Revista é criticada por capa de Oruam em aniversário da morte de Tim Lopes
Por: Cenarium
04 de junho de 2025
MANAUS (AM) – A revista britânica Dazed foi alvo de críticas nas redes sociais nos últimos dois dias, após o lançamento da edição que traz o cantor rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, como capa. O veículo, que descreveu o artista como “A estrela em ascensão do rap brasileiro”, lançou a publicação nessa segunda-feira, 2, dia que completou 23 anos do assassinato do jornalista Arcanjo Antonino ‘Tim’ Lopes do Nascimento.
Tim Lopes foi morto enquanto fazia uma reportagem investigativa em novembro 2002. O profissional da imprensa investigava sobre violência sexual contra menores de idade e tráfico de drogas em festas conhecidas como “bailes funks” no Complexo do Alemão, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.

A publicação destaca que o rapper “é uma das principais apostas do rap brasileiro” e o classifica como “anti-herói” em matéria que aborda a trajetória, críticas e as propostas conhecidas como Lei Anti-Oruam. Os Projetos de Lei (PLs) apresentados em cidades brasileiras proíbe a contratação de artistas que façam apologia ao crime organizado e ao consumo de drogas em eventos financiados ou promovidos pelo poder público.

Na imagem publicada pela revista, o rapper aparece com os cabelos tingidos de vermelho e veste um blazer escuro, sem camisa por baixo, deixando à mostra uma corrente dourada e parte das tatuagens no pescoço e no peito. Com expressão séria e o rosto inclinado para baixo, Oruam segura na altura do ombro direito uma estrutura formada por diversas câmeras fotográficas antigas.
Um dos comentários feitos nas redes sociais em tom de crítica à publicação da revista aponta para a utilização das câmeras, produzidas pelo artista Allan Weber, que coincidem com o instrumento de trabalho do jornalista assassinado. “Ele usando uma arma de máquinas fotográficas que coincidentemente era o instrumento de trabalho do Tim Lopes”, escreveu um internauta.

Outra internauta classificou como “absurda” a utilização da imagem do rapper como capa da revista e a entrevista que ele concedeu à publicação. “A barbárie virou fetiche. Aplaudem o crime como se fosse arte. É apologia ao crime virando estética internacional. Que vergonha”, escreveu um dos perfis.

Relembre o caso Tim Lopes
Em 2 de junho de 2002, Tim Lopes foi deixado na comunidade na Zona Norte do Rio de Janeiro pelo motorista do veículo em que trabalhava. O jornalista estava produzindo uma reportagem investigativa que pautava a exploração sexual de menores nos bailes da Vila Cruzeiro, comunidade que faz parte do Complexo do Alemão, região conflagrada que tinha como principal liderança Marcinho VP, pai de Oruam.
Na mesma data, ele foi descoberto, sequestrado pelos traficantes do local e levado para outra comunidade, que também pertence ao Complexo do Alemão. Um laudo emitido pelo Instituto Médico Legal (IML) na época, aponta que o profissional da imprensa foi torturado antes de ser executado. A morte foi confirmada após uma equipe de policiais, responsável pela investigação, encontrar os restos mortais do jornalista ao lado da microcâmara do veículo de comunicação para qual trabalhava.

Em 2001, ano anterior do crime, Tim havia feito uma reportagem sobre o tráfico de drogas a céu aberto nas comunidades do Rio de Janeiro. A série “Feira das Drogas” foi exibida nacionalmente em agosto do mesmo ano e ganhou o Prêmio Esso de Telejornalismo e o Prêmio Líbero Badaró.