930 e começo dos anos 1940, servia para obter fundos para os esforços envolvendo as tropas nigerianas na Segunda Guerra Mundial. O Império Britânico depois proibiu mulheres de jogar futebol. Mas a ordem foi ignorada informalmente”, completa.

O projeto consiste em dividir os artigos em períodos que mostrem o desenvolvimento do futebol feminino em cada país. Desde as origens, passando pelos primeiros jogos, períodos de dificuldade (ou proibição), organização e realização de campeonatos pelas federações locais.

“Há dois gêneros no futebol, e queremos mostrar isso, contar essa história. Aceitamos qualquer pessoa que deseje contar essa trajetória e podemos dar suporte”, finaliza Dërkop, dono de coleção de 600 camisas de seleções.

Os uniformes vão desde os mais famosos até os de regiões não reconhecidas como nações, mas que fazem parte do que ficou conhecido como o futebol fora do guarda-chuva da Fifa. Entidades como a Confederação de Futebol de Associações Independentes (Conifa) organizam competições entre essas equipes.

Alguns dos idealizadores do projeto Forgotten Heroines fazem parte de outras iniciativas de futebol que estão fora do radar de organizações oficiais. Como o britânico Paul Watson, que largou tudo no Reino Unido para formar a primeira seleção de futebol de Pohnpei, uma ilha na Polinésia.

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