Seca agrava dificuldade em comunidades indígenas no Vale do Javari
Por: Giuliana Fletcher
30 de setembro de 2024
Embarcação de pequeno porte no Rio Curuçá, no Vale do Javari (AM) (Reprodução)
MANAUS (AM) – O Amazonas enfrenta, pelo segundo ano consecutivo, as piores e mais intensas secas já registradas desde o início do monitoramento do nível dos rios. O vice-presidente da Associação Marubo do Médio Rio Curuçá (AMAS), Clóvis Marubo, conversou com a CENARIUM nesse domingo, 29, e relatou as dificuldades causadas pela seca severa atinge a sub-região do Médio Rio Curuçá, localizado no Vale do Javari (AM). Cerca de 280 moradores de quatro aldeias são afetados pela estiagem sem precedentes, que causa reflexos preocupantes no transporte, alimentação e abastecimento de medicamentos.
O líder indígena é um dos moradores da Aldeia São Sebastião e opera um monitoramento junto a associação de uma área de 173 quilômetros de extensão ocupada pelos povos indígenas Marubo. Clóvis destacou que neste ano o nível do rio baixou de forma antecipada em comparação com os anos anteriores formando bancos de areia, o que dificultou a navegação na região.
Moradores transportando materiais em duas embarcações na região (Reprodução)
“O nível da água dos rios está muito abaixo de outras secas de anos que se passaram. Já aconteceu da canoa ir à deriva no meio do Rio Javari e Rio Itacoaí. Nos Rios tem cachoeira e muito banco de área que impossibilita a navegação dos transportes”, afirmou.
O líder indígena enviou registros à CENARIUM que mostram as dificuldades de navegação na região. Em um dos vídeos é possível observar a dificuldade de navegação das embarcações, além do nível extremamente baixo das águas. Outros trechos mostram os moradores dentro do rio dizendo que não tem peixes no local e que a água registra alta temperatura.
Além disso, Clóvis relatou que após a gravação, sete pessoas encontram-se com alergias, e que por este motivo estão fazendo o uso de hipoclorito de sódio, uma substância química que pode ser usada para purificação da água. Ele demonstrou indignação pelo estado ao qual os moradores dessas comunidades estão submetidos.
“Os povos indígenas Marubo da sub-região do Médio Rio Curuçá, utilizam água dos igarapés e do Rio. Porém com essa seca a água muda de cor, tem cheiro de ferrugem, a água fica parada. É a razão dos indígenas usarem hipoclorito. Sabemos que usar química não é bom para saúde. Mas nesse período é a única forma“, frisou.
Os moradores utilizam embarcações de pequeno porte para transportar alimentos e pescar, mas o nível do rio não permite que a carga esteja completa, sob risco de encalhar a embarcação em bancos de areia. A duração da viagem dura cerca de 4 horas nos locais mais próximos e 8 horas em locais mais distantes.
Outro fator alarmante é a falta de medicamentos na região. Segundo Clóvis, uma equipe de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) afirmou aos moradores que diversos medicamentos estão em falta na unidade. Ele destacou ainda que algumas das aldeias da região não possuem transportes adequados para navegar em águas com baixos níveis, causando o isolamento dos moradores.
Seca em TIs
Dados divulgados em boletim Trimestral revelam que o maior número de territórios indígenas afetados pela seca extrema estão localizados no Amazonas. Ao todo, são 42 territórios, três mil domicílios indígenas e 15 povos originários. Uma das etnias está isolada da civilização, segundo o levantamento.
Os índices são disponibilizados pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e foi produzido no âmbito da ‘Seca Extrema nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira’.
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