Refino privatizado e lucro de empresários representam 72% do preço da gasolina no AM


Por: Jefferson Ramos

07 de outubro de 2025
Refino privatizado e lucro de empresários representam 72% do preço da gasolina no AM
O mapa do Amazonas feito de gasolina e uma refinaria (Freepik e ImageFX | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O refino privatizado feito pela Refinaria da Amazônia (Ream), administrada pelo grupo Atem desde o final de 2022, e a margem de lucro das distribuidoras e postos de combustível representam 72% da composição do preço da gasolina comum no Amazonas, vendida a R$ 6,99. Os itens do preço do combustível são os maiores registrados no País.

A margem de lucro dos empresários que atuam na distribuição e revenda é de R$ 1,92. Trata-se do percentual mais elevado entre as 17 unidades da federação pesquisadas pelo painel de preços da Petrobras, de acordo com os dados disponíveis para consulta.

O refino, processo químico feito para se obter derivados a partir do petróleo, é o mais caro não só no Amazonas, como em toda a Região Norte. De acordo com o site da Ream, a empresa privada cobra R$ 3,15 para realizar o serviço. O mesmo processo é realizado pela estatal Petrobras por, em média, R$ 1,09 nos Estados em que a estatal faz o refino.

Refinaria da Amazônia (Reprodução/Ream)

Os dados consultados pela reportagem apontam que, sozinho, o refinamento representa 45% do preço da gasolina comum vendida no Amazonas. A margem de lucro completa os outros 27%. Ainda conforme a Petrobras, a margem de lucro é um número estimado.

Leia também: ANP determina que Refinaria da Amazônia volte a processar petróleo

A Ream pratica o Preço de Paridade Internacional (PPI), que repassa todas as oscilações do preço do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional ao consumidor final. A Petrobras abandonou essa política em 2023. Dos nove Estados da Amazônia Legal, a refinaria privatizada em 2022 durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atua em sete, com exceção de Tocantins e Maranhão.

À CENARIUM, o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro), Marcus Ribeiro, avalia que a margem de lucro é elevada no Amazonas porque no mercado local não existe concorrência e que o grupo Atem, que administra a refinaria, também atua na distribuição e revenda, consolidando o que ele classifica como monopólio ou cartel.

“Essa margem de lucro é enorme pelo fato de não ter concorrência. E como não tem essa concorrência de fornecedor de produto, então eles [fornecedores] fecham um determinado valor de margem. Como também a refinaria pertence ao maior grupo que detém a distribuição, ela pode até diminuir o preço do refino, mas é o Atem que manda no preço”, analisou Ribeiro.

‘Produto comprado pronto’

A economista Denise Kassama do Conselho Federal de Economia (Cofecon) explica que a iniciativa privada pratica o preço e determina a margem de lucro que bem entender. Ao contrário de uma empresa estatal como a Petrobras que é obrigada a beneficiar a economia popular e tem mais condições de diluir custos na própria estrutura presente em todo o País.

Região Norte registrou o maior preço médio da gasolina no País em agosto de 2025, puxado por Amazonas e Acre (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

“O refino não é feito pela refinaria privatizada. A gasolina é comprada pronta e revendida e isso torna o produto muito mais caro. A Petrobras conseguiria dissolver esses custos por toda a rede, porque as refinarias são interligadas”, avaliou a economista

Cadeia de preços

O preço da gasolina é formado por uma cadeia que envolve a refinaria, que vende o combustível sem cobrar impostos, e a distribuidora e revenda, que repassam os custos de operação, cobram os impostos federal e estadual.

Atualmente, incide sobre a gasolina R$ 0,68 de impostos federais e R$ 1,47 do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Além disso, há adição de R$ 0,96 do etanol anidro, bem como a parcela de lucro da distribuição e revenda.

Investigação

O preço da gasolina está congelado desde o dia 12 de julho, quando recuou de R$ 7,09 para R$ 6,99. A redução de R$ 0,10 coincidiu com o pedido de investigação à Polícia Federal (PF) e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), feito no dia 3 de julho pela Advocacia Geral da União (AGU) para que os órgãos investiguem possíveis práticas anticoncorrenciais nos preços da gasolina, óleo diesel e do gás de cozinha.

Na representação encaminhada aos órgãos, o governo federal aponta para indícios de que distribuidoras e revendedoras não repassaram integralmente aos consumidores as reduções de preços promovidas pelas refinarias entre julho de 2024 e junho de 2025.

De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, essas empresas teriam reduzido apenas parcialmente seus preços, o que resultou em aumento das margens de lucro e prejuízos aos consumidores finais.

Leia mais: ANP nega informações sobre Refinaria da Amazônia, diz sindicato
Editado pro Jadson Lima

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.