Região Norte tem aumento de 92% em apreensão de cocaína, em 11 anos
Por: Cenarium*
27 de julho de 2025
MANAUS (AM) – A Região Norte teve um crescimento de 92% nas apreensões de cocaína num período de 11 anos, partindo de um patamar de 5,4 toneladas em 2013 e chegando a 10,4 toneladas no ano passado. Foi um aumento acima da média do Brasil, que viu uma alta de 72% nas apreensões da droga no período.
Já as 15,2 toneladas de maconha apreendidas em 2024 na região foram 66 vezes os 229 kg apreendidos em 2013 (um aumento de 6.530%), enquanto a média nacional dobrou no mesmo intervalo, mostram dados do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
O levantamento considera as apreensões segundo a Polícia Federal. A força pode contar dados também de instituições estaduais, segundo o documento produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Para especialistas, o Norte do Brasil, principalmente os Estados do Amazonas e Pará, viraram o principal caminho para a cocaína produzida na Colômbia e no Peru ir para a Europa. A chamada rota do Solimões oferece aos traficantes uma via fluvial, mais segura e eficaz, ainda carente de estrutura de fiscalização.
Durante esse período de 11 anos houve também com aumento dos índices de violência e de investigações sobre outros crimes, como garimpo ilegal e lavagem de dinheiro, na região.
Para especialistas, são sinais de convergência de modalidades criminosas, e de que o lucro do tráfico de drogas está financiando outras atividades ilegais e sendo lavado na própria região Norte.
Em 2023, por exemplo, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encaminhou 3.615 relatórios de inteligência financeira para autoridades dos estados que compõem a Amazônia Legal, formada por toda a região Norte, além de Mato Grosso e Maranhão. É mais do que o triplo de relatórios em relação ao que foi produzido em 2016, apontou outro estudo do Fórum, Cartografias da Violência na Amazônia.
Os relatórios só são encaminhados quando o Coaf identifica indícios de lavagem de dinheiro ou qualquer outro crime. O estudo apontou também que, nesse período, a quantidade deste tipo de documento que foi enviada a estados da Amazônia Legal cresceu 300%, ritmo muito maior do que no restante do país, que teve alta de 77%.
Os dados do órgão mostram que a relação entre o lucro do tráfico de drogas e as suspeitas de lavagem de dinheiro cresceu ao longo dos anos.
Desde 2021, o tráfico de drogas é o principal tema tratado nas comunicações eletrônicas entre o órgão de inteligência financeira e outras autoridades (antes, eram suspeitas de corrupção).
O Norte é hoje a segunda região mais violenta do país, atrás apenas do Nordeste, que vive uma guerra entre facções.
Segundo o professor Aiala Couto, pesquisador da Universidade do Estado do Pará e do Fórum, o aumento da circulação de drogas e das investigações de lavagem de dinheiro na região estão conectados. “Em Belém e Manaus, há apartamentos de luxo que são comprados e não são ocupados, cujos compradores que normalmente não são daqui. O setor imobiliário é uma das áreas de lavagem.” O Norte é hoje a segunda região mais violenta do país, atrás apenas do Nordeste, que vive uma guerra entre facções.
Couto também afirma que o aumento da circulação de drogas e das investigações de lavagem de dinheiro na região estão conectados. “Em Belém e Manaus, há apartamentos de luxo que são comprados e não são ocupados, cujos compradores que normalmente não são daqui. O setor imobiliário é uma das áreas de lavagem.”

Para enfrentar ao menos o problema da passagem de drogas pelo estado, segundo o pesquisador César Mello, associado do Fórum, as forças estaduais precisam de mais investimento do governo federal, especialmente no Amazonas.
O aumento da massa de droga apreendida indica também outro problema: cada força conta a sua apreensão, o que pode gerar duplicidade nos cálculos. Se uma ação estadual conta com informações da PF, esse número pode ser contado mais de uma vez.