Refugiados indígenas Warao são acolhidos no interior do Pará
Por: Fabyo Cruz
22 de outubro de 2024
BELÉM (PA) – Um dos grupos indígenas mais antigos da Venezuela, os Warao têm se estabelecido em diversas cidades brasileiras. A migração desse povo para o Brasil aumentou significativamente nos últimos oito anos, impulsionada pela crise econômica e política venezuelana, que resultou em falta de recursos e aumento da violência. Em Santarém, no Oeste do Pará, a comunidade Warao, por meio do projeto “Teribunoko”, descobriu novas maneiras de manter sua cultura e buscar uma vida mais digna em solo brasileiro. A iniciativa visa conscientizar a sociedade sobre os desafios que os povos indígenas refugiados enfrentam.
Desde 2017, o projeto “Teribunoko”, coordenado pela professora Dra. Helena Schiel, tem atuado de maneira decisiva para melhorar a assistência aos refugiados indígenas Warao da Venezuela, estabelecidos em Santarém. A atividade, fruto de uma demanda do Ministério Público Federal (MPF), é realizada pelo Laboratório de Etnologia Indígena (LaborE), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em parceria com a Casa de Acolhimento para Adultos e Famílias (Caaf). O objetivo principal é promover atividades que atendam às necessidades culturais, sociais e educacionais dos Warao, contribuindo para a integração dessas comunidades na cidade.
O “Teribunoko”, que significa “escola” em Warao, desenvolve ações em quatro frentes: artesanato, combate ao preconceito, ensino da língua portuguesa e preservação cultural. A área de artesanato organiza feiras mensais na Ufopa, além de participar de exposições e buscar parcerias com outras instituições para garantir a continuidade das produções Warao.
Outra frente importante do projeto é a promoção de palestras em escolas de Santarém, que visam combater preconceitos e disseminar informações precisas sobre a diáspora indígena venezuelana. “Na época, havia muitas notícias falsas circulando sobre os Warao, e sentimos que a escola seria um ambiente ideal para abordar o tema. Encontramos uma grande receptividade entre os estudantes, e alguns até se voluntariaram para o projeto”, relata a professora Helena Schiel.

O aprimoramento da língua portuguesa é outra iniciativa central. As aulas são realizadas semanalmente no abrigo da Caaf, adaptadas às necessidades práticas dos Warao no cotidiano de Santarém. “Os alunos variam muito em seu nível de escolarização, com alguns nem sequer falando espanhol. Então, desenvolvemos um método baseado em situações do dia a dia, como transporte, documentos e serviços públicos. Já recebemos relatos de que essas aulas ajudaram alguns a conseguir emprego”, comenta Schiel.
Por fim, o projeto criou um repositório digital (diasporawarao.wordpress.com) para armazenar e divulgar material sobre a cultura Warao e suas experiências no Brasil, servindo como uma ferramenta de ensino e conscientização.
A Importância dos voluntários
Com vagas abertas para voluntários, o “Teribunoko” busca ampliar sua atuação. O perfil ideal inclui estudantes interessados em etnologia indígena e dispostos a aprender línguas estrangeiras, uma vez que a comunicação com os Warao é majoritariamente em espanhol. “Os Warao se sentem acolhidos quando nos dispomos a aprender a língua deles. Isso cria empatia e fortalece o vínculo entre as equipes e os refugiados”, destaca a coordenadora.

O projeto, que já conta com voluntários e bolsistas, continua em expansão, buscando mais apoio para enfrentar os desafios da migração indígena e garantir que os Warao possam manter sua cultura e dignidade em meio à difícil realidade do refúgio.
Migração dos Warao
Os Warao, cujo nome significa “povo da água”, são um dos grupos indígenas mais antigos da Venezuela, com cerca de 8 mil anos de história. De acordo com o Censo/IBGE de 2011, são a segunda etnia mais numerosa, com aproximadamente 49 mil pessoas. Sua língua materna é o Warao, e tem o espanhol como segunda língua. Eles habitam principalmente o estado de Delta Amacuro e partes dos estados de Monagas e Sucre, na região Nordeste do Delta do rio Orinoco.
Em 2014, os Warao chegaram ao Brasil, porém sua presença se tornou notável a partir de 2016, devido à crise na Venezuela, que causou escassez, hiperinflação e violência, resultando em um aumento significativo da migração de venezuelanos ao Brasil. Até meados de 2018, os Warao estavam em cinco cidades brasileiras: Pacaraima, Boa Vista, Manaus, Santarém e Belém.
Em Santarém, a assistência aos indígenas Warao é garantida pela Caaf, supervisionada pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras), que começou com a chegada de 30 indivíduos da etnia Warao. Atualmente, o abrigo acolhe mais de 152 pessoas, incluindo crianças e adolescentes, número varia conforme o constante deslocamento dessas famílias entre os municípios do Pará e outros estados.