‘Quando falamos de clima, não podemos esquecer de direitos territoriais’, afirma indígena brasileira na Cúpula do Clima

Sinéia do Vale, ou Sinéia Wapichana, participou de painel sobre combate a mudanças climáticas (Reprodução/Youtube)

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não foi o único brasileiro a participar da Cúpula de Líderes sobre o Clima nesta quinta-feira, 22. A indígena Sinéia do Vale, da etnia Wapichana, também era convidada do evento onde destacou a necessidade de respeitar direitos e territórios dos povos indígenas para garantir o desenvolvimento de técnicas que contribuam no combate às mudanças climáticas. Líder do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Sinéia lembrou ainda que “a mudança climática não é algo que vai acontecer, é algo que está acontecendo”.

“Políticas públicas para assuntos climáticos são importantes. Isso significa que os povos indígenas, não só no Brasil, mas no mundo, podem ter seus direitos assegurados, porque quando falamos de conservação florestal, principalmente na Amazônia, nós estamos falando sobre áreas de conservação florestal e terras indígenas. Os indígenas têm sido barreiras de conservação contra o desmatamento e degradação, os indígenas têm que ter os direitos assegurados por leis”, destacou Sinéia Wapichana.

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O debate ocorreu em um painel moderado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e focado na ação da sociedade civil e de governos locais no combate a mudanças climáticas. Contou apenas com a presença de representantes femininas, como a prefeita de Paris, na França, Anny Hidalgo, a governadora do Novo México, Michelle Lujan Grisham, a prefeita de Novo México, no México, Claudia Sheinbaum, e a presidente do Congresso Nacional de Indígenas Americanos, Fawn Sharp, entre outras.

O painel moderado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos teve a participação apenas de mulheres (Reprodução/Youtube)

Sinéia Wapichana também lembrou da importância de chamar a atenção do Brasil e do Mundo para a reponsabilidade de que todos os recursos financeiros e fundos sejam efetivos e ajudem realmente as pessoas.

“Nós temos que ser vigilantes para que todas as leis no Brasil sejam implementadas e cuidadas, porque quando falamos de clima não podemos esquecer de direitos territoriais. Então mudanças climáticas, como o Acordo de Paris chama esse tópico, nós chamamos de ‘transformação do tempo’ que já começou a ter impacto na vida social e cultural dos povos indígenas”, lembrou a líder indígena.

Adaptações

Em seu discurso, Sinéia ressaltou que falar sobre adaptação às mudanças climáticas pode dar a entender que se trata de adaptar-se a algo que não queremos, mas nesse caso seria lutar contra mudanças que não queremos ver. Ela destacou ainda o que associações como o CIR têm feito referente algumas adaptações.

“Nós temos um plano para lutar contra as mudanças climáticas na perspectivas dos indígenas. Nós temos soluções que incluem bancos de sementes, em que é possível estudar e identificar sementes que sejam resistentes a altas temperaturas e a baixas temperaturas”, disse ela.

O discurso de Sinéia Wapichana, diferente do que era esperado, não teve críticas ao governo federal ou ao presidente Jair Bolsonaro, que discursou no evento pela parte da manhã. No entanto, ela não deixou de acentuar o fato de que “as políticas públicas no Brasil não são efetivas”, se referindo à necessidade de que direitos, terras e fronteiras indígenas sejam respeitadas e asseguradas.

Brasil tem metas a cumprir

Em seu discurso por meio de videoconferência na Cúpula do Clima, Bolsonaro afirmou que vai duplicar os investimentos em órgãos de fiscalização e combate a crimes ambientais no Brasil. Bolsonaro ainda disse que o París vai reduzir em 43% as emissões de gás carbônico até 2030 e terá neutralidade climática até 2050. A preservação da Amazônia também teve destaque especial no discurso.

O presidente não anunciou nenhuma meta a curto prazo para a redução do desmatamento em 2021, conforme estava programado inicialmente. Os pontos contemplados foram o anúncio de recursos para a fiscalização ambiental e a antecipação da neutralidade climática.

“Apesar das limitações orçamentárias do governo, determinamos o fortalecimento dos órgãos ambientais duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização, mas é preciso melhorar a vida dos mais de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, a região mais rica do País e recursos naturais, mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano. A solução desse paradoxo amazônico é condição essencial para o desenvolvimento sustentável da região. Devemos aprimorar a governança da terra e tem como tornar realidade, abrindo a economia e valorizando efetivamente a floresta e a biodiversidade”, afirmou o presidente brasileiro.

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