Rombo de até US$ 339 bilhões ameaça adaptação climática, alerta relatório da ONU


Por: Fred Santana

01 de novembro de 2025
Rombo de até US$ 339 bilhões ameaça adaptação climática, alerta relatório da ONU
Seca no Lago do Piranha, em Manacapuru, no Amazonas (29.set.23 - Ricardo Oliveira/Cenarium)

MANAUS (AM) – Um rombo de até US$ 339 bilhões por ano ameaça os esforços globais de adaptação climática. O alerta é do novo “Adaptation Gap Report 2025“, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), divulgado na quarta-feira, 29, e lançado informar as negociações na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém (PA).

O documento aponta uma diferença cada vez maior entre o dinheiro disponível e o que os países em desenvolvimento precisam para enfrentar os impactos do aquecimento global. O estudo analisa dados de 2019 a 2023 e projeta necessidades financeiras até 2035, revelando que os investimentos atuais estão muito abaixo do necessário.

Segundo o relatório, os custos para que as nações em desenvolvimento consigam se adaptar às mudanças climáticas devem alcançar entre US$ 310 bilhões e US$ 365 bilhões por ano, até 2035. Em contraste, o financiamento público internacional destinado à adaptação somou apenas US$ 26 bilhões em 2023. A diferença cria um rombo anual de US$ 284 a US$ 339 bilhões, uma lacuna que ameaça o cumprimento dos compromissos climáticos internacionais.

Planejamento cresce, mas dinheiro não chega

O relatório mostra avanços no planejamento das ações de adaptação: 172 países já possuem algum tipo de política ou plano nacional voltado ao tema. As iniciativas registradas incluem medidas em setores como agricultura, biodiversidade, recursos hídricos e infraestrutura.

Apesar disso, a Unep alerta que grande parte dessas ações ainda se limita a etapas preliminares, como estudos, capacitações e desenvolvimento de sistemas de informação. “Os países estão planejando, mas o dinheiro necessário para transformar planos em resultados concretos ainda não chegou”, destaca o documento.

Os autores também chamam atenção para a escassez de dados sobre resultados efetivos e impactos mensuráveis. Ou seja, mesmo onde há ações em andamento, ainda falta comprovação de que a adaptação esteja realmente fortalecendo comunidades e ecossistemas vulneráveis.

A Praça da República é um dos símbolos da cidade de Belém (PA), local onde acontecerá a COP30 (UNU/Raimundo Paccó)
Financiamento internacional estagna e dívida cresce

O Adaptation Gap Report 2025 aponta que o volume de financiamento internacional público destinado à adaptação está estagnado ou em queda, contrariando o compromisso assumido no Acordo de Glasgow, de dobrar o volume de recursos para adaptação até 2025, o que corresponderia a cerca de US$ 40 bilhões por ano.

Parte dessa retração se deve à redução da participação dos bancos multilaterais de desenvolvimento, que têm diminuído os aportes em projetos de adaptação. O relatório também alerta para a mudança na composição dos instrumentos financeiros: crescem as operações baseadas em empréstimos e dívida, inclusive não concessionais, em vez de doações e subsídios.

Essa tendência preocupa o Unep, que alerta para o risco de agravamento do endividamento dos países mais pobres e vulneráveis. “É essencial que o financiamento de adaptação não aumente o peso da dívida”, reforça o documento, defendendo maior uso de doações e instrumentos concessionais.

Setor privado não cobre a lacuna

O relatório estima que o setor privado poderia contribuir com cerca de US$ 50 bilhões por ano em investimentos para adaptação, um aumento expressivo em relação aos US$ 5 bilhões atuais. No entanto, mesmo com esse crescimento, o volume ainda estaria muito longe de cobrir o rombo global.

Além disso, a Unep alerta que o financiamento privado tende a se concentrar em países de renda média e em setores com retorno financeiro mais claro, como infraestrutura e agricultura comercial. O desafio, segundo o documento, é garantir que o dinheiro também chegue às regiões e comunidades mais vulneráveis, onde os impactos climáticos são mais severos e os retornos financeiros são incertos.

O relatório sugere que os países adotem mecanismos inovadores para mobilizar recursos sem aumentar dívidas, além de integrar a resiliência climática nas decisões do sistema financeiro global, incluindo bancos centrais, agências de crédito e investidores institucionais. “Será preciso um esforço conjunto e urgente para preencher a lacuna de financiamento e garantir uma adaptação justa e efetiva”, conclui o relatório.

Leia também: Super-ricos emitem em um dia carbono que metade da humanidade gera em um ano

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.