Queimadas no Pantanal e na Amazônia são provenientes de ações humana, diz Carlos Nobre
De janeiro à primeira quinzena de setembro deste ano, o Pantanal teve mais de 2,9 milhões de hectares atingidos pelo fogo, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) (Reprodução/Internet)
Da Revista Cenarium*
O climatologista Carlos Afonso Nobre, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disse nesta quinta-feira, 17, à CNN que os incêndios detectados atualmente no Pantanal e na Amazônia são “praticamente todos ilegais”. Ele explicou que isso acontece porque não há tempestades que causem descargas elétricas ou raios que possam desencadear o fogo em uma vegetação seca.
“Eles [incêndios] todos são de origem humana. Quase todos são fogo de agricultores, pecuaristas, fazendeiros vão e colocam. Não é uma faísca acidental que surgiu em um trator que está operando ali, isso é muito raro”, afirmou Nobre.
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Vale lembrar que nessa quarta (16), Dinamarca, França, Holanda, Alemanha, Itália, Noruega, Reino Unido e Bélgica assinaram uma carta enviada ao vice-presidente Hamilton Mourão expressando preocupações com a degradação da Amazônia.
No documento, os signatários afirmam que “na Europa, há um interesse legítimo no sentido de que os produtos e alimentos sejam produzidos de forma justa, ambientalmente adequada e sustentável” e por isso os números do desmatamento na floresta amazônica estariam preocupando “consumidores, empresas, investidores e a sociedade civil”.
Usar fogo é prática tradicional na agropecuária
Para o climatologista, as chamas no Pantanal derivam da prática tradicional da agricultura e da pecuária brasileira de usar o fogo para renovar um pasto.
Segundo Nobre, ações que poderiam auxiliar a reduzir a incidência do fogo no curto prazo é “fiscalização e uma ação muito mais proativa e eficaz”. Mas ele ressalta que ainda é preciso analisar por que os incêndios continuam tão altos, mesmo com os cerca de 3,6 mil homens do Exército tentando apagar as chamas. “Pode ser porque a estação está muito seca.”
O climatologista destaca que, no médio e longo prazo, é preciso mudar a cultura brasileira. “Agricultura que usa fogo é uma agricultura do século 19, 20. Agricultura do século 21 não usa fogo.” Ele lembrou que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já informou a respeito de métodos que não utilizam fogo e têm resultados positivos na produção.
Confiabilidade nos dados
Dados do Inpe mostram um aumento de 7% no número de focos de incêndio em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar de parecer um crescimento pequeno, 2019 foi o ano em que foi registrada a maior quantidade de queimadas na Amazônia desde 2012.
Sobre a confiabilidade dos dados sobre os incêndios, Nobre disse que eles “são muito confiáveis”. “Os satélites não mentem. Eles estão mostrando com muita clareza o que está acontecendo na Amazônia, no cerrado, no Pantanal, em termos de focos de incêndio”, declarou.
Ele explicou ainda que, apesar da limitação dos satélites – que não enxergam através das nuvens, segundo Nobre –, não há nuvens nessas regiões nesta época do ano, que é muito seca.
A situação fica agravada pelas mudanças climáticas, já que elas dificultam o processo de recuperação da vegetação. Nobre afirmou que no cerrado e no Pantanal o fogo sempre esteve presente, causado por descargas elétricas ou pela transição da estação seca, mas o bioma acabou se adaptando à ocorrência das chamas.
“O que está acontecendo aqui no cerrado, na Califórnia, na Sibéria, na Austrália, é que o aquecimento global está trazendo temperaturas muito mais altas, estamos tendo recordes no Pantanal, e um ar muito seco”, disse ele.
“Os incêndios se repetem com muita frequência. Não há mais tempo de a vegetação se recuperar naturalmente. Se não controlarmos o aquecimento global e não mudarmos essa prática de usar o fogo na agricultura e na pecuária, vamos acabar com todos esses ecossistemas.”
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