Rica história de vida da feminista Gloria Steinem ganha filme com direção e elenco competentes

Vikander vive a jovem jornalista em busca de reconhecimento. (Divulgação)

Com informações da Folha de S. Paulo

MANAUS – A vida da jornalista e ativista americana Gloria Steinem é tão rica e cheia de acontecimentos tão definidores quanto reveladores de sua personalidade que a história dela não podia deixar de ser contada desde o começo. Para isso, a diretora Julie Taymor (de “Frida”, de 2002, e “Across the Universe”, de 2007, além da montagem na Broadway de “O Rei Leão”, de 1997), também coautora do roteiro de “As Vidas de Gloria”, usa quatro atrizes para interpretar sua personagem.

Alicia Vikander (vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa”, de 2015) e Julianne Moore (que venceu o mesmo troféu como melhor atriz de “Para Sempre Alice”, de 2014) encarnam a vida adulta de Steinem. Vikander vive a jovem jornalista em busca de reconhecimento, no começo da carreira, e Moore assume a personagem a partir dos 40 anos dela, já uma jornalista consagrada e uma das vozes mais importantes do ativismo feminista.

Na infância e na adolescência Steinem é vivida pelas atrizes mirins Ryan Kiera Armstrong (da série “Anne With an E”, da Netflix) e Lulu Wilson (do filme “Ouija: Origem Do Mal”, de 2016). O uso de várias intérpretes, que inclusive dialogam umas com as outras em diversas passagens, é o elemento mais forte empregado por Julie Taymor na tentativa de dar conta de uma trajetória tão complexa.

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Biografia espremida

Evita-se, assim, problemas comuns das cinebiografias, que muitas vezes espremem suas tramas, fazendo parecer que um único conflito pode resumir toda a história de uma personagem multifacetada. O uso exuberante das cores, uma de suas marcas características, dá muita vida ao longa-metragem. De uma história, aliás, que não acabou, afinal Gloria Steinem, aos 86 anos, ainda está em plena atividade.

Na última edição do TED Women, versão feminina da célebre série de palestras que aconteceu de forma virtual no final do ano passado, Steinem celebrou a eleição de Kamala Harris como vice-presidente dos Estados Unidos. “Devemos comemorar e dizer: finalmente! Mas devemos olhar para a frente, e não ser gratas por apenas um avanço. É loucura demais ter levado tanto tempo. Olhe só quantos talentos perdemos”, ela disse.

“As Vidas de Gloria” é baseado na autobiografia “Minha Vida na Estrada”, lançada por Steinem em 2015. No filme, Julie Taymor salta para frente e para trás no tempo, entre a primeira infância na cidadezinha de Toledo, no estado de Ohio, as viagens que fez pelo mundo aos 20 anos, o começo de sua carreira de jornalista e seu papel fundamental no movimento de liberação feminina nos anos de 1960 e de 1970.

Idealismo irrefreável

E, apesar de garantir a continuidade das performances, o cabelão repartido no meio, a voz serena, os óculos gigantes, cada intérprete marca sua presença com uma atuação única, ninguém imita ninguém. Julianne Moore tem o maior número de cenas e irradia tanto a sabedoria de uma mulher com uma grande experiência de vida quanto um idealismo irrefreável.

Alicia Vikander vem atrás e é quem encarna o famoso episódio de 1963, em que Steinem trabalhou como coelhinha da Playboy numa casa noturna da grife para depois escrever um longo artigo expondo os dramas e as baixarias que as moças que tinham esse emprego, que há muito não existe mais, eram obrigadas a confrontar.

O filme passa de maneira superficial por um aspecto fundamental de sua vida pessoal. Ao longo de quase toda sua existência, Steinem teve de responder porque escolhera viver solteira numa época em que era esperado das mulheres que se casassem e tivessem filhos. No entanto, no ano 2000, aos 66 anos, ela finalmente se casa num cerimônia cherokee com um tal David, de quem o roteiro não diz mais nada além de que ele também estava na casa dos 60 anos quando os dois se encontraram.

Ativista ambiental

Trata-se do empresário e ativista ambiental David Bale, pai do ator Christian Bale (de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de 2008, e “Psicopata Americano”, de 2000), com quem ela viveu até a morte dele, em 2003. Seria interessante conhecer mais desse homem que a fez mudar de posição num assunto tão crucial.

Dá para perdoar as falhas pelos acertos. O principal deles chega na metade final do longa, quando entra em cena a deputada feminista Bella Abzug, interpretada com gosto pela incrível Bette Midler. A presença da cantora e atriz Janelle Monaé, como a cofundadora da revista Ms., Dorothy Pitman Hughes, também é um ponto alto.

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