Rio Tarumã-Açu tem ‘redução progressiva da capacidade de purificação’, diz estudo da UEA
Por: Lucas Thiago
21 de agosto de 2025
MANAUS (AM) – Um relatório técnico elaborado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), por meio do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Amazonas (ProQAS/AM), divulgado no dia 18 de agosto, aponta mudanças na qualidade da água do Rio Tarumã-Açu, um afluente do Rio Negro, em Manaus (AM). A pesquisa apontou para a redução progressiva da capacidade natural de purificação, com a influência do ser humano.
A CENARIUM conversou com coordenador do ProQAS/AM e analista responsável pela pesquisa, Sergio Duvoisin Junior, cujo monitoramento alertou para a piora na qualidade da água, associada à presença de flutuantes, marinas, ocupações irregulares e condomínios. Essas estruturas contribuem para a drenagem inadequada e o descarte incorreto de resíduos, afetando a condição de rios e igarapés locais. O estudo identifica impactos relacionados ao despejo de esgoto e outras atividades humanas, especialmente na região de foz, situada na Praia Dourada.
Na capital amazonense, as bacias hidrográficas estão divididas entre Educandos, São Raimundo, Puraquequara e Tarumã. O principal contribuinte da bacia do Tarumã é o Rio Tarumã-Açu, localizado dentro do perímetro da cidade. A região concentra crescimento habitacional, serviços e infraestrutura flutuante.

Apesar de a Bacia Tarumã-Açu estar dentro dos padrões de qualidade definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o monitoramento realizado durante três anos, em parceria com a Gerência de Recursos Hídricos do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), revela uma tendência preocupante entre os 15 pontos de coleta de água analisados, com base nos nove parâmetros-chave escolhidos: pH, condutividade elétrica, coliformes termotolerantes, oxigênio dissolvido, nitrogênio amoniacal, fósforo total, demanda bioquímica de oxigênio (DBO₅), turbidez e sólidos dissolvidos totais.
Sergio Duvoisin Junior estacou que o afluente do Tarumã-Açu apresenta redução progressiva da capacidade natural de purificação, com a influência do ser humano. Apesar de uma análise isolada indicar que a bacia está em boas condições e na média do parâmetro do Conama, o monitoramento ao longo três anos revela uma tendência preocupante.

“Essa coleta e o estudo feitos nos últimos três anos, revela que a bacia tem praticamente todos os dados dentro do que o Conama preconiza. Caso algum órgão viesse hoje aqui fazer uma análise do Tarumã, as análises de qualidade de água iriam dizer que o Tarumã está em perfeito estado. Mas o nosso acompanhamento temporal, mostra que a qualidade da água está passando por mutação mesmo dentro dos parâmetros do Conama, a água está piorando, principalmente na região do Baixo Tarumã-Açu, com inicio na Praia da Lua até a Praia Dourada onde estão indicados nossos pontos de estudo de 1 ao 4“, afirmou Duvoisin, doutor em Físico-Química.
O professor da UEA enfatiza que o principal resultado do trabalho de percorrer trimestralmente todo o afluente, monitorando os 15 pontos do rio, é mostrar a necessidade de agir imediatamente para evitar que a Bacia do Tarumã-Açu se transforme em uma área tão impactada quanto as bacias dos rios São Raimundo e Educandos.

“A parte espacial também é muito importante, não adianta chegar num ponto só específico e fazer análise. O nosso objetivo, no monitoramento das bacias, é fazer a maior extensão possível da bacia. Então, no Tarumã-a-Sul, a gente tem 15 pontos de coleta, desde a sua foz até o Alto Tarumã-Açu. E, além disso, de tempos em tempos, de três em três meses é feita a análise, e com os mesmos parâmetros”, enfatizou o especialista.
Dentre os noves parâmetros avaliados no cálculo do Índice de Qualidade de Água (IQA), o pH e os coliformes termotolerantes, foram os maiores índices preocupantes durante o estudo. Os parâmetros também são os mais fáceis de entender para a população.

De acordo com Sergio, as alterações nesses pontos são uma clara evidência de degradação ambiental causada pela ação humana. “O estudo mostra que todos esses parâmetros, na parte baixa do Tarumã-Açu, estão se modificando – tanto os parâmetros naturais, como o pH, quanto os associados à presença humana, como é o caso dos coliformes. Eles estão sendo alterados gradativamente para pior”, disse o coordenador.
Potencial hidrogeniônico (pH)
O pH da água do Tarumã-Açu se manteve dentro da média estabelecida pelo Conama, mas com grandes variações nos cinco primeiros pontos da bacia, com destaque para os pontos 1 e 2, onde a alteração da escala ultrapassa 7,0. O potencial hidrogeniônico (pH) é um dos principais alertas apontados na análise. A concentração de hidrônios, ou íons hidrogênio (H⁺), refere-se à acidez ou alcalinidade da água, medida em uma escala de 0 a 14. A Resolução nº 357 do Conama estabelece que, para a proteção da vida aquática, o pH deve estar entre 6,0 e 9,0.

O pH afeta o metabolismo de várias espécies aquáticas. Essas alterações nos valores de pH também podem aumentar o efeito de substâncias químicas que são tóxicas para os organismos aquáticos, tais como os metais pesados. O pH da água pode afetar o sabor, a eficácia de tratamentos e a vida aquática. As alterações de origem do pH ficam a cargo de efluentes domésticos e industriais, que não foram, devidamente, tratados e despejados no rio de forma indevida.

Coliformes
As bactérias do grupo dos coliformes indicam a intensa presença humana no meio ambiente, sendo marcadoras de poluição por esgotos domésticos recentes. Além disso, ocorrem naturalmente no trato intestinal de animais de sangue quente.
Em pequena quantidade, não são patogênicas – ou seja, não causam doenças -, mas sua presença em grande número indica a possível existência de microrganismos patogênicos, responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica, como disenteria bacilar, febre tifoide e cólera.

Tarumã-Açu
Apesar de possuir áreas de vegetação preservada, a bacia sofre considerável pressão antrópica, evidenciada pela presença de flutuantes, marinas, do aterro sanitário municipal, ocupações irregulares e condomínios – fatores que contribuem para a drenagem inadequada e o descarte incorreto de resíduos, resultando na degradação de rios e igarapés.
O afluente é o principal curso d’água da bacia, recebendo diversos afluentes, como os igarapés do Acará, da Bolívia, Argola, Cabeça Branca, do Branquinho, do Caniço, do Gigante, do Leão, do Mariano, Matrinxã, do Panermão, do Santo Antônio, do São José, do Tiú, além do rio Tarumã-Mirim.
O Rio Tarumã-Açu é caracterizado por águas correntes de coloração marrom-escura, possuindo aproximadamente 37,612 km de extensão. Sua nascente situa-se no km 40 da BR-174 (Manaus–Boa Vista), e o curso fluvial percorre as zonas Norte e Oeste de Manaus, tendo o trecho inferior como limite ocidental da área urbana, até desaguar na margem esquerda do rio Negro. O leito é predominantemente arenoso e apresenta mata ciliar bem preservada.
Com o estudo, as ações previstas pelo Ipaam incluem a identificação de sítios e flutuantes que lançam efluentes diretamente no rio, o combate ao desmatamento e a realização de campanhas de educação ambiental junto às comunidades e aos empreendimentos instalados na região.