‘Romantismo e amor em essência’, diz Wanderley Andrade após brega virar Patrimônio Histórico

Wanderley Andrade é um dos ícones do brega paraense (Reprodução/ Divulgação)
Priscilla Peixoto – Da Cenarium

MANAUS – “É um momento salutar para todos nós. O brega para mim significa amor e entretenimento”, comenta o cantor Wanderley Andrade, nesta quinta-feira, 16, em entrevista exclusiva à CENARIUM. Considerado um dos principais amantes e disseminador do ritmo brega, que agora é reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, por meio de Projeto de Lei (PL) sancionado nessa quarta-feira, 15, pelo governo estadual, no Teatro Estação Gasômetro, em Belém, com diversas apresentações musicais de artistas paraenses.

Wanderley Andrade já possui mais de 30 anos dedicados à carreira musical, declarou que o reconhecimento do ritmo é a realização de um sonho de todos aqueles que trabalham, compõem, vivem ou apenas amam o brega. Além disso, o compositor também afirma que o PL coloca o estilo musical em outro patamar, algo que pode auxiliar na valorização e disseminação do estilo no País.

“Quando a gente tem fé em Deus e tem fé na vida, as coisas acontecem. Acredito que agora, com o brega de fato reconhecido, vai ser levado um pouco mais a sério. Porque já vai ter não só um amparo do governo estadual, mas também do federal a nível disseminação, além de realizar programações populares para que o ritmo não possa cair no esquecimento e, na verdade, nem acho que vai”, declara o cantor.

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Wanderley Andrade, cantor de brega romântico do Pará (Reprodução/ Divulgação)

Ocupando espaço

Wanderley acredita que um dos fatores para que o estilo musical seja tão querido e contagiante para quem ouve, se dá por conta das letras repletas de mensagens de amor. “O brega para nós é romantismo e amor em essência. Não é essa conotação pejorativa que dão por aí. Diferente de antes, as pessoas que curtem assumem isso muito tranquilamente. Em uma música minha eu já dizia a seguinte frase: ‘Porque fingir que não gosta se no teu quarto você balança quando ouve um brega não resiste e dança’, compreendem o recado?” questiona Andrade.

Na leitura do cantor paraense, o brega sendo patrimônio, torna o caminho percorrido por todos aqueles que trilharam a carreira musical no ritmo ser valorizado. Andrade relembra a contribuição de músicos, como Reginaldo Rossi, que perpetuaram a história do ritmo até este momento de destaque.

“Lembro do Reginaldo Rossi que dominava a região de Pernambuco e me ajudou muito na minha carreira, me dando dicas. Por trás disso tudo tem todo um hall de pessoas maravilhosas que estão atuando ou que deixaram um rastro musical lindo no Brasil e particularmente aqui no Norte. Eu ao longo dos meus 57 anos pude presenciar esse momento e é maravilhoso isso”, comenta o artista.

O ritmo contagiante é dançado geralmente entre pares embalados pelas canções (Reprodução/YouTube)

Mais que aprovado

Para os fãs do ritmo paraense, a iniciativa de reconhecimento foi recebida com alegria, mas eles consideram que o momento já deveria ter ocorrido antes, devido a tamanha relevância do brega para o cenário musical, não só do Pará, mas para os demais Estados vizinhos, como o Amazonas, que também é fortemente influenciado pelo ritmo. A vendedora Valéria Leite, de 42 anos, comemora com orgulho o título. Nascida no Pará e moradora do bairro Jurunas, lugar onde o brega é ouvido em praticamente todas as residências.

“Moro em um lugar bem típico de periferia, onde o brega é escutado bem alto pelos vizinhos, não tem como não escutar. Fico feliz com este momento, mas acho que demorou, pois o brega é característico da nossa região, tem muita ligação com o Pará. É difícil até de imaginar uma pessoa paraense ou que tenha vivido aqui e afirme que nunca tenha escutado um brega”, conta Valéria.

‘A Conquista’ um dos grandes hits do cantor Wanderley Andrade (Reprodução/Yotube)

Paraense como Valéria, a psicóloga Ana Carolina Peixoto, de 33 anos, também considera que o reconhecimento foi demorado. Porém, celebrou o dia histórico e ressaltou o preconceito envolto do ritmo. “Demorou a ser reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial, uma vez que o carimbó já o tinha conquistado. Penso, inclusive, que essa demora se deu como uma espécie de preconceito ao ritmo brega, por ser consumido principalmente pelas classes menos abastadas”, pondera a psicóloga, que relembra a infância toda vez que houve canções ligadas ao movimento.

“Acho lindo o brega ser Patrimônio Imaterial e Cultural! Para mim, particularmente, o brega é nostálgico. Lembra minha infância quando ia visitar uma tia que mora no meio do Guamá (bairro do Pará). Lembra minha época de faculdade quando dançava no ‘vadião’ da Universidade Federal do Pará, me traz a sensação de ser contemplado como paraense”, finaliza Carolina.

Pabllo Vittar investiu no resgate de algumas canções do brega para o novo álbum (Reprodução/ Internet)

Brega

Recentemente, a CENARIUM publicou uma matéria sobre o resgate e a valorização do brega, que esteve em alta no País por conta de artistas como Pabllo Vittar, após o lançamento do álbum “Batidão Tropical”. Com apenas dois meses, o trabalho foi ao topo das paradas musicais. O hit do álbum “Zap Zum” aparecia entre as mais ouvidas até julho deste ano. A canção atingiu o número de 89,974 mil reproduções, alcançando a 185ª posição da parada musical do Spotify.

Além da canção Zapzum, Bang Bang e Ânsia – todas interpretadas pela ex-cantora da Companhia do Calypso, Mylla Karvalho – e Apaixonada, da Banda Batidão; bem como Ultra Som, da Banda Ravelly, também foram regravadas pela artista.

Na ocasião, em declaração para o jornal EL PAÍS sobre o novo trabalho, Pabllo afirmou que a intenção era justamente exaltar as regiões Norte e Nordeste e incentivar o consumo e valorização da cultura regional. “Esse álbum é um apogeu do Norte e Nordeste. Quero exaltar essas regiões, bater no meu peito e dizer que não é só cultura regional, é um patrimônio brasileiro. É muito louco a desvalorização do que é nosso enquanto importamos cultural”, declarou.

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