Queda de Ernesto Araújo vira ‘alívio’ para diplomatas brasileiros nos EUA

Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Com informações da Folhapress

WASHINGTON/EUA – Diplomatas brasileiros nos Estados Unidos viram com alívio a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores e esperam que a troca no comando do Itamaraty seja uma chance para o País reabrir canais diplomáticos obstruídos e aumentar a eficácia da relação bilateral com a Casa Branca.

A avaliação é a de que o desempenho de Ernesto, baseado em pilares ideológicos, era ineficaz tanto no contato direto com o governo americano – que exige pragmatismo sob o democrata Joe Biden – quanto diante de empresários e investidores baseados nos EUA e que têm interesse no Brasil.

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Entre as principais queixas estava o fato de o agora ex-chanceler bloquear diálogos importantes com um discurso pouco objetivo e de falhar em negociações relacionadas à pandemia, como as que giram em torno de pedidos para compra ou doação de excedentes de vacinas em estoques americanos.

Minutos após a queda de Ernesto, um funcionário do alto escalão do Departamento de Estado americano afirmou que a mudança na chancelaria brasileira “não vai afetar fundamentalmente” a relação entre EUA e Brasil sobre questões de mudanças climáticas, por exemplo, principal agenda bilateral hoje.

Ele disse que essa é uma conversa “de País para País”, o que foi interpretado por diplomatas brasileiros como mais um indício da pouca importância da figura de Ernesto em tratativas nesse sentido. Admirador de Donald Trump, Ernesto não se empenhou para criar pontes com o governo de Biden, atuação que ficou concentrada na embaixada do Brasil em Washington.

Uma das funções da representação diplomática é abrir portas e estabelecer relação com diversas instâncias do governo e da sociedade americana, mas parte dos diplomatas diz que ter fluidez na interlocução do primeiro escalão é fundamental e, no caso de Ernesto, isso era pouco efetivo.

Desde que Biden tomou posse, em 20 de janeiro, o agora ex-chanceler havia conversado com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em um telefonema marcado pelo americano no período em que conversou com outros de seus pares na América Latina.

O ex-ministro também havia falado com o enviado especial do clima do governo Biden, John Kerry, ao lado do ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em uma reunião virtual articulada pelo embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster.

Sobre vacinas, porém, Ernesto pouco fez. Na semana passada, o Itamaraty informou que havia começado as tratativas com a Casa Branca sobre eventual importação de imunizantes contra a Covid-19 em 13 de março, depois que outros países, como o México, já haviam feito solicitação parecida.

A data divulgada pelo governo brasileiro é também posterior às notícias da imprensa americana que diziam que o governo Biden estava sendo pressionado a compartilhar os fármacos da AstraZeneca.

Os EUA doaram doses extras de vacinas ao México e ao Canadá -o pedido mexicano aconteceu em 10 de março, em reunião virtual entre Biden e o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, mas não há sinais de doações aos brasileiros ou a outros países.

Ernesto ainda tentou deixar o Brasil fora do Covax, mecanismo da OMS para distribuição de vacinas a países em desenvolvimento, por achar que se trata de uma iniciativa globalista -os EUA fazem parte do consórcio, e o excedente de imunizantes do país poderia ser doado por meio do programa.

Já em apresentações ao setor privado americano, dizem diplomatas, Ernesto perdia credibilidade ao focar em seu discurso questões ideológicas e passar muito superficialmente -com citações a temas óbvios- pelas relações entre Brasil e EUA.

Um dos exemplos mais recentes foi uma palestra realizada virtualmente no início de março pelo think tank Council of the Americas. Em 40 minutos, Ernesto discursou muito e respondeu a poucas perguntas, dizendo que o Brasil queria apoio dos EUA para lutar contra o “narcossocialismo” na América Latina.

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