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‘Que não fique apenas no papel’, diz pesquisador da Amazônia sobre acordos na COP26
A vila de Gusdorf, a oeste de Colônia, é retratada em frente a uma usina de energia não-renovável (Arnd Wiegmann/Reprodução)
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03 de novembro de 2021
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS – Alguns dos principais países mobilizados no enfrentamento às mudanças climáticas assinaram, nessa terça-feira, na 26ª Conferência do Clima (COP26), dois acordos para reduzir o desmatamento e a emissão do gás metano. O Brasil participou da assinatura de ambos documentos. O primeiro, o Forest Deal, prevê zerar o desmatamento no mundo até 2030 para proteger as florestas. Já o Compromisso Global do Metano pretende reduzir em 30% as emissões do gás, também até 2030.
Ambos os acordos visam limitar o aquecimento global a 1,5ºC. À CENARIUM, o diretor da Associação para Conservação da Vida Silvestre (WCS-Brasil), Carlos Durigan, pontua que as assinaturas dos acordos são importantes, mas é necessário que promovam ações concretas e não fiquem apenas nos “discursos vazios”. Ele também pontua a necessidade do governo federal somar a esses esforços, e não trabalhar contra.
“Nós precisamos ver, concretamente, como as ações vão se reverter, porque nós vemos aí um esforço de governos estaduais, em alguns casos, a sociedade civil organizada, movimentos dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, combatendo o desmatamento por meio de ações positivas e também denunciando esse cenário nacionalmente e até internacionalmente. O que nós precisamos saber agora é se o governo federal vai se somar a esses esforços ou continuar trabalhando contra”, destaca o geógrafo.
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O metano é o gás responsável por 30% do atual aquecimento global. Além de ser produzido em larga escala pelos rebanhos de gado, também é liberado de aterros sanitários e pela produção de combustíveis fósseis. Apesar de ser 80 vezes mais poluente do que o Dióxido de Ccarbono (CO2), o metano fica menos tempo no ar, em torno de 11 anos. O CO2, o “vilão” do efeito estufa, só se dissipa totalmente em mil anos.
“No caso do metano, é o segundo gás de grande efeito nas mudanças do clima, um gás de efeito estufa muito potente. Depois do dióxido de carbono, é o principal. O Brasil tem quase 70% das emissões de metano, que vem das atividades relacionadas à agropecuária”, explica Durigan.
Gases do efeito estufa
A meta de 1,5°C é considerada vital para evitar um colapso climático no planeta. As projeções dos cientistas variam de 3°C a 5°C nos próximos 80 anos, se nenhuma medida drástica de controle for adotada. Nos últimos 100 anos, a temperatura média da Terra (em torno de 15°C) elevou-se 0,8°C – dos quais 0,6°C foram entre os anos 1990 e 2020.
Na Agência Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente, atualmente, quase um quarto (23%) das emissões mundiais de Gases de Efeito Estufa (GEEs) vêm da agricultura e da indústria madeireira. Juntos, os mais de 100 países signatários do compromisso histórico, como Rússia, Estados Unidos, China, Austrália e França, concentram mais de 85% das florestas do mundo, uma área superior a 21 milhões de quilômetros quadrados.
O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), Observatório do Clima, divulgou, na semana passada, uma pesquisa que mostra o Brasil na contramão do mundo, com aumento de 9,5% nas emissões de gases poluentes em 2020, em plena pandemia de Covid-19. A média global de emissões sofreu uma redução de 7%.
Financiamento
O Forest Deal, também chamado de “pacto das florestas”, terá subsídios de US$ 19,2 bilhões entre recursos públicos e privados como compensação aos países em desenvolvimento. O fundo é menos de 20% dos US$ 100 bilhões prometidos anualmente aos países em desenvolvimento na COP21, realizada em Paris em 2015, como compensação às medidas de combate ao aquecimento global.
Segundo a Agência Brasil, parte desses recursos virá de financiamento por 12 países – como Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, Alemanha, Coreia do Sul, integrantes da União Europeia, Canadá e Japão –, com cerca de R$ 68 bilhões previstos até 2025. O objetivo é apoiar iniciativas como a restauração de terras degradadas, o combate a incêndios florestais e o apoio aos direitos das comunidades indígenas.
Já o setor privado – representado na COP26 por CEOs de mais de 30 instituições financeiras – responderá por mais R$ 41 bilhões em financiamentos. Desse total, R$ 17 bilhões devem ir para a iniciativa Finanças Inovadoras para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, na sigla em inglês), visando a promover a produção de soja e gado sem desmatamento na América Latina. Dirigentes dessas instituições também irão se comprometer a não investir mais em atividades ligadas ao desmatamento.
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