Reeleição de prefeitos no AM reflete tendência nacional conservadora
Por: Carol Veras
28 de outubro de 2024
MANAUS (AM) – Os resultados das eleições municipais de 2024, divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram que 24 prefeitos (38,7%) no Amazonas, dos 62 municípios, conseguiram a reeleição. Em todo o País, cerca de 80% dos candidatos às prefeituras se mantiveram no cargo, o equivalente a 2.571 cidades.
O panorama não é novidade, como mostra a análise dos cientista políticos Carlos Santiago e Helso Ribeiro à CENARIUM. Santiago observa que o movimento do voto conservador vem acontecendo desde as eleições de 2022, quando dos 20 candidatos a governador que já exerciam o cargo e postulavam a reeleição, 18 obtiveram êxito com o eleitorado. O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), foi um dos beneficiados pela estatística, quando seguiu no cargo com a vitória de 56,98% dos votos.
Em 2024 na capital amazonense, o resultado não divergiu dos outros municípios, reelegendo o atual prefeito David Almeida (Avante), com 54,59% dos votos. “David não fez algo inédito, diferente ou inovador. Ele apenas seguiu com a habilidade política que possui e com a composição que realizou, alinhando-se à tendência nacional de eleger a maioria absoluta dos gestores que disputaram a reeleição, independentemente de posição ideológica”, comenta Santiago.
Um dos principais fatores que contribuem com o aumento da estatística, de acordo com Helso Ribeiro, é a ausência de servidores públicos concursados em várias cidades, o que leva a uma estrutura com alta dependência de cargos comissionados. Esses cargos, argumenta o cientista, representam um forte ativo político.
“Cada pessoa num cargo comissionado tem uma família que vai apoiar, e cada cargo gera, em média, de quatro a seis votos”, explica Ribeiro. Ele acrescenta, ainda, que essa rede de apoio se expande para amigos e simpatizantes, formando uma base de eleitores que deseja estabilidade para os ocupantes dos cargos.
Outro aspecto destacado pelo cientista político é a continuidade das obras públicas, muitas vezes comprometidas por trocas de gestão. Segundo ele, prefeitos optam por reeleger-se para garantir o término dos projetos iniciados em seus mandatos, evitando que um sucessor, sobretudo de partido oposto, interrompa as iniciativas para não creditar o antecessor. “Como, em geral, os prefeitos estão mais visíveis e são mais conhecidos. Muitas vezes as pessoas votam neles por conta desse conhecimento”, acrescentou Ribeiro.
Cenário
Nas recentes eleições municipais no Amazonas, União Brasil, MDB e Republicanos se destacaram como os partidos que mais reelegeram prefeitos. O União Brasil foi o partido com o maior número de reeleições, somando 13 prefeitos reconduzidos ao cargo. Entre os nomes, destacam-se Denis Paiva (Atalaia do Norte), Zé Roberto (Canutama), Tonho (Codajás), Humaitá (Dedei Lobo), Iranduba (Augusto Ferraz), Professor Vanilso (Japurá), Pastor Edir (Maraã), Marina Pandolfo (Nhamundá), José Beleza (Santa Isabel do Rio Negro), Gibe Martins (São Paulo de Olivença), Jander Barreto (São Sebastião do Uatumã), Gamaliel Andrade (Tapauá) e Nicson Marreira (Tefé).
O MDB, segundo partido com mais reeleições, contou com seis prefeitos reconduzidos, incluindo Nazaré Rocha (Amaturá), Katia Dantas (Anamã), Adail Pinheiro (Coari), Professora Áurea (Eirunepé), João Campelo (Itamarati) e Cecéu (Santo Antônio do Içá). Já o Republicanos manteve cinco prefeitos no cargo: Régis Nazaré (Anori), Toco Santana (Borba), Mário Abrahim (Itacoatiara), Professor Paulino Grana (Silves), e Sales (Tonantins).
Entre todos os partidos que participaram das eleições municipais no Amazonas, o Podemos e o PDT foram os que menos conseguiram reeleger candidatos, com um prefeito cada, ambos eleitos em cidades onde não houve reeleição do titular anterior.
Pluralidade
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que prefeitos brancos mantêm a maioria dos cargos no País, apesar de não liderarem em percentual nas eleições. Dos 2.105 prefeitos brancos que buscaram a reeleição, 78% conseguiram. Pessoas pretas registraram o maior índice de reeleição, com 87%, garantindo 67 dos 77 mandatos disputados.
Entre candidatos pardos, a taxa de reeleição foi de 84%, com 840 dos 1.000 prefeitos reeleitos. Já os indígenas e amarelos, que possuem menor representatividade, reelegeram 6 de 7 e 5 de 6 prefeitos, respectivamente. Quanto ao gênero, os homens alcançaram uma taxa de reeleição de 81%, assegurando a liderança em 2.231 municípios, enquanto as mulheres conquistaram um recorde de 76%, com 340 prefeitas reeleitas.