Ribeirinhos responsáveis por 70% do manejo de pirarucu vão ampliar produção do pescado em 80 toneladas

Fortalecer os arranjos para que os povos da floresta possam viver do manejo sustentável que a Amazônia tem de sobra a oferecer (Reprodução/FAS -Bruno Kelly)

Da Redação – Revista Cenarium*

MANAUS – O pirarucu, espécie de peixe de água doce que passou anos sob sério risco de extinção, também é uma rica fonte de alimento e renda para populações ribeirinhas do Amazonas que praticam o manejo sustentável. Tendo em vista seu potencial ecológico e socioeconômico, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) recebeu em maio deste ano R$ 100 mil como doação para investir em um projeto de manejo do pirarucu, aumentando a capacidade produtiva do pescado.

A partir da aquisição de uma nova câmara fria, o potencial de armazenamento do pirarucu oriundo de áreas de manejo, no município de Fonte Boa (localizado a 678 km de Manaus), irá dobrar e passar de 40 para 80 toneladas, beneficiando cerca de 100 famílias sócias da Associação de Moradores e Usuários da RDS Mamirauá Antônio Martins (Amurmam).

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Com o auxílio e a nova infraestrutura implementada, a região de Fonte Nova, que já contava com um complexo frigorífico destinado ao manejo de lagos, tem agora duas câmaras frias, cada uma com capacidade de estocagem de 40 toneladas. O projeto tem apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema).

Destaque 

O município amazonense de Fonte Nova se destaca, pois é lá onde está localizada parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá. A reserva é responsável por mais de 70% da produção de pirarucu no Estado. Além da Mamirauá, o projeto de manejo sustentável do pirarucu também é apoiado por mais quatro Unidades de Conservação (UCs): RDS de Uacari, RDS Amanã, RDS Cujubim e RDS Piagaçu-Purus.

Além disso, a última safra, de 2019/2020, rendeu às comunidades dos setores Solimões do Meio, Maiana, Solimões de Baixo, Guedes e Panauã de Cima, da RDS Mamirauá e Cujubim, um faturamento de mais de R$ 960 mil, totalizando 2.419 peixes.

Com o uso do manejo sustentável, comunidades inteiras podem fazer uso da floresta e dos rios para ganhar o sustento com respeito à natureza (Reprodução/FAS – Bruno Kelly)

Floresta gera renda

Para alcançar tais resultados, o projeto de manejo sustentável do pirarucu atua desde 2010 por meio do programa ‘Floresta em Pé’, que incentiva esse trabalho comunitário a partir de cinco etapas: defesa e vigilância, contagem, pesca, beneficiamento, armazenamento e comercialização. Agora, o foco maior é nessa última. Para isso, quanto maior for a capacidade de armazenamento, melhor para a comercialização do pescado.

O gerente do programa ‘Floresta em Pé’, Edvaldo Corrêa, afirma que a construção do entreposto de armazenamento e congelamento de pescado tem se mostrado essencial para maximizar as vendas, ao mesmo tempo em que mantém um negócio rentável e sustentável.

“Nós começamos o projeto com 17 peixes e hoje chegamos a 2.419 pirarucus comercializados. Para isso tivemos que montar toda uma estrutura com câmaras frigoríficas para que os peixes pudessem ser armazenados e comercializados”, comentou.

Durante o período da pesca autorizada pelos órgãos ambientais, a oferta de pirarucu costuma aumentar, principalmente devido ao curto espaço de tempo que o manejador tem para realizar a pesca, alinhado com a baixa no nível de água dos lagos e rios.

Estratégias

É nesse momento que, segundo Edvaldo, precisam ser delineadas estratégias para maximizar a capacidade de armazenamento do peixe, valorizando a produção. “Você entra naquela situação clássica de oferta e demanda, ou seja, muito produto e preço baixo. Então a ideia, pensada junto com os manejadores, é de estocar bastante peixe para vender também no período da entressafra”, planejou.

As previsões não só de estocagem, mas também de vendas, são positivas. “Com essa infraestrutura nós pretendemos chegar a 120 toneladas de pirarucu comercializados na safra de 2020/2021”, estimou.

Isso porque, de acordo com ele, o maior potencial de estocagem precisa ser executado em conjunto com um aumento na quantidade de feiras. “Queremos fazer feira a partir de fevereiro, nas entressafras, para dobrar a capacidade, saindo de quatro para sete ou até oito feiras”, diz.

A Feira

A comercialização do pirarucu manejado pelas comunidades pode ser feita para hotéis e restaurantes, mas as feiras são os principais locais de venda. Como forma de suprir a alta demanda, foi criada em 2017 a Feira da FAS, que ocorre mensalmente na sede da Fundação, em Manaus.

Lá os manejadores podem lucrar mais ao comercializarem o pescado diretamente para o consumidor.Conforme pontua o gerente do programa, “o quilo do pirarucu [charuto] comercializado na Reserva não passa de R$ 5,00, mas aqui na FAS conseguimos chegar a uma média de R$ 10,00”, acentuou.

Essa estratégia de venda direta para o consumidor evita que parte do dinheiro fique para possíveis atravessadores, algo que, quando feito dessa forma, costuma desvalorizar significativamente o negócio.

Com o apoio de uma câmara frigorífica localizada na sede da FAS, que possui capacidade de estocagem de aproximadamente cinco toneladas, há também a possibilidade de oferecer suporte para o beneficiamento e a venda na Feira da FAS. No entanto, o avanço da pandemia do novo coronavírus, no início deste ano, acabou por forçar o fechamento desses eventos.

Para encontrar uma alternativa que atendesse às exigências de distanciamento social, os organizadores inovaram no formato e levaram a Feira da FAS para o mundo virtual, mantendo o ganha-pão dos pescadores e suas famílias.

A primeira edição da Feira Virtual da FAS disponibilizou aproximadamente duas toneladas do pescado, cujos preços variaram entre R$ 5,00 e R$ 22,00 o quilo, dependendo da parte do animal que era comercializada.

Seco e salgado

Outro empreendimento que merece destaque para o município de Fonte Boa, e que complementa câmaras frigoríficas, é a salgadeira. É nesse local onde ocorre o processo de beneficiamento do peixe, que consiste nas etapas de salga, secagem, defumação e aproveitamento de partes, como pele e carcaça.

Ambos os empreendimentos irão gerar uma renda significativa para os manejadores, como relata Edvaldo. “Além de comercializarmos o pirarucu fresco, também dá para comercializar em forma salgada. Em 2019 nós fechamos o ano com 15 toneladas comercializadas em forma seca-salgada”, contabilizou.

A partir dos investimentos, as 120 toneladas de peixes previstas para serem comercializadas na próxima safra deverão ser divididas em dois montantes. 60 toneladas serão comercializadas in natura nas próximas edições da Feira da FAS, em restaurantes e em hotéis de Manaus.

“As outras 60 toneladas nós vamos beneficiar na salgadeira de Fonte Boa, fazendo pirarucu salgado seco e aproveitando a pele”, conclui Edvaldo.

(*) Com informações assessoria FAS

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