‘Retrocesso’, ‘derrota para o Brasil’; manifestações são contrárias à privatização dos Correios

Os destaques do texto que prevê a privatização dos Correios ainda devem ser analisadas pelo plenário (Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS (AM) – A aprovação do texto-base que abre caminho para a privatização dos Correios no Brasil, nesta quinta-feira, 5, gerou manifestações contrárias de especialistas, ativistas e políticos da oposição, que chamaram a medida de um “retrocesso histórico” e uma “derrota” para o País. Segundo eles, a desestatização significa encarecimento do serviço postal e exclusão social de povos menos favorecidos geopoliticamente.

Os Correios está presente em todos os 5.570 municípios brasileiros com serviços de entrega de correspondência e produtos, emissão, regularização e alteração de CPF, emissão de certificado digital, entrada por seguro por acidente de trânsito (DPVAT) e entre outros serviços.

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A economista Denise Kassama, vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), salienta que, de 270 países, incluindo Estados Unidos, apenas oito possuem correios privatizados.

Para ela, os Correios são um exemplo de empresa estatal eficiente, sendo que nos últimos 20 anos acumulou um lucro líquido de R$ 12,4 bilhões e repassou R$ 9 bilhões em dividendos. “É importante sempre lembrar que a função do Estado é garantir o bem-estar de sua população, por meio de ações necessárias para o bem comum. Nesse sentido, as empresas estatais nasceram com essa missão, ofertando bens e serviços ao alcance de todos”, frisa Denise.

A economista reforça que a privatização dos Correios causa uma preocupação, pois irá entregar para a iniciativa privada uma empresa que possui representatividade em praticamente todos os municípios brasileiros, atuando independente do resultado econômico.

“Diferentemente do poder público, a empresa privada objetiva a maximização de lucros. Então, gera preocupação quanto a manutenção dos serviços em pequenos municípios de baixa movimentação, como no caso do interior do Amazonas, que além de pequenos, possuem difícil logística e podem ser economicamente desinteressantes. Me parece que os deputados se esqueceram que deveriam agir em prol da população”, pontuou.

Produto caro

O deputado federal da Bahia Jorge Solla (PT-BA) lembra que não há monopólio de encomendas no Brasil, mas os Correios é a única empresa que garante entrega em todo o território nacional com preço acessível. Segundo ele, o lucro do “trecho fácil subsidia o prejuízo com trecho difícil que as empresas não querem operar e, com a privatização, não existirá mais isso.”

“Sou um dos 173 deputados que votou contra a privatização dos Correios, aprovada há pouco. Agora, nos destaques, querem permitir que empresa privada possa cobrar muito mais caro em encomendas entre cidades distantes, que prejudicará mais Norte e Nordeste do País. Um apagão postal”, escreveu o deputado, em uma publicação no Twitter.

Esse impacto será sentido duas vezes maior para a população das cidades pequenas, segundo o secretário-geral da Federação dos Trabalhadores de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect-CUT), José Rivaldo da Silva. Para ele, a consequência direta será o aumento do preço dos serviços.

“A população dos grandes centros vai sentir mais a privatização no valor do frete, da entrega de mercadorias. Já a população das pequenas cidades vai sentir duplamente, na demora da chegada das correspondências e também no aumento dos preços”, disse Silva, em fala concedida à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Brasil classificou a privatização como um “ataque à soberania nacional”. Em uma publicação no Twitter, o MST destacou também que os Correios é a única instituição pública presente em todas as cidades do Brasil, garantindo envios e entregas, serviço bancário e acesso à internet. “Com a privatização, essa realidade deixará de existir”, lembrou, na publicação.

A ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB) também afirma que a aprovação do projeto é um retrocesso. Para ela, os Correios é um patrimônio histórico do Brasil. “Quem vota a favor da privatização de empresa que garante a soberania nacional não pode dizer que luta pelo nosso País”, disse, em uma publicação no Twitter.

Amazonas

No Amazonas, apenas os deputados federais José Ricardo (PT-AM) e Sidney Leite (PSD-AM) votaram “NÃO” à privatização. Os parlamentares Bosco Saraiva (Solidariedade-AM), Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM), Silas Câmara (Republicanos-AM) e Átila Lins (PP-AM) votaram “SIM” para a medida. O Delegado Pablo (PSL-AM) estava ausente e Marcelo Ramos (PL-AM) não votou porque estava presidindo a sessão.

Em nota, o deputado José Ricardo afirmou que o Projeto de Lei Nº 591/21, que prevê a privatização dos Correios, é prejudicial para a população brasileira, pois vai gerar demissão em massa, fechamento de agências, redução dos serviços, aumento dos preços dos serviços prestados.

“Além do que, não faz o menor sentido o Governo Federal abrir mão de uma empresa extremamente lucrativa. Somente no ano passado, os Correios geraram mais de R$ 1 bilhão em lucro e em 20 anos foram gerados R$12 bilhões, os quais 70% foram repassados ao Governo Federal, contrariando a falácia de que está dando prejuízo ao País. Portanto, é uma empresa muito lucrativa e necessária para o Brasil, para a Amazônia, por isso, votei contrário a essa proposta”, salientou o parlamentar.

Veja como votaram os deputados do Amazonas:

Bosco Saraiva (Solidariedade-AM) votou sim
Cap. Alberto Neto (Republicanos-AM) votou sim
Delegado Pablo (PSL-AM) ausente
José Ricardo (PT-AM) votou não
Marcelo Ramos (PL-AM) presidiu a sessão e não votou
Sidney Leite (PSD-AM) votou não
Silas Câmara (Republicanos-AM) votou sim
Átila Lins (PP-AM) votou sim

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