Relação entre Pacheco e Bolsonaro azeda sob o signo da desconfiança

Rodrigo Pacheco e Jair Bolsonaro. (Pablo Jacob/Agencia O Globo)

Com informações do Infoglobo

BRASÍLIA — Alçado ao posto de presidente do Senado com a ajuda de Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) passou a ser visto com desconfiança no governo, que já avalia seu comportamento como perigoso para o avanço da agenda do Planalto na Casa. A aliados, o presidente demonstra inquietação por acreditar que o senador atua com a intenção de se posicionar como terceira via contra Bolsonaro e Lula em 2022. Para Bolsonaro, o interesse na cadeira presidencial faz com que Pacheco não priorize pautas do governo e ignore demandas de ministros.

As reclamações à postura do senador se estendem aos ministros Fábio Faria (Comunicações) e Paulo Guedes (Economia), que já relataram dificuldade em dialogar com Pacheco. Assim como Bolsonaro, Guedes tem o hábito de enviar torpedos do celular para ministros, senadores e deputados para discutir temas econômicos.

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Segundo interlocutores, ao contrário do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que liga quando recebe um torpedo, Pacheco dificulta o diálogo. No caso do ministro das Comunicações, o GLOBO flagrou quando Faria pediu ao chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que interviesse junto ao presidente do Senado para a escolha da relatoria da medida provisória (MP) da Privatizações dos Correios. “Ele (Pacheco) não está me atendendo”, escreveu em 26 de agosto. O senador Márcio Bittar foi escolhido novo relator na última semana.

A área econômica lista quatro projetos tramitando no Senado como prioridades. Além da privatização dos Correios, o governo tem urgência na reforma do Imposto de Renda, que pode destravar o Auxílio Brasil e plano gradual de redução dos subsídios.

A MP da Ferrovias e o projeto de lei que institui o programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem, BR do Mar, completam a lista. Há ainda no Senado outros cinco projetos de interesse de Guedes, entre eles o PL que institui o novo marco do licenciamento ambiental. Aprovado em maio na Câmara, o texto foi encaminhado para a relatoria da senadora Kátia Abreu (PP-TO) em agosto.

Pessoas próximas a Pacheco rechaçam a tese de que ele ignora ministros do governo. Alegam que nas últimas semanas, o presidente do Senado se reuniu com Ciro Nogueira, e com a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda. No final do mês passado, ele também recebeu o próprio Paulo Guedes na residência oficial do Senado para discutir a agenda econômica.

Aliados também descartam que Pacheco se colocará como um empecilho para pautas econômicas do governo. A ideia é que ele também se beneficie da aprovação de algumas medidas essenciais em uma eventual candidatura ao Planalto.

Além da dificuldade no diálogo, Pacheco impôs duas derrotas recentes a Bolsonaro. Nesta semana, devolveu a chamada ‘MP das Fake News’, e no final de agosto, rejeitou o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Nos bastidores, o senador de Minas Gerais tem conciliado agendas com dirigentes partidários que o cortejam para uma eventual aliança em 2022 e também com empresários e investidores do mercado financeiro. Na quarta-feira, se reuniu com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que comanda a fusão entre DEM e PSL. Ele é uma das apostas dos dirigentes das legendas – que pode se chamar Democracia Liberal. Além disso, Pacheco é cortejado pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, para se filiar ao partido.

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