Promessa de Bolsonaro: área na Amazônia cortada por BR-319 já sofre com desmatamento

Especulação sobre a pavimentação da rodovia gerou um boom no desmatamento na região do entorno (Brenno Carvalho/Agência O Globo)

Com informações do Infoglobo

BRASÍLIA (DF) – Dados inéditos obtidos pelo Globo mostram que a região da Amazônia cortada pela BR-319, que o presidente Jair Bolsonaro quer pavimentar, já sofre com aumento do desmatamento e da grilagem de terras. A rodovia acabou deflagrando, ainda, o chamado o efeito “espinha de peixe”, que é quando pequenas estradas cortam a floresta a partir ou em direção a uma rodovia principal ampliando as áreas de ocupação ao longo da estrada principal. 

Dados de um estudo preliminar feito com imagens de satélites ao qual o Globo teve acesso mostram que, apenas em 2020, 410 quilômetros de estradas vicinais na região do entorno da rodovia foram abertos, para alarde de cientistas e ambientalistas. Os satélites também mostram que o desmatamento nos municípios cortados pela rodovia vem aumentando acima da média da Amazônia, que já está alta. Em julho, o governo anunciou a licitação para a pavimentação de um dos trechos da rodovia. A obra total está orçada em R$ 1,5 bilhão.

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A BR-319 tem, aproximadamente, 850 quilômetros e liga Porto Velho a Manaus. Foi construída no final dos anos 1970, ainda durante a ditadura militar. Nos anos 1980, foi abandonada. Atualmente, apenas os trechos nos dois extremos (próximo a Manaus e a Porto Velho) são pavimentados. A rodovia corta uma das regiões mais ricas em biodiversidade da Amazônia, conhecida como o interflúvio dos rios Madeira e Purus. É um “corredor” de floresta até então bem preservada que atualmente está pressionado pelo avanço do agronegócio. No total, faltam pavimentar 459 quilômetros da rodovia.

A pesquisadora Fernanda Meirelles, do Idesam, afirma que essas vicinais funcionam como vetores de desmatamento em uma região que estava, até então, preservada. “O efeito “espinha de peixe” já começou e se concentra, especialmente, na região Sul do Amazonas, mais próximo ao município de Humaitá. Ali, a gente percebe o surgimento de estradas tanto saindo da rodovia quanto em direção a ela. Elas fomentam o desmatamento e aumentam a pressão sobre comunidades tradicionais. Já temos relatos de moradores que foram expulsos por grileiros”, afirma Fernanda.

Em meio ao avanço do desmatamento na Amazônia, a secretária de licenciamento ambiental do Programa de Parcerias e Investimentos do governo federal, Rose Hofmann, defende a pavimentação da rodovia. Ela nega que o projeto seja temerário para a região.

“Não considero temerário. Nós iremos conciliar o direito de ir e vir com uma boa governança territorial”, afirmou.

Já o biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e membro do Painel Internacional das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (IPCC) que recebeu o Nobel da Paz, em 2007, Philip Fearnside, no entanto, discorda de Hofmann. Segundo ele, não há razões práticas para acreditar que o desmatamento na região será coibido considerando a atual política ambiental do governo.

“Isso será um tiro no pé. Essa região é uma das principais responsáveis pela umidade que viaja pelo País e se transforma em chuva em lavouras mais ao Sul do País. Se essa floresta desaparecer, não vai haver umidade. O impacto será devastador”, explica.

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