Revolta no Grão-Pará inspira companhia do AM no festival mundial ‘Dança em Trânsito’

Espetáculo de dança moderna, a companhia do Amazonas se inspirou na lutar popular da 'cabanagem' para retratar um Brasil que o Brasil desconhece (Reprodução/Divulgação-SEC)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Corpo de Dança do Amazonas (CDA) é a única companhia de dança do Brasil e das Américas a participar do renomado festival internacional ‘Dança em Trânsito’, que acontecerá entre os dias 15 e 18 de agosto, no formato online. O evento tradicionalmente acontece entre as cidades do Rio de Janeiro (Brasil) e Paris (França). Mas, em 2020 ele acontecerá de forma virtual em caráter global.

O espetáculo montado por Mário Nascimento, em 2009, ganhou os prêmios Funarte Klauss Vianna e SESC Palco Giratório (Divulgação/ SEC)

A montagem apresentada pelo CDA, que é mantido pelo Governo do Estado via Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (SEC), será o premiado ‘Cabanagem’, um rico espetáculo de dança contemporânea criado em 2009, mas, que nunca esteve tão atual.

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“Por todo o contexto que vivemos hoje, acredito que ‘Cabanagem’ está em sintonia com a nossa realidade”, destacou Mário Nascimento, coreógrafo e diretor do CDA.

A montagem se deu após o contato do bailarino com o DJ Marcos Tubarão, ativista musical e social da cena hip hop manauara.

“Esse contato com o Tubarão foi muito enriquecedor porque ele atua com o grupo ‘Os Cabanos’ e todo o discurso social e político dos músicos e do evento em si, incide sobre a temática da montagem”, explicou.

Protagonismo

Cuiabano de nascimento e ‘artista do mundo’ por profissão, o diretor Mário Nascimento vê razões claras para o convite da direção geral do ‘Dança em Trânsito’.

“O CDA possui qualidades únicas e me arrisco a dizer que hoje é uma das mais importantes companhias de dança do Brasil. Estamos ombreados com o Ballet da Cidade de São Paulo, a São Paulo Cia de Dança, o Ballet Guaíra, o Ballet do Teatro Castro Alves e o Ballet Municipal do Rio de Janeiro”, elencou.

CDA em ação em um dos espetáculos mais icônicos da companhia amazonense de dança (Reprodução/Divulgação-SEC)

“Por toda essa bagagem, o CDA não tem que ter medo de ser grande, de assumir o papel de protagonista da arte da dança no Brasil”, exortou.

Ainda segundo o diretor, o CDA está baseado em um local privilegiado e isso chama atenção. “Estamos em dos lugares mais importantes do mundo que é a Amazônia e ainda temos um espetáculo como ‘Cabanagem’ que retrata na íntegra a vida dos povos da floresta, hoje tão ameaçados. De certa forma chamamos a atenção”, pontuou.

Novidades

Embalados pela vontade de produzir o CDA já tem espetáculo montado inclusive, durante a pandemia.

“Dia 22 de agosto vamos remontar ‘Vazantes’, um espetáculo de cinco anos, para exibição pública (meia casa) e virtual, no Teatro Amazonas”, adiantou.

Premiado e produtivo , o CDA é uma das melhores companhias de dança do Brasil (Reprodução/Divulgação-SEC)

“Já em setembro vamos estrear espetáculo novo com a Orquestra de Câmara (OCA), todo construído durante a pandemia com cada componente montando e ensaiando as coreografias em casa”, detalhou Mário.

Segundo ele, a vontade de criar não se limitou por conta da pandemia. “Usamos a tecnologia para ensaiar online e a coreografia foi composta por mim e por todo o elenco”, comemorou.

Ainda segundo o diretor, esse é o papel da arte. “Foi preciso uma pandemia para mostrar o valor da arte para aqueles que diziam que a arte não tem utilidade, pelo contrário, as pessoas recorreram à arte para não enlouquecerem nessa pandemia”, avaliou.

“Estamos na linha de frente do combate à pandemia, assim como médicos, enfermeiros e outros profissionais. Os artistas não podem recuar”, finalizou.

A Cabanagem

Com direção artística e coreografia de Mário Nascimento, a obra traz a histórica revolta popular ocorrida na província ,do Grão-Pará, entre os anos de 1835 a 1840, na qual negros, índios e mestiços combateram a elite política na região norte do Brasil, no período regencial.

A província corresponde hoje aos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia, cuja capital à época era Belém. O levante popular tinha como objetivo a independência da província e a melhoria de vida das camadas extremamente pobres da população. Liderados por Francisco Vinagre, Clemente Malcher e Eduardo Angelim, os Cabanos tomaram Belém. Contudo, as divisões enfraqueceram o movimento e não resistiram ao contra ataque das forças legalistas.

Experiente e apaixonado pela dança, o coreógrafo e criador de ‘Cabanagem’, Mário Nascimento, dirige há quase dois anos, o CDA (Reprodução/Divulgação)

Ao final, os Cabanos foram derrotados, Belém retomada a peso de forte bombardeio, com um saldo de mais de trinta mil mortos.

Apresentada pela primeira vez em 2009, “Cabanagem” ganhou dois prêmios: o Funarte Klauss Vianna de Dança para montagem de espetáculo em 2010 e, um ano depois, o grupo foi contemplado com o Projeto Palco Giratório (Sesc Nacional).

Segundo o diretor, os movimentos em cena são inspirados na literatura dos escritores amazonenses Márcio Souza e Marilene Corrêa, na busca de traduzir o espírito de resistência, luta, revolta e de preservação das culturas

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