Rios amazônicos são principais rotas para transporte de toneladas de drogas
Rios amazônicos são por onde transitam as principais cargas de cocaína. Foto: Reprodução
Náferson Cruz – Revista Cenarium
MANAUS – O que tem em comum os rios brasileiros Japurá, Solimões, Içá e Negro, os colombianos Vaupés e Caquetá, e o peruano Javari? São por eles que transitam as principais cargas de cocaína na Amazônia sob o controle de organizações criminosas.
Atualmente, as principais rotas estão nas mãos da facção criminosa Família do Norte (FDN), considerada a terceira mais poderosa no Brasil – atrás do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Mas, o PCC vem avançando na região, se aliando a facções rivais da FDN e lançando mão até mesmo de piratas dos rios para monopolizar o trânsito de entorpecente em todo o País.
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As cidades de Tabatinga, no Brasil, Letícia, na Colômbia, e Santa Rosa do Javari, no Peru, que estão na situada Tríplice Fronteira, são os entrepostos de Cali e Medellin, na Colômbia, bases do tráfico de cocaína, chefiadas na década de 80 pelos irmãos Rodriguez Orejuela e Pablo Escobar, respectivamente.
Após passar pela fronteira, a droga desce os rios e chega a Coari e, posteriormente, a Manaus, bases de apoio para o escoamento do produto para o restante do País, Europa e África.
No final do mês de agosto, a Polícia Civil do Amazonas evidenciou parte dessa rota utilizada pelos narcotraficantes. A ação policial coordenada pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) ocorreu em Manaus e nos municípios de Manaquiri, Japurá e Barreirinha, cidades banhadas pelos rios Solimões, Japurá e Paraná do Ramos, afluente do rio Amazonas, respectivamente.
As investigações, segundo o diretor da DRCO, Rafael Allemand, iniciaram em junho, quando chegou à informação de que Gilson Mattos Rodrigues, 41 anos, conhecido como ‘RDK’, trazia quantidade significativa de drogas do município de Japurá (a 744 quilômetros de Manaus) para a capital amazonense e, posteriormente, distribuía para outros Estados do País.
O duro golpe no crime organizado causou um prejuízo de aproximadamente R$ 100 milhões com a apreensão de 6 toneladas de skunk.
Mazelas sociais
“A expansão da cultura do entorpecimento, a economia e a cultura das drogas é um fator indispensável para compreender os indicadores de violência e de criminalidade no tempo”, é o que diz o sociólogo Pontes Filho, doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Segundo o especialista, as drogas não se limitam ao aspecto químico. Yoko Ono teceu um lúcido comentário sobre o assunto: “Droga é o segundo copo de água quando o primeiro matou a sede.” De fato, tudo que excede o necessário acaba se convertendo em droga, em lixo, em luxo. Para o sociólogo, o consumismo não deixa de ser um tipo de veneno. Seus efeitos impactam todo o planeta. Mas não só o consumismo e os entorpecentes químicos agridem o meio ambiente e oferecem riscos à qualidade de vida, lançando pessoas e coletividades num processo autofágico de insegurança pública. “A cultura do entorpecimento impacta danosamente a coexistência na família, na comunidade, no ambiente de trabalho e de lazer, nas instituições, todas sofrem os efeitos das drogas e da dependência aos vícios sejam eles quais forem”, completa Pontes Filho, professor e pesquisador de história da Amazônia e direitos socioculturais na região com livros publicados sobre esses temas, dentre os quais: “Logospirataria na Amazônia”, “História do Amazonas”, “Vicio e criminalidade”.
Extensa fronteira
A fronteira do Amazonas com o Peru e a Colômbia tem uma extensão de 3.209 quilômetros. A maior parte dos 1.600 quilômetros da divisa entre o Amazonas e a Colômbia é composta por floresta fechada entrecortada por rios e igarapés que se entrelaçam durante a temporada de chuvas. Cerca de 70% das drogas que entram no Brasil pelo Amazonas utilizam o rio Solimões, por meio da Tríplice Fronteira. Um total de 245.047 pessoas habitam o território de 213.281,229 quilômetros quadrados de fronteira aberta entre Brasil, Colômbia e Peru.
O lucro com o tráfico
O lucro com o tráfico de drogas no Brasil chega a custar 4,5 bilhões de dólares. Na Europa, o montante atinge a quantia de 6,6 bilhões de dólares. Em todo o mundo, a exorbitante cifra de 320 milhões de dólares.
Em solo brasileiro, o quilo da cocaína pura chega a custar 9,8 mil dólares. A mesma quantidade quando chega à Europa sai por 104 mil dólares. Já a cocaína de segunda, já diluída, tem valor estimado em 1 mil dólares o quilo, enquanto que o quilo da pasta base de cocaína é estipulado em 1,6 mil dólares. A maconha tipo skunk na região da Tríplice Fronteira corresponde a 350 dólares o quilo, a mesma quantidade chega a custar 960 dólares em Manaus.
Os dados são das polícias Federal, Civil e Militar, Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas (SSP/AM), Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA).
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