‘Responsabilidade da prefeitura de Manaus’, diz governador do AM sobre greve de rodoviários
Por: Ana Pastana
11 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), declarou nesta quinta-feira, 11, que a paralisação total do transporte coletivo em Manaus (AM) não é de responsabilidade do Estado, mas da prefeitura. A declaração ocorre em meio à greve dos rodoviários, que pararam todas as atividades em protesto contra o atraso no pagamento dos salários do mês de agosto, cujo sistema é administrado pelo município sob a gestão de David Almeida (Avante).
Segundo Lima, o papel do Estado no sistema se restringe à garantia da meia-passagem estudantil, no valor de R$ 2,50, e esse compromisso tem sido cumprido. O governador disse que o governo do Estado já depositou R$ 19 milhões em juízo para assegurar a gratuidade dos estudantes, mas que o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amazonas (Sinetram) não conseguiu acessar os valores por estar com certidões negativas. “Nossa relação é diretamente com o aluno, para quem estamos pagando a meia-passagem, conforme já foi confirmado pela Justiça. Qualquer informação além disso é especulação”, afirmou.
Wilson Lima acrescentou que o Estado buscou diálogo tanto com o Sinetram quanto com a Prefeitura de Manaus, mas não houve acordo para receber os valores. Ele reiterou que a obrigação de custear os salários dos trabalhadores é das concessionárias e, em última instância, da Prefeitura, enquanto a função do governo estadual está limitada ao passe estudantil.
“Quero registrar minha solidariedade ao povo de Manaus, que sofre com a paralisação, e também aos rodoviários, motoristas e cobradores, que acabam prejudicados. O Estado está à disposição para colaborar dentro de suas competências”, disse.
A declaração do governador foi divulgada após o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus (STTRM) anunciar a greve total nesta quinta-feira. O movimento começou de forma parcial pela manhã, mas foi ampliado no início da tarde diante da ausência de avanço nas negociações. Mais de 500 mil passageiros ficaram sem transporte.
Nas redes sociais, David Almeida declarou que a Prefeitura de Manaus não deve repasse ao Sinetram. “Todos os repasses são feitos religiosamente aos dias 5 e 20 de cada mês. Nosso repasse do dia 5 de setembro já foi feito. O que falta para ser completado o recurso para o pagamento dos trabalhadores este mês é o recurso do Passe Livre Estudantil estadual”.
Juristas ouvidos pela CENARIUM afirmaram que culpar o governo estadual pela paralisação do transporte coletivo para estudantes não se sustenta perante o que foi decidido pelo TJAM e pelo STF. Estes tribunais determinaram que o município não só errou ao impor exigências consideradas ilegítimas, mas também não observou a via recursal adequada antes de levar o conflito às instâncias superiores.
Histórico de paralisações
A greve desta quinta-feira é mais um episódio em uma longa série de interrupções no transporte coletivo de Manaus nos últimos anos. Em 2023, os rodoviários realizaram ao menos duas mobilizações de impacto. Em fevereiro, uma paralisação atingiu a Avenida Constantino Nery, nas imediações do Terminal 1, em protesto contra o atraso de benefícios como vale-alimentação e cesta básica. Já em maio, a categoria chegou a anunciar uma greve para pressionar por reajuste salarial de 12,8%, muito acima da proposta de 4,1% apresentada pelas empresas.

No ano seguinte, a frequência das paralisações foi ainda maior. Apenas no primeiro semestre de 2024, o sistema de transporte urbano sofreu 42 interrupções, variando de manifestações rápidas a movimentos mais duradouros, sempre com a mesma pauta central: salários atrasados e indefinições sobre os repasses de subsídios.
Em 2025, a situação se agravou ainda mais. Em abril, motoristas e cobradores pararam parte da frota em uma greve que atingiu bairros inteiros. Em agosto, a categoria anunciou nova paralisação por tempo indeterminado devido ao não pagamento dos salários. Agora, em setembro, o impasse se repete e culmina na greve total decretada nesta quinta-feira.