RR tem a menor população do País, diz IBGE; especialistas avaliam desigualdades regionais
Para especialistas, a Região Norte é a mais desigual do País (Reprodução/Internet)
Iury Lima – Da Cenarium
VILHENA (RO) – O Estado de Roraima é a unidade da Federação menos populosa, de acordo com os dados divulgados, nesta sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Roraima chegou ao total de 652.713 habitantes, fazendo parte do bolo dos cinco Estados brasileiros com menos moradores em relação ao restante do País, ambos integrantes da Região Norte.
Os números fazem parte da estimativa mais recente do instituto, com dados atualizados neste ano, que apontam o crescimento da população brasileira em 0,7% desde 2020.
Em entrevista à CENARIUM, nesta sexta-feira, 27, especialistas avaliaram que o baixo número populacional do Estado de Roraima, bem como de outros Estados do Norte brasileiro inseridos na Amazônia Legal, não reflete diretamente em condições ligadas à qualidade de vida, mas que ainda faltam políticas públicas mais integradas às necessidades da região mais desigual em saúde, política e educação.
As menores populações do Brasil estão na Amazônia
Segundo o IBGE, depois de Roraima, os Estados com menor número de habitantes, na vice-liderança, são o Amapá, que tem 877.613 moradores, e o Acre, com 906.876. Abaixo, estão Tocantins e Rondônia, respectivamente.
Os cinco Estados menos populosos
Posição
Estado
População
1º
Roraima
652.713
2º
Amapá
877.613
3°
Acre
906.876
4º
Tocantins
1.607.363
5º
Rondônia
1.815.278
Fonte: IBGE
Já o Amazonas e o Pará concentram grandes populações, com 4,2 milhões e 8,7 milhões de habitantes, respectivamente.
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Além de estarem no Norte do País, região geralmente ‘invisibilizada’, todas essas unidades da Federação também integram o território da Amazônia Legal, onde existe “uma concentração de riqueza espetacular na mão de um percentual muito pequeno da população, sendo que a grande maioria está desempregada ou com trabalhos subqualificados e com baixíssima renda”, na avaliação do sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Luiz Nascimento.
Por outro lado, para o sociólogo, “as cidades pequenas e médias podem ser muito melhor gerenciadas, pois se tem uma participação mais ativa da população na condução da cidade e uma relação mais orgânica entre o poder público e a comunidade”, fazendo uma correlação entre cidades estadunidenses, canadenses e até europeias que seguem o mesmo padrão.
“São cidades pequenas, com 17, 20, 30, 50 mil habitantes e cidades médias com 50 a 100 mil habitantes. O mesmo vale, por exemplo, vale para o Estado de São Paulo e Minas Gerais”. Por isso, ele afirma que é possível pensar em locais com baixa população e qualidade de vida. “Não há uma discrepância nisso. Agora, no caso brasileiro, você tem um País que tem uma riqueza espetacular e uma desigualdade regional ou desigualdades regionais que produzem pobreza, miséria e exclusão”, ponderou.
Faltam políticas e investimentos
Luiz Nascimento diz que a cidadania é um fator fundamental para o desenvolvimento regional. “Quando eu não me sinto pertencente àquele lugar, eu não me sinto comprometido em desenvolver aquele lugar”, declarou o especialista.
“O que as nossas elites, aqui, na Região Norte, fazem quando acabam seus mandatos ou quando perdem as eleições? O projeto da elite da Região Norte é ir embora da Região Norte. O projeto da elite de Rondônia, do Mato Grosso, do Amazonas, do Amapá, é pegar um avião e ir para Miami, para o Rio de Janeiro ou Fortaleza. Então, é muito comum ver que os prefeitos do interior do Amazonas vêm morar na capital e os governantes da Região Norte terão imóveis e casas no Sudeste ou no exterior”, avaliou.
Para ele, o processo de transformação também depende de formadores de opinião, como representantes religiosos, intelectuais e atores culturais além daqueles ligados à política. Já à população, cabe mais discernimento na hora de confiar o voto em seus candidatos, na urna eletrônica.
“Uma das formas mais importantes da superação da desigualdade e das condições sociais e políticas é que a pessoas possam fazer escolhas políticas racionais, mas aqui nós votamos mal, com relação de compadrio, em candidatos que já passaram por parlamentos e governos por duas, três quatro vezes, e a gente continua votando neles mesmo que eles não tenham oferecido uma gestão adequada e democrática”, pontuou Luiz Nascimento.
A economista e vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, diz que o grande desafio dos municípios nortistas é a infraestrutura logística. “Melhorar a comunicação entre municípios e capital pode gerar novas oportunidades de negócio e, consequentemente, de geração de renda e desenvolvimento para uma região de bioma essencial para o mundo e ignorada pelas políticas públicas”, destacou.
“Considerando a realidade dos municípios da Região Norte, onde a maioria é isolada e de acesso difícil, as políticas públicas devem ser voltadas para melhoria logística, econômica e social, proporcionando aos municípios pleno acesso à educação, saúde, segurança pública, situação que, infelizmente estamos bem longe, a começar pelo acesso à internet”, ressaltou a vice-presidente do Cofecon.
Educação é a chave
Os especialistas também concordam em dizer que a região tem potenciais que poderiam ser valorizados. “O primeiro deles, óbvio, a floresta. O mundo inteiro quer vir para a Amazônia, mas querem vir com infraestrutura, com qualidade de serviços e com preços adequados, a começar pelas passagens aéreas”, explicou o sociólogo Luiz Nascimento.
“Segundo, a possibilidade de desenvolver polos econômicos bastante importantes, sobretudo na área de biotecnologia. Outro aspecto importante é que a nossa escolaridade é muito baixa. Uma região que valoriza pouco a educação tem mais dificuldade para sair do outro lado. Mas para isso, é preciso fortalecê-la. No entanto, temos um ministro da Educação que é tudo menos comprometido com a educação”, completou.
“Em plena pandemia, muitos estudantes dos interiores da Região Norte não tiveram acesso à educação por falta de sinal compatível”, destacou, ainda, a economista Denise Kassama.
Rastros da pandemia
O último censo demográfico do IBGE aconteceu há mais de dez anos e o próximo está previsto apenas para 2022. Para Kassama, esta é uma grande lacuna que pode deixar de mensurar os impactos econômicos deixados pela pandemia da Covid-19.
“Dez anos já é um intervalo bastante significativo para se observar a população. Então, quanto mais demora para a realização do Censo, menos percepção teremos sobre os indicadores socioeconômicos”, pontuou.
“Em relação à Covid-19, vai ser mais grave ainda, pois até 2022 pode ser que a pandemia já esteja superada do ponto de vista sanitário e econômico. Então muitos dados de como a população enfrentou a situação podem deixar de serem computados, de modo a prejudicar uma análise mais precisa sobre o impacto dela”, finalizou a especialista.
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